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eleições 2022

Em Pernambuco, direita ressurge com Miguel Coelho em novo “superpartido”

Bolsonarista, prefeito de Petrolina peregrinou para viabilizar seu nome e acabou dando “sorte” com fusão entre DEM e PSL

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Fernando Bezerra Coelho Filho, ACM Neto, Miguel Coelho e Mendonça Filho: herdeiros políticos se encontram no DEM - Comunicação Democratas

Neste sábado (25) o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, se filia ao DEM em evento com políticos aliados no Recife. A festa servirá como ato de lançamento de sua pré-candidatura ao Governo de Pernambuco. A postulação do bolsonarista ao Palácio do Campo das Princesas chegou ficar sob dúvida, já que seu então partido, MDB, reafirmou a aliança com o PSB. Mas o cenário mudou e agora seu nome surge com força, visto que sua nova sigla deve confirmar em breve a fusão com o PSL, dando origem a uma nova sigla, que será a maior do Congresso Nacional, com mais tempo de TV e mais dinheiro para campanha.

O evento deste sábado (25), no Armazém 14, centro do Recife, deve reunir cerca de 400 convidados de Miguel Coelho. São esperados líderes nacionais do DEM, como o presidente do partido, ACM Neto; o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes; além de prefeitos de Salvador (BA) e Florianópolis (SC). Também são presenças certas o seu pai e líder do governo Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB); e seus irmãos Fernando Coelho Filho (DEM) e Antônio Coelho (DEM), respectivamente deputados federal e estadual.

O presidente estadual do DEM e ex-deputado Mendonça Filho (DEM), que tenta voltar ao Congresso no pleito de 2022; e os deputados estaduais Priscila Krause (DEM) e Gustavo Gouveia (DEM) também são presenças certas. É possível que estejam na festa os também estaduais Romero Sales Filho (PTB) e Clarissa Tércio (PSC), além do vereador Junior Tércio (Podemos). Enquanto Romero estuda migrar para o DEM (já que o PTB não deve conseguir formar chapa competitiva), Clarissa Tércio estuda migrar para o Podemos – onde já está seu esposo e vereador –, sigla que pode apoiar a candidatura de Coelho em 2022.

O Congresso Nacional tem até o início de outubro para aprovar mudanças na legislação eleitoral para valer em 2022. Apesar de a Câmara ter aprovado uma série de alterações que favorecem deputados com mandatos, no Senado a tendência é rejeitar o “distritão”, a volta de coligações e mesmo a federação partidária.

Deste modo, os partidos precisarão formar chapas competitivas para deputado estadual e federal, de modo que consigam atingir sozinhos o coeficiente eleitoral – estimado em 90 mil votos para eleger um estadual e 150 mil para um federal. Uma candidatura majoritária forte também é importante para eleger deputados apoiadores. Partidos que mostrarem mais organização nesses quesitos tendem a atrair parlamentares hoje filiados a siglas menos estruturadas.

Em Pernambuco, os partidos PDT, MDB, Republicanos, Avante e PRTB em 2018 elegeram deputados estaduais, mas não atingiram sozinhos o coeficiente eleitoral. Eles possuem um estadual cada, eleitos devido a coligações, agora extintas. Precisarão de desempenho melhor em 2022 se quiserem assegurar suas cadeiras. Mesma situação do PCdoB, Podemos, MDB, PSD e Cidadania na disputa federal.

“Superpartido”

Com a provável aliança entre PSB e PT, num bloco que já reúne PP, PSD, MDB, houve quem acreditasse num possível “W.O.” eleitoral na disputa pelo Governo do Estado. Mas a confirmação da candidatura de Miguel Coelho chega “turbinada” pela movimentação (já bem adiantada) de fusão entre o PSL (2ª maior bancada federal) e o DEM (10ª). A junção deve resultar no partido com maior bancada federal (81 deputados e 7 senadores), o que se reflete no tempo de propaganda de rádio e TV, além de verba para campanha eleitoral.

O PSL sempre foi propriedade do pernambucano Luciano Bivar, que nunca conseguiu consolidar o partido no estado e assistia a sigla definhar nacionalmente – até que veio a “onda Bolsonaro” e tornou a sigla uma das maiores do país. Já o antigo Arena (partido da Ditadura Militar), que se dividiu entre PP e PFL e este último virou DEM, em Pernambuco é comandado pelas famílias Mendonça e Krause. A nova sigla deve ser liderada nacionalmente por ACM Neto e Bivar. No estado o comando será de Bivar. Apesar de perder protagonismo, Mendonça Filho terá acesso a uma superestrutura para recuperar seu mandato federal.


Priscila Krause e Mendonça Filho recebem seu novo colega de partido, Miguel Coelho / Comunicação Democratas

O PSL governa para 330 mil pernambucanos em cinco prefeituras, com destaque para Abreu e Lima (na região metropolitana) e Araripina (sertão). Já o DEM governa para 275 mil pessoas através de nove prefeituras, com destaque para Belo Jardim e Bezerros, ambas no agreste. Se somarmos a Petrolina de Miguel Coelho, o novo partido terá o comando de 15 prefeituras e 950 mil pernambucanos. Isso deixaria a sigla como 3ª maior em Pernambuco, atrás apenas do PSB e MDB. Importante lembrar que PSL e DEM são dois dos principais partidos da base de apoio do governo Bolsonaro, o que reforça a ideia de que Coelho será o candidato de Bolsonaro ao Governo de Pernambuco.

Palanque dos presidenciáveis em Pernambuco

Na eleição de 2018 o apoio dos Coelho a Bolsonaro foi discreto, mas já em 2019 o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) foi escolhido líder do governo no Senado, cargo que ocupa até hoje. Todas as passagens do presidente por Pernambuco contaram com a presença pelo menos de FBC, mas é comum a presença também de Miguel. Bolsonaro também deu aos Coelho a chave da Codevasf, órgão federal que não tem economizado obras em Petrolina, reduto da família Coelho.

O único empecilho para a provável aliança “Bolsonaro-Coelho” é a popularidade do presidente em Pernambuco. As pesquisas recentes indicam que 71% dos pernambucanos rejeitam o governo Bolsonaro, que conta com apoio de 25%. Apesar do índice baixo, se a transferência de votos do presidente for efetiva, pode garantir o candidato bolsonarista no 2º turno, o que seria um avanço para a direita no estado. O PSB venceu no 1º turno em 2018 (51%), 2014 (68%) – ambas contra Armando Monteiro (ex-PTB, hoje no PSDB) –, além da reeleição de Eduardo Campos em 2010 (com 83%). O último 2º turno estadual foi em 2006, quando Campos superou (com 65%) o então governador Mendonça Filho (DEM).

O novo partido, resultado da fusão entre DEM e PSL, também pode optar por uma candidatura própria ao Planalto. Os possíveis nomes são o ex-ministro da saúde Henrique Mandetta ou o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Outra alternativa, menos provável, é dar palanque em Pernambuco para Ciro Gomes (PDT). O partido de centro-esquerda e o DEM têm feito uma aproximação nos últimos anos. O deputado federal Wolney Queiroz (PDT) e Miguel Coelho também tiveram reuniões recentemente.

Em Pernambuco o PDT precisa viabilizar uma estrutura de campanha para Ciro, nome que tem preferência de 5,5% dos pernambucanos. No estado o partido tem apenas três prefeituras – sendo Carpina a maior delas –, um deputado estadual e um federal – José Queiroz e Wolney Queiroz, pai e filho –, além do também federal Túlio Gadêlha, que está afastado de Ciro Gomes e tem feito gestos a Lula (PT).

O presidenciável do PT, nascido em Pernambuco e apontado pelas pesquisas como favorito de 63% dos pernambucanos. Lula trabalha para firmar a aliança entre PT e PSB no estado. O PSB é maior partido em Pernambuco, com 53 prefeituras e as maiores bancadas estadual e federal. Além de PSB e PT, a coligação “Frente Popular” conta com – no mínimo –  MDB, PP, PSD, Republicanos e PCdoB para 2022.

Aliados têm se bicado pelas vagas de senador e vice-governador na chapa, mas uma dúvida paira justo sobre a candidatura a governador, nas mãos do PSB. O ex-prefeito do Recife e pré-candidato ao governo, Geraldo Julio (PSB), tem evitado holofotes e dado declarações a aliados e colunistas sinalizando “desânimo” com a política. Isso pode ser uma estratégia para evitar ser alvo desde cedo dos adversários, mas aliados têm mostrado preocupação, já que o PSB não preparou um “plano B”.

Hoje ele secretário de Desenvolvimento no Governo do Estado, Geraldo Julio sempre mostrou rejeição ao PT em sua vida pública, adotando discursos “antipetistas” em diversas oportunidades. Em sua primeira eleição, em 2012, ele enfrentou Humberto Costa (PT). Em 2016 foi desafiado por João Paulo (então no PT). Entre as duas disputas, declarou apoio a Aécio Neves (PSDB) contra Dilma em 2014. O único gesto na direção do Partido dos Trabalhadores foi em 2018, quando subiu no palanque com Paulo Câmara (PSB) e Fernando Haddad (PT), numa disputa eleitoral que não era sua. Para 2022, Geraldo Julio tende a ser o candidato, com sua imagem “grudada” à de Lula.

A “3ª via” de Pernambuco

A oposição de direita no estado estava construindo relações de olho em 2022, mas com ao menos três pré-candidaturas: Miguel Coelho (prefeito de Petrolina), Raquel Lyra (Caruaru) e Anderson Ferreira (Jaboatão). Todos são prefeitos com mandatos até 2024. Caso se lancem candidatos ao governo, devem abandonar as prefeituras até abril de 2022, abrindo mão de mais de dois anos de mandato.

E como são executivos reeleitos, caso percam a disputa estadual (2022) ficam sem mandato por cinco anos – como venceram 2016 e 2020, não podem disputar as prefeituras em 2024 e terão que esperar a nova disputa estadual de 2026. O risco de ficar tanto tempo sem mandato parece menor para Miguel Coelho, já que sua família tem um espaço político maior na política nacional e poderia encontrar um cargo para realocá-lo.

No entanto, quando Miguel Coelho parece ter viabilizado sua candidatura, seus aliados anunciam outro movimento. O PSDB de Raquel Lyra e Armando Monteiro; o PL de Anderson Ferreira; o PSC de seu irmão André Ferreira; e o Cidadania de Daniel Coelho anunciaram esta semana a formação de um bloco “contra o PSB”, mas sem os Coelho. O grupo tende a dar palanque a uma candidatura do PSDB ao Planalto, que deve ser encabeçada por João Dória (governador de São Paulo) ou Eduardo Leite (do Rio Grande do Sul).

Os quatro partidos, juntos, possuem em Pernambuco: 7 deputados estaduais, 3 federais e governam para 1,7 milhão de pernambucanos através de 18 prefeituras, com destaque para Jaboatão, Cabo de Santo Agostinho, Caruaru, Ouricuri e Escada.

Na oposição à esquerda, o PSOL definiu que terá candidatura própria ao Governo do Estado, mas os nomes para as disputas majoritárias (Governo e Senado) serão definidos até dezembro.

Edição: Vanessa Gonzaga