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A COP 26, o Brasil e a defesa da Vida

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Participação de Bolsonaro na COP 26 despertou onda de protestos denunciando mentiras do governo em relação aos cuidados com o meio ambiente - Andy Buchanan/AFP
É doloroso ver o nosso governo ir à reunião da ONU para apregoar mentiras

Nesta sexta-feira (12) em Glasgow, na Escócia, a ONU conclui a Conferência Mundial sobre as Mudanças Climáticas (COP 26). Já no final de outubro, nos dias anteriores à conferência, Antonio Guterrez, secretário geral da ONU, advertiu aos governos que já não bastariam os acordos para manter as emissões de gases tóxicos na proporção antes pensada. Se o esforço não for duplicado e não for concretizado por soluções imediatas, em poucas décadas, o mundo chegará a um ponto sem retorno. O aquecimento global será de 2,7°C e isso porá em risco toda a vida no planeta Terra. 

Para nós, filhos e filhas deste Brasil lindo, é doloroso ver o nosso governo ir à reunião da ONU para apregoar as mentiras oficiais sobre o cuidado com a Amazônia e a natureza. Sabemos que o Brasil está na COP 26  não para se comprometer com a luta contra as mudanças climáticas e sim para pedir às organizações internacionais dinheiro. Bolsonero e a elite do agronegócio e da mineração querem mais recursos para melhor executar a destruição planejada das florestas, dos rios e de todos os biomas que ainda sobrevivem.  

Muitas pessoas das delegações oficiais e governos que estão reunidos em Glasgow na COP 26 defendem a Ecologia porque “é impossível fazer comércio em um planeta morto”, como, em documento enviado à conferência, afirmaram empresários internacionais comprometidos com a defesa do ambiente. Além disso, estudo da Organização Mundial da Saúde declara: as mudanças climáticas ameaçam a saúde da humanidade. Mesmo se ainda não se podem assegurar as origens do coronavírus, sabe-se com certeza que a deterioração do ambiente e a poluição das águas favoreceram a propagação da pandemia. As mudanças climáticas favorecem a disseminação de doenças infecciosas como dengue, chikugunya, zika e outras enfermidades que atingem principalmente as populações mais empobrecidas e vulneráveis. 

Há mais de dez anos, o Manifesto da Ecologia Profunda, coordenado por Arne Naess e George Sassions, começava afirmando que “O bem-estar e o florescimento da vida humana e não humana sobre a Terra são valores em si mesmos. Esses valores são independentes da utilidade do mundo não humano para os fins do ser humano”. 

Cada vez mais, quem opta por um caminho espiritual, seja no seguimento de alguma religião, seja mesmo fora das tradições religiosas, precisa desenvolver uma espiritualidade ecológica que consiste em nova relação amorosa com a Terra e a Vida em todas as suas manifestações. Como humanidade, temos a missão ética de defender a vida e a comunhão com a natureza. Se, de alguma forma, cremos em um amor que sustenta o universo, não podemos destruir nenhuma forma de vida, menos ainda por mera ambição de lucro ou por simples desamor. 

No Brasil, as culturas dos povos originários nos ensinam a reverência à Mãe Terra, a veneração à Avó Água e à relação de amor com todas as energias vivas (Espíritos ou Orixás) da natureza. Para quem, como nós, mergulha nessa sabedoria ancestral, a sustentabilidade da vida deve ser a prioridade fundamental de toda organização da sociedade. Tanto antigas culturas, como cientistas atuais consideram a Terra como um único organismo vivo. Derrubar uma árvore é como cortar o braço de um ser vivo. Cada vez mais fica claro o que nos ensina a Ecologia Integral: a prática da sociobiodiversidade como caminho do bem viver pessoal e coletivo. 

Ao adorar a Deus, fonte da vida, ou a suas manifestações da natureza, quase todas as tradições espirituais estão reverenciando a vida. Elas nos convidam a uma relação de carinho com toda criatura e a uma atitude de agradecimento ao Espírito Divino por fazermos parte desta grande comunidade da vida.  

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga