Pernambuco

Coluna

A civilização da Ecologia Integral

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"Em um sistema social e econômico que coloca o lucro em primeiro lugar não existe possibilidade nem de biodiversidade, nem de civilização ecológica" - Arquivo AeR
Governos que continuam considerando a natureza como matéria prima e como mercadoria

Neste domingo, 31 de outubro, a ONU abriu em Glasgow na Escócia a 26ª Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas (COP 26). Ao mesmo tempo, concluiu em Kunming, China, a primeira parte da 15ª Conferência Mundial sobre a Diversidade Biológica (COP 15). Por conta da segurança sanitária, para esta conferência em Kunming, representantes de mais de cem países tiveram de se reunir, uma parte presencialmente e a maior parte de forma virtual. No encerramento deste primeiro encontro foi publicada uma declaração na qual se afirma como consenso a urgência de salvar a biodiversidade no mundo. Para isso, se propõe que, até 2030, a ONU coloque sob proteção internacional 30% das áreas de floresta e de biomas ameaçados, como também intensifique a proteção dos oceanos. 

Em Kunming, os/as participantes concordaram em priorizar a educação para uma “civilização ecológica”. Xi Jinping, presidente da China, anunciou a criação de um “fundo Kunming”, com a contribuição de 1, 5 bilhões de yuans (mais de 220 milhões de dólares) para apoiar a conservação da biodiversidade nos países pobres. Esse material será rediscutido e afunilado em mais uma sessão de trabalho em Genebra, durante o mês de janeiro de 2022, antes do documento final ser votado e decidido em seus detalhes, provavelmente em abril na China, quando se encerrará oficialmente a COP 15.  

Quem acompanha as notícias da imprensa sabe que o desafio maior é como conciliar as resoluções necessárias para salvar a biodiversidade com os interesses de lucro das empresas e dos governos que continuam considerando a natureza como matéria prima e como mercadoria. Representantes de grandes empresas multinacionais enviaram ao grupo reunido em Kuning uma carta na qual afirmavam: “Devemos reconhecer a amplidão da crise ligada à destruição da natureza. A natureza é essencial na luta contra as mudanças climáticas. Não pode haver comércio nem lucro em um planeta morto”. 

Cada vez mais, fica mais claro para a humanidade que em um sistema social e econômico que coloca o lucro em primeiro lugar não existe possibilidade nem de biodiversidade, nem de civilização ecológica. Desde anos, o povo pobre que se reúne junto com as pastorais e movimentos sociais no Grito dos Excluídos tem como palavra de ordem: A vida em primeiro lugar. Só é possível ver a terra como “casa comum” se a prioridade máxima de toda atividade humana passa a ser a vida. Quanto mais nos inserimos nesse caminho mais percebemos que não é possível salvar a biodiversidade em um mundo de injustiças sociais. Por isso, o melhor é falarmos em sociobiodiversidade, ou seja, um olhar que reúne os ecossistemas da natureza com a luta pacífica pela justiça social e o respeito às diversidades de gêneros, raças, culturas e religiões, além da justiça construída a partir dos direitos da classe trabalhadora e do povo excluído. 

Nos Andes, a cultura ketchua mantém até hoje a noção do Pachacuti. Conforme essa visão, a colonização colocou o mundo de cabeça para baixo. É preciso reinverter a ordem do mundo de modo que se recomponha a harmonia entre os seres humanos e a natureza e os Espíritos das montanhas. Isso é o Pachacuti. 

A tarefa de retomarmos o Pachacuti é de todas as pessoas de boa vontade e deve ser feito a partir de baixo e das coisas pequenas da vida. A Carta da Terra, documento aprovado pela UNESCO, como declaração dos direitos da Terra, em um parágrafo citado pelo papa Franscisco na encíclica Laudato si, afirma: “O destino comum nos obriga a procurar um novo início. Que o nosso seja um tempo que se recorde pelo despertar de uma nova reverência face à vida., pela firme resolução de alcançar a sustentabilidade, pela intensificação da luta em prol da justiça e da paz e pela jubilosa celebração da vida” (LS 207). 

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga