Paraná

Entrevista

“Cobrem dos gestores públicos medidas eficazes para frear a pandemia”

Infectologista do HC defende vacinação em massa e compromisso dos governos no combate à Covid-19

Curitiba (PR) |
Brasil de Fato Paraná entrevista infectologista do Serviço de Vigilância Hospitalar do Hospital de Clínicas, Dr. Bernardo Montesanti Machado de Almeida - Arquivo pessoal

A situação da pandemia no Brasil continua crítica. Os registros semanais de mortes por Covid-19 no país deram um salto nas últimas quatro semanas. O Brasil acumula mais de 13 milhões de infectados e mais de 358 mil mortes. A média é de mais de três mil mortes por dia. Junto a essa situação, a vacinação segue em ritmo lento, com apenas 3,49% da população imunizada.

No Paraná, não é diferente. Os últimos boletins da Secretaria Estadual de Saúde apontam uma média móvel de três mil casos e 250 mortes por dia. Já sobre o número de pessoas vacinadas, 12,72% da população recebeu a primeira dose e 3,39% a segunda dose.

Para analisar a atual situação da pandemia no estado, o Brasil de Fato Paraná conversou com o médico infectologista do Serviço de Vigilância Hospitalar do Hospital de Clínicas, Dr. Bernardo Montesanti Machado de Almeida.

Segundo o médico, há um cenário que começa a demonstrar uma diminuição da contaminação comunitária no estado. Porém, ele destaca que os números podem voltar a crescer, se não houver vacinação acelerada, testagem como medida de rastreamento populacional e compromisso por parte dos gestores públicos.

Confira a entrevista:

Brasil de Fato: Qual sua avaliação do momento atual pelo qual passa o Paraná no enfrentamento ao coronavírus?

Após as medidas mais rígidas tomadas pelo Governo do Paraná, há, neste momento, indicadores que começam a demonstrar redução de casos positivos para o vírus. Os próximos indicadores, esperamos que seja no número de internamentos e o mais tardio será o de óbitos. Porém, com o relaxamento novamente das medidas, é possível que uma nova onda surja. É preciso que, sistematicamente, os governos continuem com medidas compensatórias.

O que deveria ser feito, de forma emergencial, por parte dos governos?

Estamos ainda vendo resquícios de comportamentos de dois meses atrás. Por isso, é importante, por exemplo, que os líderes locais deem exemplos, intensifiquem a comunicação e fiscalização das medidas para que ocorra conscientização e adesão por parte da população.

Um fator bastante importante e que ainda não faz parte do entendimento dos gestores é a ampliação da testagem. Teríamos que passar a fazer testes como rastreamento populacional de casos transmissores, como feito na Coréia do Sul, Austrália, Nova Zelândia, países que já estão em um momento de controle da transmissão comunitária.

De que forma a vacinação pode ajudar na queda de casos e óbitos?

O ritmo da vacinação no Brasil tem sido muito lento, então não temos como gerar expectativa de que neste ano isso fará grande diferença em relação à diminuição da transmissibilidade. Agrava ainda que, atualmente, há um aumento de casos graves entre adultos jovens, faixa etária que no Brasil ainda nem aparece no calendário de imunização. O cenário só muda com a aceleração desse processo e a vacinação em massa.

Dentro dos hospitais, quais as principais dificuldades no atendimento diário?

Em todo o pico ocorre um aumento na carga mental e emocional de quem está na linha de frente. Essa onda trouxe novos elementos, como a redução da faixa etária entre os internados como casos graves. Há esse agravante de termos que, diariamente, escolher quem deve ocupar os leitos já tão escassos. Também tem sido parte da nossa rotina a escassez de insumos, o que fez com que tivéssemos que economizar na hora de exames e outros procedimentos.

Que mensagem você, como profissional que está na linha de frente, deixaria para a população?

A primeira é que, quem puder, lance mão de tudo o que tiver condição para evitar a exposição ao vírus. A segunda é que cobrem dos gestores públicos medidas eficazes para frear a pandemia. Grande parte do sucesso em países que controlaram a pandemia foi a união entre poder público e população. Nesses países, foram garantidas condições para que as pessoas pudessem se proteger.

Edição: Lia Bianchini