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Unidade e Luta a partir de baixo

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É necessário que as Igrejas cristãs e outras religiões se unam em um fórum permanente de diálogo e criatividade para deslegitimar toda opressão cometida em nome de Deus
É necessário que as Igrejas cristãs e outras religiões se unam em um fórum permanente de diálogo e criatividade para deslegitimar toda opressão cometida em nome de Deus - Foto: John Moore/ Getty Images/AFP
Quem permanece em Jesus, conforme o evangelho só pode ser amoroso e aberto a tudo o que é humano

Diante da barbárie instalada no Brasil desde o golpe de Estado que agora completou cinco anos e agravada pelo atual governo do genocídio, os partidos progressistas e movimentos populares se mobilizam para formar uma grande frente popular para barrar o projeto da morte.  Como a religião tem sido usada e instrumentalizada por este governo para apoiar o seu projeto genocida, é necessário que também as Igrejas cristãs e outras religiões se unam em um fórum permanente de diálogo e criatividade para deslegitimar toda opressão cometida em nome de Deus e testemunhar que Deus é Amor e como tal só pode amar e libertar. Nunca oprimir ou ser conivente com o crime. 

No final desta semana, ou seja, a partir da próxima sexta-feira, 14, as comunidades eclesiais de base e muitos grupos cristãos populares iniciam os nove dias que se chamam “novena do Espírito Santo” porque preparam a festa de Pentecostes, a ser celebrada no próximo domingo (23).

Durante a próxima semana, as comunidades cristãs viverão a Semana de Orações pela Unidade das Igrejas Cristãs. É uma iniciativa anual, organizada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC). 

Este organismo ecumênico tem exercido um papel profético no esforço de unir as Igrejas a serviço do projeto divino para o mundo. O CONIC tem testemunhado que não tem sentido falar de Deus e se apresentar como cristãos  e, ao mesmo tempo, ser conivente com injustiças. Desigualdades sociais, sexuais, culturais e religiosas atentam contra a vida das pessoas empobrecidas. Apregoam ódio e discriminações. Destroem a Mãe Terra e ameaçam a vida no planeta. Opõem-se ao projeto divino. 

Assim, precisamos ver esta Semana de Orações pela Unidade (SOUC) como continuidade da profética Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 sobre Diálogo como compromisso de Amor.  Tanto é assim que, neste ano, a Semana da Unidade tem como tema a palavra de Jesus: “Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos”  (Jo 15, 5- 9). 

Este apelo de Jesus nos ajuda a discernir que, infelizmente, o nome de Jesus tem servido para legitimar muita coisa ruim e iníqua, como racismo, homofobia e ódio. No Brasil, chegamos ao ponto de que um pastor que se imagina cristão afirmou que orava pela morte do ator Paulo Ricardo. O responsável pelo massacre de 28 pessoas, em sua maioria jovens e negros, é o governador do Rio de Janeiro, católico praticante e ligado ao Movimento Carismático.

Quem sabe se também não deve ter sido algum cristão que, movido por algum ódio que ele considera santo, assassinou o jovem Lindolfo Komaski, que militava no MST e não escondia a sua orientação sexual homoafetiva. Diante disso, é urgente que façamos a distinção entre os muitos Jesus que existem com sobrenomes de ídolos mortíferos e o Jesus da Gente que é só Amor e Justiça compassiva. Quem permanece em Jesus, conforme o evangelho só pode ser amoroso e aberto a tudo o que é humano. Como dizia um pai da Igreja do século II: “para quem é cristão, nada do que é humano pode ser estranho”. 

Também é preciso ligar a adesão amorosa a Jesus e o cuidado de “dar frutos”. Um modo de organizar a sociedade que aumenta desigualdade social e injustiças é contrário ao projeto divino. Para permanecer ligados a Jesus, devemos colaborar com a justiça, a paz e o cuidado com a Terra e toda a criação divina. Para realizar o desejo expresso de Jesus, o caminho da unidade cristã é necessário para as Igrejas. No entanto, é igualmente importante para toda a humanidade porque colabora com a fraternidade universal e a paz.

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal

Edição: Vanessa Gonzaga