Ética na medicina

Após denúncia do BdF, médicos que tentam distribuir Ivermectina serão investigados

Ministério Público vai apurar ação de grupo que pretende distribuir 20 mil compridos do remédio em Sete Lagoas (MG)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Grupo de médicos e empresários que pretendem distribuir Ivermectina à população de Sete Lagoas - Foto: Divulgação

O Ministério Público, através da 7ª Promotoria de Justiça de Sete Lagoas, no interior de Minas Gerais, instaurou um procedimento para investigar o grupo de médicos e empresários que se organizou no município para distribuir Ivermectina aos cidadãos. O caso foi denunciado pelo Brasil de Fato na última sexta-feira (23).

Em paralelo, também após a publicação da reportagem, o PSOL protocolou uma representação no MP-MG, pedindo a instauração de um inquérito para apurar a conduta dos médicos e empresários da região. “É prudente que o Ministério Público de Minas Gerais no uso de suas atribuições apure tal ocorrido com o objetivo de manter o controle de tal situação, que beira a um ensaio clínico sem base científica”, pede o partido.

::Exclusivo: diretora de faculdade de saúde cria núcleo para doar Ivermectina em MG::

Entenda o caso

A diretora-geral da Faculdade de Sete Lagoas (Facsete), a cirurgiã-dentista Dóris Camargo Martins de Andrade, organizou um grupo de médicos e empresários da cidade para doar Ivermectina para a população local, como forma de tratamento preventivo à covid-19.

O Brasil de Fato teve acesso ao relato de reunião ocorrida entre os envolvidos no dia 19 de abril, que circulou, via Whatsapp, entre os moradores de Sete Lagoas. O encontro aconteceu na região central do município, dentro de um prédio comercial que pertence à família de Doris Andrade e que até março de 2020 era alugado pela Facsete.

Durante o encontro presencial, a diretora da faculdade orientou o grupo a adquirir 20 mil comprimidos de Ivermectina para começar a atender à população de Sete Lagoas. “A princípio, será feita a profilaxia. Será doada dose para dois meses e assim evitar que as pessoas se contaminem e, se por ventura, se contaminarem, serão atendidas gratuitamente pelos médicos voluntários (sic)", explica o texto.

Ivan Fernando Martins de Andrade, diretor administrativo e acadêmico da Facsete, e filho de Dóris Andrade, confirmou o conteúdo do texto ao Brasil de Fato e disse que o encontro realmente aconteceu. O herdeiro nega, entretanto, que a faculdade tenha envolvimento com a empreitada de sua mãe.

“Esse grupo de médicos chegou a solicitar um espaço da faculdade, e eu não permiti”, explica Ivan Andrade. “Não sei como saiu essa notícia vinculando o nome da Facsete com esse projeto, que é um projeto ainda, não está em andamento. A Facsete não tem nada com esse projeto.”

Sobre a doação do medicamento à população de Sete Lagoas, o diretor da Facsete não discorda.

“Eu tomo Ivermectina para piolho e verme desde criança. Se tem efeito preventivo para a covid ou não, é um remédio que não é prejudicial para ninguém. Na minha opinião, se um médico receitar para uma família, é uma decisão da família tomar ou não.”

No dia 21 de abril, o grupo voltou a discutir a empreitada, em reunião online. O Brasil de Fato recebeu uma foto do encontro, onde aparecem nove pessoas (veja imagem acima). Entre elas, Dóris Andrade.

 

Edição: Vinícius Segalla