Pernambuco

Coluna

Sobre biquínis e fuzis

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  Desde 2019, o presidente já editou 34 Medidas Provisórias na tentativa de desmontar o Estatuto do Desarmamento - Divulgação/Pixabay
No Brasil de Bolsonaro, mostrar o corpo é crime. Portar um fuzil, não

Em maio deste ano, uma servidora pública foi abordada e repreendida por um segurança do Pontão do Lago Sul, parque às margens do Lago Paranoá, em Brasília, porque estava fazendo atividades físicas usando short e a parte superior do biquíni. Um homem que também se exercitava e estava nu da cintura para cima não foi incomodado. No Brasil de Bolsonaro, mostrar o corpo é crime. Portar um fuzil, não.

Para Bolsonaro, é “idiota” quem afirma que é preciso comprar feijão, não fuzil. E pior é que a apologia às armas não fica somente no discurso.  Desde 2019, o presidente já editou 34 Medidas Provisórias na tentativa de desmontar o Estatuto do Desarmamento. O resultado desse despautério é que o registro de armas de fogo cresceu 42% de lá para cá e os crimes de proximidade, cometidos por cidadãos sem antecedentes criminais, começam a aumentar.  

No mesmo mês de maio em que a mulher de biquíni foi advertida, um homem matou duas pessoas durante uma discussão em um restaurante, na cidade gaúcha de Jaboticaba (RS). Ele era ligado a um clube de tiro e portava uma arma regularizada. Aliás, o número desses clubes no país dobrou nos últimos quatro anos. Dos 155 registrados em 2017, hoje existem 291. O problema é que, sem fiscalização efetiva, os sócios portam armas carregadas nas ruas, o que a lei não permite, e acabam se envolvendo em crimes, direta ou indiretamente.

No Brasil de Bolsonaro, a carnificina que vitima principalmente jovens e mulheres negras e a violência que cresce assustadoramente entre os indígenas parece não ter impacto sobre boa parte da população. Nessa onda de obscurantismo medieval, falsos moralistas estão preocupados apenas em manter controle sobre as liberdades e garantias individuais. Por isso, não se vê protestos contra o abandono de crianças e a morte de LGBTs, mas testemunha-se, em meio a uma pandemia, um aglomerado de pessoas na porta de uma maternidade para impedir que uma menina de 10 anos, estuprada sucessivas vezes pelo tio, tenha direito ao aborto legal.

Tampouco os defensores da moral e dos bons costumes se indignam com o aumento da fome, que ronda mais da metade das famílias do país, e da destruição do meio ambiente, que coloca em xeque a sobrevivência da nossa espécie. Para esse governo ultraconservador, autoritário e violento e seus apoiadores, pecado é ser feminista, negro (a), LGBTQIA+, defender direitos humanos e lutar por mais políticas sociais e pela democracia. É contra esses alvos que seus fuzis estão apontados.

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal

Edição: Vanessa Gonzaga