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Artigo | Todos os anos, a história de tristeza se repete com a chegada das chuvas

No bairro Neviana, em Ribeirão das Neves (MG), a situação foi dramática e 14 famílias perderam suas casas

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Poucas pessoas sabem, mas Ribeirão das Neves é o nome de um rio que corta a cidade - Reprodução / Facebook / Irineu Dalmásio

A chuva vem e o que deveria ser motivo de felicidade, afinal a água traz alívio ao calor e à poeira, se torna uma verdadeira tragédia na vida de muitas famílias.

Mais uma vez, o povo de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, sofre com a força da natureza. Vi da minha janela casas sendo destelhadas por causa da chuva de granizo que acometeu a cidade na semana passada. 

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Meu bairro é um lugar de gente batalhadora, meus vizinhos são pedreiros, babás, porteiros, domésticas. Gente que comprou um terreno afastado para pagar de 120 vezes, que aos finais de semana não descansa, vai carregar areia, virar massa. Pessoas de luta que passam a vida indo e vindo para a capital para garantir sua sobrevivência.

Onde moro, ficamos mais de 24 horas sem luz. Quando a energia voltou, todos tinham perdido seus produtos da geladeira. Alimentar-se está cada vez mais caro e perder os alimentos no fim do mês é um peso a mais para as chefas de família.

No bairro Neviana, a situação foi ainda mais dramática e 14 famílias perderam suas casas. Móveis foram arrastados, telhas arrancadas pela força do vento e casas totalmente destruídas. Como se não bastasse todo prejuízo material, tivemos vítimas que, graças a ação do Corpo de Bombeiros, não sofreram ferimentos graves.

Como moradora da periferia de Neves, acompanhei de perto todo sofrimento, sofri também e meus familiares estão entre as muitas vítimas com prejuízos materiais.

Não há uma política de habitação em Neves. As pessoas são obrigadas a construir suas casas em leitos de rios, encostas, lugares que definitivamente não são apropriados. Tudo porque a prefeitura e o governo do Estado não são capazes de garantir o reassentamento para um local seguro.

Como se não bastasse toda tragédia, ela ainda escancara a falta de investimento em equipamento básico para Defesa Civil e para o Corpo de Bombeiros conseguirem salvar vidas. Desde os episódios das queimadas, esses profissionais já alertam para a falta de equipamento básico de segurança. Com as chuvas é a mesma coisa. Um bombeiro que atuou em Neves precisou ser resgatado, pois teve hipotermia causada pela falta de roupa adequada. Até mesmo mulheres trabalharam mais de 48 horas seguidas sem botas apropriadas. Isso é absurdo.

Não posso esquecer de mencionar que problemas climáticos são pauta de prevenção dos governos desde 2007 e, mesmo assim, as prefeituras não fazem nada. Elas não estão sendo apenas omissas, mas sim genocidas, agindo como se estivessem fazendo um favor para socorrer quem precisa.

A culpa não é da chuva

Quando discutimos “o direito à cidade”, falamos de uma cidade segura do ponto de vista da segurança pública, da qualidade do ar e que não sofra com os eventos climáticos devido ao crescimento desordenado.

Poucas pessoas sabem, mas Ribeirão das Neves é o nome de um rio que corta a cidade. Mas nós tapamos nossos córregos e rios em nome da falsa modernidade que coloca em risco cidades inteiras no período de chuvas.

Se Neves fosse administrada por uma mulher negra, o ribeirão que dá nome à cidade teria mata ciliar e espaços coletivos para se banhar no calor.

Mas com o atropelo na construção das nossas cidades, além de todo o trabalho parlamentar que tenho desenvolvido junto à assistência social, precisaremos também de solidariedade coletiva com essa cidade que fornece mão de obra para que nossa capital siga pulsando.

 

Andréia de Jesus é deputada estadual de Minas Gerais pelo Psol

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

 

Edição: Larissa Costa