Minas Gerais

EDUCAÇÃO POPULAR

Artigo | Ainda é possível sonhar

Conheça a construção da biblioteca na Pedreira Prado Lopes, em BH (MG), da rede de cursinhos Podemos+

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
"Queremos inaugurar a biblioteca da PPL ainda neste primeiro semestre de 2022" - Foto: Marcela Nicolas

A história da Pedreira Prado Lopes (PPL), em Belo Horizonte (MG), se assemelha a de muitas favelas do país e é marcada por elos de solidariedade entre as(os) moradoras(es) organizadas(os) pela luta por melhores condições de vida no território. É considerada, nessa perspectiva, uma das favelas pioneiras na aplicação das políticas de urbanização e habitação de interesse social em vilas e favelas da cidade, especificamente as conquistadas durante a década de 1990 e início dos anos 2000 via Orçamento Participativo.

No entanto, ainda são latentes as expressões da questão social na PPL, sobretudo os desafios habitacionais. Por sua proximidade com o Centro planejado de Belo Horizonte, o território da PPL abriga uma série de imóveis ociosos, parados pela especulação imobiliária e que poderiam ser utilizados para enfrentar o problema do déficit habitacional na cidade.

Em setembro de 2017, cerca de 70 famílias da PPL organizadas pelo Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) ocuparam um prédio que não cumpria sua função social, na rua Pedro Lessa, para garantir moradia popular e geração de renda para as famílias.

Atualmente, esse espaço dá vida ao Galpão Cultural da Ocupação Pátria Livre, onde existe também uma cozinha popular e a construção da Biblioteca Popular da Rede de Cursinhos Populares Podemos+. Por ser ainda um imóvel em disputa entre proprietário e moradoras(es), se tornam ainda mais relevantes as atividades que são desenvolvidas no local, uma vez que expressam a contribuição social, cultural e política junto ao território.

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A Podemos+ se nacionalizou em 2017, a partir de um processo de complexificação das demandas no trabalho dos cursinhos populares construídos pelo Levante Popular da Juventude. Seu objetivo prioritário naquele momento era o de orientar e dar coesão no trabalho dos cursinhos que já eram desenvolvidos pelo movimento em diversos estados do Brasil.

Por ser uma experiência vinculada à estratégia de um movimento popular, o trabalho com os cursinhos populares na Podemos+ está sempre atento às contradições da realidade. Dessa forma, se percebeu a necessidade de construção de ferramentas auxiliares para dar vazão às demandas da prática político-pedagógica de cada território. Uma das ferramentas, que tem ganhando centralidade nesse processo, é a Biblioteca Popular.

Em Belo Horizonte, a Biblioteca Popular da Podemos+ na PPL está sendo construída desde 2019. Sua equipe é composta pela Coordenação Político-Pedagógica do Cursinho Popular da Rede Podemos+, na PPL; por militantes do Levante Popular da Juventude e do MTD, além de profissionais voluntários das áreas de biblioteconomia, arquitetura e engenharia civil.

A Podemos+ parte da concepção freiriana de Biblioteca Popular que a entende para além de um depósito silencioso de livros, mas como um espaço para resgatar a memória e identidade das classes populares, contribuindo para sua compreensão como sujeitos criadores (e criativos). Nesse sentido, a Podemos+ defende a ideia da Biblioteca Popular como um centro cultural, um espaço dinâmico e provocador que se contrapõe à lógica tradicional das bibliotecas.

O projeto de Brasil imposto ao povo brasileiro pelo governo de extrema-direita de Bolsonaro é um projeto de miséria em todas as esferas da vida humana. Construir espaços como o da Biblioteca Popular, na atual conjuntura, é um imenso desafio.

Queremos inaugurar a biblioteca da PPL ainda neste primeiro semestre de 2022, combinado com um processo permanente de diálogo com o território e com as pessoas, que darão vida à Biblioteca Popular. Em breve, organizaremos campanhas de arrecadação de materiais de construção para a reforma do espaço, mobiliário e livros de literatura em bom estado. Entendemos assim, que esse esforço coletivo guarda elementos pertinentes para se pensar a atualidade da Educação Popular como caminho para a reconstrução do país.

“A desumanização que resulta da ‘ordem’ injusta não deveria ser uma razão de perda da esperança, mas, ao contrário, uma razão de desejar ainda mais, e de procurar sem descanso, restaurar a humanidade esmagada pela injustiça” (Paulo Freire) 

Camila Magalhães é militante do Levante Popular da Juventude e integrante da Coordenação Político-Pedagógica do Cursinho Popular Podemos+ PPL

Lorhana Lopes é militante do Levante Popular da Juventude e integrante da Equipe Nacional da Rede Podemos+

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Larissa Costa