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Vacina no Braço, Comida no Prato

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"Aceitar o chamamento solidário “Comida no Prato, Vacina no Braço”, deve nos colocar em um amplo movimento de conscientização da luta pela democracia, por direitos e pela vida"
"Aceitar o chamamento solidário “Comida no Prato, Vacina no Braço”, deve nos colocar em um amplo movimento de conscientização da luta pela democracia, por direitos e pela vida" - Foto: Quentin Delaroche
E por que Bolsonaro não faz isso, sobretudo neste momento tão crucial da pandemia do coronavírus?

Começo meu artigo deste mês, o terceiro, destacando por título a campanha “Vacina no Braço, Comida no Prato”.

Vejo nesta chamada da campanha um conteúdo extremamente estratégico e afirmador de direitos. Não é apenas uma palavra de ordem, por mais mobilizadora que seja e ela o é! O chamamento é, de fato, um convite à reflexão sobre o direito à vida, vida plena de comida, vida plena de saúde!

O direito à alimentação saudável se tornou política pública no primeiro governo Lula com o Programa Fome Zero, que trouxe à tona e a vista do mundo as barrigas que “roncavam de fome” no silêncio dos barracos, das palafitas, das ruas. O programa tornou realidade o que o então presidente Lula dissera em seu discurso de posse: todo brasileiro e toda brasileira terá o direito de comer ao menos três vezes por dia.

Conjugado com outras ações de distribuição de renda, o programa tirou milhões da linha da pobreza e contribuiu decisivamente para o Brasil sair do Mapa da Fome. Estava dada a dimensão do direito ao ato de comer, para alguns por puro diletantismo gastronômico, para outros resultado de árdua luta diária pela sobrevivência.

Hoje, com a chegada de Bolsonaro ao poder, o fantasma da fome, a cada dia se torna mais real. Ter uma alimentação saudável como direito assegurado pelo poder público, passou a ser reivindicação, busca incessante e também um grande movimento de solidariedade e de humanidade, para preencher as lacunas deixadas por um governo irresponsável e genocida.

A crise política e econômica, geradora de desemprego, de carestia e de fome, é agravada pela pandemia da covid-19 que revela da maneira mais cruel, a falta de respeito com a saúde e com a vida do povo brasileiro por parte do Governo Federal.

Encontram-se, nesses descaminhos, dois direitos básicos negados e expressão de vida e cidadania: alimentação e saúde, comida e vacina.

Parece-nos tão óbvio assegurá-los, depois que comprovamos ser possível! Assim como Fome Zero, o Brasil foi exemplo no PNI – Plano Nacional de Imunização – em relação a várias vacinas, sobretudo a H1N1, que se tornou rotina na vida de brasileiros e brasileiras.

E hoje o governo Bolsonaro, além de negar a ciência, no enfrentamento à pandemia, pratica toda sorte de incompetência, descompromisso e má fé na compra de insumos para fabricação de vacinas, rejeitando ofertas que poderiam ter salvado milhares de vidas.

Compromete a diplomacia com acusações cheias de conteúdo ideológico contra países fornecedores de insumos, como a China, um dos maiores parceiros comerciais do Brasil. Desdenha da dor e do luto das famílias destroçadas por perdas, insistindo em negar tudo o que a ciência comprova como eficaz no combate a pandemia: segurança sanitária, uso de máscaras, afastamento social, vacina.

A vida que vem da comida no prato e da vacina no braço é desconsiderada em sua dimensão de direito de todos e de todas e dever do Estado.

Cuidar das pessoas, da sua dignidade, da sua integridade, da sua plenitude como ser humano é tarefa primeira de um governante comprometido com o seu povo.

E por que Bolsonaro não faz isso, sobretudo neste momento tão crucial da pandemia do coronavírus?

Primeiro, porque não tem empatia nem compaixão para com o povo. E segundo, porque não respeita o regime democrático que o elegeu.

Não cuidar da saúde e da alimentação dos que dependem da presença do Estado e precisam de políticas públicas em suas vidas faz parte de um projeto de exclusão social, de predomínio das leis do mercado ultra-liberal, da concentração de riqueza nas mãos de poucos, da privatização de bens públicos e estratégicos à soberania nacional.

Em tempos tão obscuros, onde faltam comida e vacina, em consequência deste projeto, nossa atenção deve se voltar também, para contextualizar a defesa da liberdade e da democracia como referências de suporte à luta e à resistência.

Aceitar o chamamento solidário “Vacina no Braço, Comida no Prato”, deve nos colocar em um amplo movimento de conscientização da luta pela democracia, por direitos e pela vida.

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal

Edição: Vanessa Gonzaga