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Coluna

O caso Lázaro e a letalidade racista da polícia brasileira

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Cães, helicópteros, drones e mais de 200 policiais se empenharam por 20 dias para capturar Lázaro Barbosa, mas a polícia não conseguiu prendê-lo com vida - Reprodução
A influência negativa da mídia em casos de repercussão já foi objeto de crítica pela sociedade

Após 20 dias de buscas, a operação com cerca de 300 soldados da Polícia Militar e Polícia Federal resultou na morte de Lázaro Barbosa na segunda-feira (28). Lázaro foi atingido em um suposto confronto com a polícia de Goiás. De acordo com o governador do estado do Goiás, Lázaro possuía informações sobre a polícia, razão pela qual conseguiu foragir e escapar, tantas vezes, antes de ser capturado. Que Lázaro Barbosa teve acesso ao passo a passo da investigação é um fato, principalmente porque o Brasil conta com uma mídia a qual, mais interessada em ganhar espectador, é incapaz de mediar sua própria e necessária participação na publicização dos fatos. 

A influência negativa da mídia em casos de repercussão já foi objeto de crítica pela sociedade em outras oportunidades, como por exemplo no caso de Eloá Cristina Pimentel, assassinada por Lindemberg Alves, seu ex-namorado, durante a cobertura da mídia. Em ambos os casos, no caso de Lindemberg e no caso de Lázaro, a mídia serviu para contaminar as investigações, dando aos suspeitos mais informações do que deveriam ter, interferindo, assim, nas investigações e negociações. No entanto, culpar única e exclusivamente a mídia pelo fracasso em ambos os casos, é insuficiente e injusto. Tanto no caso de Lindemberg, que resultou no homicídio de Eloá, quanto no caso de Lázaro, assassinado na última segunda-feira, a principal responsável pelo resultado morte é justamente a Polícia.

A letalidade da polícia no Brasil não pode ser vista como um mero despreparo e sim como uma forma estrutural de se realizar a segurança pública no Brasil. A condução do caso pela força-tarefa responsável pela investigação, que chegou inclusive a invadir terreiros de candomblé, demonstra o aspecto racista da polícia brasileira, também pouco ou nada comprometida com os princípios democráticos básicos. Foram quase 300 agentes da segurança pública perseguindo um único homem e, mesmo assim, a morte foi necessária. A captura de Lázaro certamente representaria mais os anseios da própria sociedade, que poderia acompanhar o desenvolvimento do caso na justiça, ouvir a versão dos fatos do suspeito e, até mesmo, conhecer o rosto e o nome de outros possíveis culpados.

É uma questão urgente que tanto a mídia, quanto a polícia brasileira sejam conscientizadas de que o exemplo das suas atuações em casos de grande repercussão é fundamental para a solução e sucesso da investigação. Enquanto tivermos uma mídia comprometida com o lucro e com os likes e uma polícia comprometida com a morte, vamos continuar amargando os resultados da incompetência, do despreparo e do racismo.
 

Edição: Monyse Ravena