Pernambuco

Coluna

Íyá Dúdú, (r)existência e cinema em Peixinhos

Imagem de perfil do Colunistaesd
Íyá Dúdú narra a luta diária de Elaine, uma mulher negra e moradora de Peixinhos, bairro que se localiza na divisa entre Recife e Olinda - Rennan Peixe / Direção de Fotografia de Íyá Dúdú
É desemprego, é insegurança alimentar e essa é a história de muitas outras mulheres

O cinema cumpre um papel social de levar informação, entretenimento e de provocar boas conversas. Na coluna do MTD dessa semana vamos apresentar e convidar todas as pessoas que ainda não assistiram, para assistir o curta-metragem Íyá DúDú, dirigido e roteirizado pela cineasta Renata Mesquita que também é antropóloga e dançarina. O filme estreou dia 30 de junho no Youtube  e tem como diretor de fotografia Rennan Peixe, atriz Elaine França e Ellen Ruanna. Íyá Dúdú foi uma das propostas contempladas, ano passado, na premiação de Salvaguarda e Registro Audiovisual de Saberes Tradicionais e Cultura Popular em Pernambuco, com recursos da Lei Aldir Blanc.

Com o título em ioruba, pertencente ao grupo etno-linguístico nagô com bastante representatividade na Nigéria, Íyá Dúdú narra a luta diária de Elaine, uma mulher negra e moradora de Peixinhos, bairro que se localiza na divisa entre Recife e Olinda. No enredo vemos a trama de uma mãe preta, no contexto da pandemia de covid-19 que agravou ainda mais as desigualdades raciais e de gênero, de modo que sem muita perspectiva de emprego busca forças dentro da sua religiosidade de matriz africana, em especial, Iansã “senhora das tempestades”, para manter o equilíbrio e criar caminhos para viver com sua filha.

Elaine França é assistente social, atriz, militante do MTD em Peixinhos e para ela Íyá Dúdú é um filme sobre sua história. Ter sua história contada através do olhar de Renata Mesquita, tem um destaque bem especial, pois ela conhece bem sua realidade e a partir dessa construção em equipe surgiu esse belíssimo trabalho, tão forte, que fortalece e da voz, principalmente diante desse governo genocida, que não oferece as condições de enfrentamento a pandemia. É desemprego, é insegurança alimentar e essa é a história de muitas outras mulheres. 

Nós acreditamos que o cinema é sim um instrumento de transformação, principalmente quando a população periférica tem participação ativa em sua dinâmica de idealização, captação e realização. Os reflexos dessa participação ativa podem ser percebidos em diversos aspectos, por exemplo: na autonomia, geração de renda, educação e em particular, na consolidação de múltiplas narrativas sobre as populações periféricas, que em geral são abordadas pelos noticiários de TV a partir de linguagens que sobressaem os aspectos da violência, desumanização e criminalização.

Ou seja, é o reflexo da vida, é a arte de comunicar, de denunciar os problemas e evidenciar as potencialidades vividas no cotidiano. Íyá Dúdú já está inserido na programação do Cineclube Peixinhos, um CineClube Itinerante que busca fortalecer as ações realizadas em rede e valorizar a vida e as relações de apoio, solidariedade e confiança no bairro. Uma possibilidade de enxergar o mundo com outros olhos, então se você ainda não assistiu, não perde tempo, confere lá e depois compartilha com a gente o que achou.

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal

Edição: Vanessa Gonzaga