Pernambuco

Coluna

Julho das pretas

Imagem de perfil do Colunistaesd
Espaço de mulheres pretas nos debates políticos e sociais no Brasil se ampliou, mas enfrenta desafios históricos. - Silvio Avila/AFP©
É hora de hora continuar marchando contra o racismo, o patriarcado e todas as formas de opressão

Julho é preto. Melhor dizendo, é das pretas. Mês de dar visibilidade à luta dessas mulheres por igualdade e cidadania plena. Afinal, toda opressão que atinge as brancas, afeta ainda mais duramente as mulheres negras. Desde 1992, quando foi realizado o 1º Encontro de Mulheres Negras, Latinoamericanas e Caribenhas, ficou definido que este mês seria de ativismo, de expor a luta incessante e sem hora para findar dessas mulheres porque grandes são os desafios a vencer.

Em uma sociedade estruturalmente racista e machista como a nossa, ser mulher negra é lutar, diariamente, por direitos básicos, inclusive o de continuar viva. No Brasil, uma negra tem 64% mais chances de ser assassinada que uma mulher branca. Se a cada sete horas uma mulher é morta no país, três em cada quatro delas são negras. Quer dizer, o feminicídio tem cor, assim como também tem classe: quanto mais pobre, mais vulnerável.

E a vulnerabilidade dessas mulheres ficou ainda mais escancarada com o advento da pandemia.  Como o vírus afeta, primordialmente, os que estão mais expostos, não é difícil concluir quem são suas principais vítimas. Foram as condições sociais e ambientais, e não as genéticas ou biológicas, que transformaram as pessoas negras nas vítimas preferenciais da covid.  As mortes de pessoas negras somavam 74.949 e as de brancas, 62.993, segundo o Ministério da Saúde, até 12 de dezembro do ano passado.

Até mesmo a atividade profissional contribuiu para aumentar o risco. Como há uma maioria de mulheres negras na base do sistema de saúde, atuando como técnicas de enfermagem ou agentes de saúde, elas ficaram mais expostas ao vírus. Na saúde como na política, as negras sempre foram excluídas das posições de poder. A elas são reservados apenas os lugares de subalternidade, onde sobram abusos e faltam direitos.

É verdade que as mulheres negras vêm aumentando sua participação na política. Nas eleições de 2016, 4,1% dos candidatos às prefeituras eram mulheres negras (691). Esse quantitativo subiu 0,4% em 2020, mas ainda é muito baixo se considerarmos que elas formam o maior grupo demográfico do país: 28% da população. 

Portanto, é hora de hora continuar marchando contra o racismo, o patriarcado e todas as formas de opressão. Inspiradas no exemplo da líder quilombola Tereza de Benguela, as mulheres negras continuarão lutando contra as desigualdades e abrindo seu lugar no mundo, como fez a jovem ginasta Rebeca Andrade, que encantou o mundo com seu “baile de favela” e agora é medalhista da ginástica artística olímpica. Rebeca reafirma que lugar de mulher negra é onde ela quiser e cada um e cada um e cada uma de nós deve somar forças nessa luta por políticas mais inclusivas, capazes de nos conduzir a uma sociedade livre de racismo.

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal

Edição: Vanessa Gonzaga