SAÚDE

Vozes Populares | Conheça a Rede de Médicas e Médicos Populares

Desde 2015, médicos populares de todo o país se unem em uma rede contra a onda conservadora na categoria

Ouça o áudio:

Atualmente, a rede está presente em 15 estados do país e se organiza através de "núcleos" - Arquivo/Rede de Médicas e Médicos Populares
Os médicos não são todos conservadores. Existem médicos que estão ao lado do povo

O negacionismo no Brasil durante a pandemia perpassou por todos os lados, não deixando escapar nem mesmo os profissionais da saúde, a quem a população precisava recorrer. Houve de antivacina até médico receitando remédio sem comprovação científica contra a covid-19. Essa postura, no entanto, não era exatamente algo novo. Uma boa parte da categoria de médicos no país não tem se colocado ao lado do povo, e foi para lutar contra essa onda conservadora na área da saúde que surgiu a Rede de Médicas e Médicos Populares.

A rede começou em 2015: o contexto era de polarização política no país e também da criação do programa Mais Médicos, que enviava médicos cubanos para o Brasil. O programa conseguiu fixar médicos em regiões periféricas dos centros urbanos, cidades do interior e aumentar a cobertura da atenção primária à saúde no país. 

Leia: O que o Brasil perde com a saída de cubanos do Mais Médicos?

O seu auge foi em 2016, quando 18 mil médicos garantiam o atendimento a quase 63 milhões de pessoas em 4 mil municípios. Até a chegada dos cubanos, o Brasil tinha mais de 400 cidades sem médicos cadastrados no Sistema Único de Saúde, o SUS. Mas mesmo com o êxito da política pública, entidades médicas começaram a radicalizar o seu discurso contra o programa.

Segundo Alisson Lisboa, militante da Rede de Médicas e Médicos Populares, a categoria de médicos foi expondo posições xenofóbicas, racistas e conservadoras. Ele cita que entidades médicas e médicos no geral fizeram, por exemplo, campanha massiva a favor de Aécio Neves, apoiaram o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e Bolsonaro nas eleições de 2018. "Em 2015 nasce a Rede de Médicos Populares, como uma forma de dizer pra sociedade 'pera lá, os médicos brasileiros não são todos conservadores, não são todos dessa forma como as entidades médicas tem se posicionado'", explica. 

Na região Nordeste, a rede está presente no Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia. Alisson conta que o começo da atuação foi marcado pelas brigadas de solidariedade. "Logo com o rompimento da barragem que atingiu a cidade de Mariana, a rede organizou uma brigada de solidariedade em saúde e diversos médicos de todo o país foram para a região pra atender essas famílias", conta. Ele lembra que o mesmo aconteceu com o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho.

Atualmente, uma brigada de solidariedade foi enviada para o sul da Bahia para prestar socorro às vítimas das enchentes, que deixou 136 cidades em estado de emergência. Foram mais de 90 mil pessoas obrigadas a deixarem suas casas, e a maioria perdeu todos os seus pertences. Essas famílias, além de precisarem de doações de água potável, alimentos, roupas, móveis e eletrodomésticos, também precisavam de cuidados com a saúde. Foi pensando nisso que uma brigada, iniciada pelo coletivo de Médicos Che Guevara e pelo Setor Saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi enviada para locais onde as ações institucionais têm tido mais dificuldade de chegar. 

Mas as brigadas não são a única forma de atuação da rede. Além disso, existem cursos de formação política, educação popular em saúde, participação em atos em prol da democracia e pela defesa do SUS, e atuação como agentes populares da saúde. Além disso, os médicos populares também se fazem presente nas redes sociais. Se interessou e quer saber mais? Você pode encontrá-los no Instagram: @medicospopulares e no Twitter: @RedeMedPop

Para ouvir o programete na íntegra, ouça o áudio anexado no início da matéria. O Vozes Populares é um programete semanal gravado com média de 5 minutos de duração e traz análises de movimentos populares sobre temas como cidadania, direitos humanos, política, feminismo e assuntos da conjuntura política brasileira. Confira outras edições em nosso site.

Edição: Vanessa Gonzaga