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Coluna

Mudanças climáticas e nossas alternativas

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O desequilíbrio climático provocará grandes inundações e secas, furacões e terremotos, em frequência e com intensidade, como nunca tinham ocorrido - Wilson Dias/Agência Brasil
Temos de assumir a sustentabilidade da Terra e da vida como prioridade

Na segunda-feira, 09 de agosto, a ONU publicou o relatório do grupo de peritos formado por 234 cientistas internacionais sobre a realidade de aquecimento do planeta Terra. O documento afirma que o estado de destruição da natureza atingiu um ponto mais grave do que era esperado, muitas espécies vivas desaparecem para sempre e o desequilíbrio climático provocará grandes inundações e secas, furacões e terremotos, em frequência e com intensidade, como nunca tinham ocorrido. As consequências serão trágicas para as populações, principalmente as mais pobres e vulneráveis. 

Pela primeira vez, os cientistas asseguram que tal situação é provocada, em sua maior parte, pela ação humana e pelo modelo de desenvolvimento predatório que prevalece em todos os continentes. Desde alguns anos, especialistas da ONU começaram a falar em um dia da sobrecarga da Terra. Esta data marca o momento no qual o nosso consumo anual de serviços e recursos naturais ultrapassa o que a Terra pode regenerar naquele mesmo ano. Conforme os estudos, neste ano de 2021, essa data já se deu no dia 29 de julho. Infelizmente, a imprensa não divulga suficientemente o que esta data significa e assim não ajuda na consciência da responsabilidade que a sociedade tem nessa sobrecarga da Terra. A coisa certa para todos nós é que tudo isso terá imensa e imediata repercussão no Brasil (Cf. O Estado de São Paulo, 3ª feira, 10 de agosto de 2021). 

Os governos dos países ricos aceitam tomar algumas medidas que possam aliviar ou, ao menos, adiar um pouco a crise, contanto que essas medidas não ponham em risco o lucro das empresas e a ordem capitalista da qual esses governos são guardiães. Ora, a humanidade nunca poderá deter as mudanças climáticas que ameaçam o planeta se não for capaz de superar a economia capitalista, que é essencialmente depredadora e iníqua. A ecologia ambiental depende da ecologia social. Leonardo Boff já tinha insistido que é necessário ouvir o grito da Terra articulado com o grito dos pobres. 

Cada vez mais é comum afirmar que, se entendemos o universo como o conjunto de redes de relação entre todos os seres vivos, é preciso que nós, humanos, nos integremos nisso que a Carta da Terra chama de “comunidade da vida”. Temos de assumir a sustentabilidade da Terra e da vida como a prioridade que deve reger toda a organização social, econômica e cultural da humanidade e da nossa relação com a natureza. Precisamos reencontrar formas de proteger a integridade e a vitalidade da Terra. A saúde da Terra é a nossa saúde e salvação. Podemos aprender isso com as culturas dos povos indígenas e todas as populações originárias.

Na América Latina, as comunidades indígenas, organizações camponesas e grupos de base sabem: a salvação terá de vir de baixo e das bases. Por isso, organizações indígenas e de lavradores se mobilizam em sucessivos encontros para salvar a mãe Terra. Tomam decisões justas e acertadas para lutar contra a lógica desumana e antiecológica do agronegócio, assim como contra a difusão das sementes transgênicas e agrotóxicos. É urgente denunciar os males causados pelas mineradoras que, em várias regiões do Brasil e de outros países do continente, oprimem as comunidades locais e destroem rios, florestas e toda a natureza.  

Para quem vive uma busca espiritual, o cuidado amoroso com a Mãe Terra, com a água e com todo ser vivo fazem parte do testemunho urgente e fundamental de que existe em nós e no universo uma energia amorosa, pela qual, apesar de todas as agressões e crimes cometidos contra o planeta, ainda podemos salvá-lo.

 

Edição: Vanessa Gonzaga