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Indígenas

Movimentos indígenas (re)ocupam floresta, após anos de abandono

Região que pertenceu a indígenas e foi rica em araucárias, hoje está tomada de eucaliptos

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Floresta Estadual no Paraná foi reocupada por lideranças no dia internacional dos Povos Indígenas. - Giorgia Prates

Criada em 1988 como unidade de preservação ambiental, a Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara (PR), teve seu espaço ocupado por lideranças indígenas em 9 de agosto, data que marca o dia internacional dos Povos Indígenas. A região já foi palco de disputas de terra no passado, envolvendo exploração seletiva da floresta com araucária e corte raso para atividades agropecuárias, e já chegou a pertencer à extinta Rede Ferroviária Federal, estatal de transporte ferroviário. 

Nos últimos anos, a floresta tem sofrido com o abandono do poder público, e agora, indígenas reivindicam novamente o espaço, de onde, no passado, foram expulsos, no século XIX, por Dom João VI, para garantir livre acesso ao Porto de Paranaguá, levando as comunidades a se espalharem pelo interior. 

A floresta fica na região metropolitana de Curitiba, tendo extensão de aproximadamente 225 quilômetros quadrados. O parque vem sendo degradado há anos por conta da agropecuária e do reflorestamentos com eucalipto, planta que pode levar ao empobrecimento do solo. 

Para um dos líderes da ocupação, Eloy Jacyntho, a retomada do parque é o retorno a um espaço sagrado para os povos originários, e que será recuperado. ''Essa mata está tomada de eucalipto e abandonada há vários anos, e esse é um território indígena, um lugar sagrado. Por isso estamos aqui. Temos a intenção de ficar e recuperar a área'', destaca. 

Há anos as etnias Kaingang e Guarani reivindicam a área, hoje, sob responsabilidade do Instituto Ambiental do Paraná. O Cacique Kretã Kaingang destaca que a última vez em que o estado recebeu representantes indígenas foi no governo de Roberto Requião. “Desde 2009 a gente luta e reivindica um espaço dentro de Piraquara, porque no local existem três sítios arqueológicos do povo Kaingang, inclusive há casas subterrâneas na região. A nossa luta é para mantermos essas estruturas, que marcaram a passagem dos Kaingang nessa capital”, conta. 

Diz ainda que o governo do Paraná tem interesse na privatização da área, que sofre com queimadas e falta de regularização fundiária. ''Essa é uma área do estado abandonada pelos governos passados. O atual governo, Ratinho Jr, não tem nenhum proposito a não ser a privatização da área para o turismo, visando proveito eleitoral e financeiro. Essa região não tem regularização, ocupamos e queremos recuperar essa área com reflorestamento, com plantas nativas'', diz Kretã. 

O governo do Paraná ainda não se pronunciou se tem intenção de privatizar a área, mas poderá seguir o exemplo do governo federal. Em 2020, Jair Bolsonaro colocou três florestas nacionais num programa de privatizações, com o suposto objetivo de ''desenvolvimento sustentável das áreas'', contudo, com liberação da exploração de madeira. As florestas de Humaitá, Iquiri e Castanho, todas no Amazonas, entraram no PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) que trata de concessões e privatizações. 

Isabel Tukano, do povo Tukano, que participa da retomada, ainda denúncia que faltam políticas públicas para os povos originários. ''Nesse dia 9, a verdade é que não temos nada o que comemorar, a melhor maneira que buscamos lembrar desta data é recuperar nosso espaço, para que não retrocedam nossos direitos. Os territórios indígenas estão sendo invadidos sem nos ouvirem. Essa ocupação celebra a vida, é a retomada de uma área histórica para nós''. 

A reportagem do Brasil de Fato PR entrou em contato com o IAP e o governo do Paraná para saber mais informações sobre a área, mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta. 

Edição: Frédi Vasconcelos