80 por cento

Endividamento das famílias alcança maior patamar dos últimos 10 anos em Pernambuco

Quase metade dos endividados avaliam que as dívidas devem comprometer seu orçamento por 6 meses ou mais, diz Fecomércio

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Mais de 80% das famílias pernambucanas estão endividadas, aponta pesquisa - Leo Malafaia / AFP

No mês de maio deste ano 80,1% das famílias residentes no estado de Pernambuco se declararam endividadas. É o que aponta a Pesquisa Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) e pela Fecomércio de Pernambuco.

Esse é o maior patamar de endividamento dos últimos 10 anos no estado. O endividamento não ultrapassava os 80% desde julho de 2011, quando atingiu 81,3% das famílias.

:: Pesquisa mostra que 79,2% das famílias pernambucanas estão endividadas ::

Entre as famílias pernambucanas endividadas, 40% (ou 31,9% de todas as famílias pernambucanas) estão com contas em atraso e 16,5% das endividadas (13,2% do total) declaram não ter condições de quitar as dívidas.

A Confederação Nacional do Comércio considera o aumento do endividamento um reflexo dos cortes dos beneficiários do auxílio emergencial, assim como da redução dos valores pagos.

O benefício, segundo a CNC, “foi essencial para os resultados em 2020”. Para 2021 a confederação prevê que o auxílio terá um efeito bem menor. “Só para o varejo, a entidade estima que o impacto do auxílio emergencial em 2021 será oito vezes menor que o observado no ano anterior”, diz a CNC.

:: Exclusão digital prejudicou acesso de mais pobres ao auxílio emergencial ::

Em 2011 esse patamar dos 80% foi superado três vezes e em 2010 duas vezes. Mas ao comparar o cenário atual com o de dez anos atrás, a CNC avalia que “a conjuntura econômica era bem diferente da atual”.

E explica: “naqueles anos, a expansão de políticas de crédito e de investimento, como medidas de mitigação da crise financeira internacional, fomentava o aquecimento do mercado interno, favorecia a geração de emprego e renda e impulsionava o consumo das famílias”. Ou seja, a ausência de medidas econômicas por parte do governo Bolsonaro torna o cenário atual mais complicado.

:: Combate à desigualdade passa por retomada de políticas públicas, defende especialista ::

Outra característica da crise de endividamento atual é que ela é resultado dos fechamentos de postos de trabalho – resultado da pandemia da covid-19 e da falta de ações governamentais para conter as consequências – e do aumento dos preços de alimentos e da energia elétrica, afetando principalmente as famílias cuja faixa de renda é mais baixa.

Perfil do endividado

A pesquisa aponta ainda que, entre as famílias endividadas, 24,2% consideram que suas dívidas devem se prolongar por mais de um ano; 23,1% respondem que as dívidas atuais tendem a comprometer a renda familiar por um período entre 6 meses e um ano; 41,4% têm dívidas que comprometem de 3 a 6 meses de suas rendas; 5,6% respondem que as dívidas afetarão orçamento por até 3 meses; e 5,6% bão souberam responder.

O tempo médio de comprometimento da renda com as dívidas, ficou em 7,3 meses, ou seja, um prazo que se estende até o final de 2021.

:: Sakamoto: Sem teto nem comida, mães protestam contra Bolsonaro por corte do auxílio ::

Sobre o tamanho do impacto de suas dívidas na renda familiar mensal, 55,4% das famílias endividadas afirmam ter comprometidos entre 11% e 50% da sua renda com dívidas. O levantamento da CNC estima que a parcela média da renda familiar comprometida, em maio, foi de 28,6%.

Ou seja, quase um terço da renda das famílias pernambucanas. Esse valor, entretanto, é menor que o registrado pelo Brasil, segundo a mesma pesquisa, o qual alcançou 30,1% em maio. Sobre os tipos de dívidas, 96,7% das famílias mencionam compras no cartão de crédito; outros 26,6% mencionam dívidas no carnê (um aumento de 3,8 pontos em apenas um mês).

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vinícius Sobreira