Pernambuco

CINEMA

25º Cine PE volta ao formato presencial levantando as bandeiras da democracia e da vacinação

Edição traz 38 filmes entre curtas e longas metragens; 40% das produções são pernambucanas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Na 25ª edição, o festival acontece em um dos mais valiosos patrimônios artísticos e arquitetônicos do Recife, o Teatro do Parque - Felipe Maior

Começa nesta semana o 25º Festival de Cinema de Pernambuco, o Cine PE, que volta ao seu formato presencial no histórico Teatro do Parque, no centro do Recife. O festival é uma das maiores vitrines da produção audiovisual brasileira e este ano terá a estreia nacional do filme Deserto Particular (2021), do baiano Aly Muritiba, que foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o país na seleção do Oscar 2022. 

Apesar de trazer com representações de todas as regiões do país, do Amazonas ao Rio Grande do Sul; 40% da programação é de filmes pernambucanos. A mostra conta com 38 produções na competição, que foram escolhidas entre 678 inscrições.

Para a diretora do festival, Sandra Bertini, são o estado de Pernambuco e a cidade do Recife que fazem com que o evento seja grandioso. “Essa efervescência cultural, esse caldeirão que a gente vive aqui faz com que a cidade abrace o evento e fez com que o evento fosse grandioso. A entrega foi importante, mas a resposta mais ainda. Então, esse encontro que houve entre o que oferecemos e o que recebemos foi muito forte, é uma linha muito importante. Então, essa é a principal causa de tudo isso, do Cine PE ser o que é”, aponta.

A pernambucanidade exaltada pelo festival representa também a valorização da produção audiovisual local e também da nacional. “Nós temos uma mostra só de Pernambuco com 9 filmes, nós temos mais três filmes na mostra nacional e mais o longa Muribeca, que é de Pernambuco e vai abrir o Cine PE. Nós temos aqui diretores super criativos e fora o que ficou de fora, gente. É de Pernambuco para o mundo e é isso que a gente quer. Fazer essa difusão do Cinema Pernambucano e do Cinema Brasileiro. Pernambuco é Brasil!”, analisa a diretora

Uma das atrações da programação é o curta metragem Inocentes (2020), com direção e roteiro do pernambucano Pedro Ferreira. A exibição será nesta quarta-feira (24) a partir das 14h. O filme fala de saudade e brinca com o que é real e o que é ficção. Apesar de já ter sido premiado em 6 festivais, entre eles o Festival de Cinema de Alter do Chão, esta é a primeira vez que o filme será exibido em uma sala de cinema.

“Eu lembro que um dos primeiros festivais que eu fui foi o Cine PE. O encontro com curtas-metragens, de ver aquilo na tela, eu lembro que essas minhas primeiras experiências foram no festival e agora eu estou exibindo um filme nele e eu estou numa expectativa muito grande também pelos outros filmes, porque eu gosto como o Cine PE está sempre incentivando os filmes estudantis do estado de Pernambuco. Então, além de mim, tem outros estudantes e eu gosto como eles não separam a gente na categoria estudantil, eles dão um espaço pra gente na categoria competitiva”, explica Pedro, que é estudante do curso de Cinema e Audiovisual da UNIAESO e da atual gestão da Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas de Pernambuco/ Associação Pernambucana de Cineastas (ABD/Apeci).

O fato de ser em um cineteatro público e histórico como é o Teatro do Parque também torna esta edição ainda mais especial, já que equipamento foi reaberto no último ano após uma década fechado para requalificação. “Eu estou não só na expectativa de exibir esse filme presencialmente no Cine PE, mas muito mais de exibir esse filme no Teatro do Parque, que é um lugar importantíssimo onde muitas pessoas já passaram, tantas coisas já foram exibidas ali. Então, a minha expectativa maior é de estar nesse templo da Cidade do Recife”, afirma Pedro.

Com os slogans “democraCINE” e “vaCINE”, o festival se posiciona em defesa da democracia e da liberdade de expressão que é tão importante para a produção artística. “O momento em que a gente está vivendo é um momento ímpar da nossa história, a história do Brasil, que já teve outros problemas. A gente não quer reviver algumas situações que nós passamos de dificuldade de falar e de se expressar. E eu acho que o caminho para tudo isso é o da democracia”, aponta Sandra Bertini.

O festival é gratuito, mas a entrada é submetida à apresentação de uma pulseira que será entregue 2 horas antes das sessões na bilheteria do Teatro do Parque. Serão seis mostras competitivas que vão até o dia 25 de novembro, sempre às 14 e às 19h, e encerra com a premiação no dia 26 às 19h. Para outras informações, acesse o site ou instagram do festival.

INOCENTES

O filme Inocentes (2020) foi criado inteiramente com acervo pessoal e conta a história de dois amigos que desapareceram. O diretor e roteirista Pedro Ferreira pensou o filme nos primeiros meses da pandemia, em que o audiovisual brasileiro estava parado devido ao isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19.

“Ficava aquela explosão de estamos em casa parados, temos que fazer alguma coisa e eu ficava ‘não, eu não quero fazer nada, eu não quero pensar em produzir algo artístico, o mundo está acabando’. E foi isso que eu fiz uma parte do tempo, até que uma professora me provocou de várias formas, até que saiu o Inocentes”, relembra Pedro. “Inocentes para mim é um vômito de várias coisas que aconteceu nesse momento pandêmico em que aconteceu o filme, mas a pandemia não é importante para ele. O filme é muito sobre saudade, tempo que passa, tempo que não volta. É um abraço nas pessoas que eu estou longe, nas pessoas que eu já me despedi de diversas formas”.

O filme é provocativo e gerou diversos debates nos festivais em que passou e foi premiado, como o Festival de Cinema no Meio do Mundo, Festival de Cinema Universitário Brasileiro, 20º NOIA – Festival do Audiovisual Universitário, Festival de Cinema de Alter do Chão, Festival Internacional de Cinema Escolar de Alvorada (FACEA) e II Festival Beta.  Eu gosto disso, de brincar com esse conceito do que é verdade, porque o cinema tem muito disso. O que você vê numa tela, numa imagem, muita gente acredita de imediato que é a verdade, mas nesse momento híbrido e de fake news isso é uma arma potente; saber dizer o que é real e o que não é. A gente acredita tanto em tudo o que vê, mas nem tudo é o que parece”, conclui.

 

Edição: Vanessa Gonzaga