Minas Gerais

SOLIDARIEDADE

Artigo | “Cozinheiras com amor”: ajudando e trabalhando com a população com fome e frio

Projeto atua na periferia de Ribeirão das Neves

Ribeirão das Neves (MG) |
A cozinha solidária é uma possibilidade de garantir, pelo menos, uma refeição para os assistidos - Jordana Rodrigues

Poucos dias antes da eleição, Mano Brown subiu ao palco de um ato no Rio de Janeiro e fez um desabafo necessário, mas que muita gente não entendeu (ou não quis entender). Ao criticar o clima de festa do comício, Brown apontou: “tem uma multidão que precisa ser conquistada ou vamos cair no precipício. […] Deixou de entender o povão já era. Quem errou vai pagar. Tem que entender o que o povo quer. Se não sabe, volta pra base e vai procurar entender”. A fala de Mano Brown foi dura e pode provocar incômodo em algumas pessoas.

Projeto entrega cestas básicas, roupas, mantas e refeições

No entanto, é apenas com as construções na base que podemos pensar na construção do poder popular. Há quem acredite que essa é uma tarefa impossível ou ingrata. Mas a verdade é que são vários os exemplos bem-sucedidos que provam que é sim possível e necessário construir projetos que fortaleçam um projeto popular nas periferias. 

Um exemplo é o projeto Cozinheiras com Amor, que dialoga com pessoas periféricas de um dos municípios mais empobrecidos da Região Metropolitana de Belo Horizonte: Ribeirão das Neves. 

Solidariedade

A cidade é conhecida por ter o maior complexo carcerário do Brasil, bem como pela criminalidade altíssima e por uma alta taxa de violência contra a mulher. Ribeirão das Neves é, também, uma cidade ameaçada pela falta de segurança alimentar e nutricional. 

O projeto “Cozinheiras com amor” entrega cestas básicas, roupas, mantas e serve diariamente mais de 200 marmitex, para regiões periféricas, pessoas em vulnerabilidade social. As pessoas que participam desse projeto recebem panfletos que abordam questões referentes aos direitos básicos, acesso ao SUS e informações sobre diversas políticas públicas voltadas para pessoas em situação de risco e vulnerabilidade.

Uma das coordenadoras é Hercilia Alves. “Nós também temos assistido em Belo Horizonte. Fazemos as ações na regional Oeste começando ali no bota fora da Teresa Cristina até lá embaixo no Madre Gertrudes. Aí a gente vai para noroeste que é no Padre Eustáquio ou Bonfim. E tem uma equipe que faz Contagem e Barreiro e a equipe que faz Ribeirão das Neves”.

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Com a crise econômica e social do país, que foi intensificada pela pandemia e principalmente com a política de morte adotada por Bolsonaro, projetos que atuam junto das comunidades e das populações carentes são um exemplo de solidariedade e de trabalho militante. 

O desemprego fez com que cada vez mais pessoas voltassem a sentir fome, como aponta o último mapa da fome.

Iniciativas como a de Hercilia amenizam os obstáculos, que populações em situação de vulnerabilidade social enfrentam. 

“Nesses seis anos de trabalho, nós já ressocializamos mais de 40 pessoas em situação de rua. Um dos exemplos foi um assistido nosso do viaduto da Silva Lobo que entrou em situação de rua devido a uma depressão muito forte, aí entrou para o mundo das drogas a cachaça e tal muita dependência química. A família não teve condições de assisti-lo. Ele ficou quatro anos em situação de rua até nós conhecermos ele e começarmos todo o processo de ressocialização”.

Trabalho de base

A esquerda sempre esteve com o povo, protagonizou lutas importantes, melhorias substanciais nas condições de vida da classe trabalhadora, mas se encontra perplexa frente ao avanço da extrema direita. É preciso responder às novas demandas da luta popular. Voltar para a base é retornar um caminho que não podemos abandonar.

Projetos como “Cozinheiras com amor” sobrevivem de doações e voluntários, que atendem centenas de pessoas diariamente, dando a elas uma estrutura que lhes é negada pelo poder público. Mas muitos têm se organizado em seus bairros, periferias, comunidades e municípios. 

Hercilia nos traz uma outra perspectiva sobre trabalho de base, voltando o olhar para demandas primordiais e cotidianas, para a população que hoje morre de fome, covid e de frio. 

Ajuda

A cozinha solidária é uma possibilidade de garantir, pelo menos, uma refeição para os assistidos e compreende a importância de ressocializar essas pessoas. Iniciativas como esta precisam sobreviver, isso significa, doações e voluntários O que mais se precisa é de produtos de higiene pessoal, limpeza, alimentos não perecíveis, fraldas infantil e geriátrica, lenços umedecidos, absorventes, leite, frutas, embalagens descartáveis tipo marmitex e agasalhos, o contato é  31 988317215. 

Laura Sabino é estudante de História na UFMG, militante e comunicadora popular e Jordana Rodrigues é designer ativista, feminista marxista e militante.

 

Edição: Elis Almeida