Pernambuco

Coluna

O diálogo inter-religioso e a matriz ética e espiritual de base comum

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"Cada religião tem o compromisso – para apresentar-se à sociedade como boa e verdadeira – do diálogo e de ações conjuntas com as demais" - Ateliê 15
As religiões são assim, lugares do encontro do homem com Deus

O diálogo inter-religioso é um imperativo para todas as expressões religiosas do mundo. Seja para conservar autenticamente a proposta de cada uma das religiões como espaço do encontro da pessoa com Deus ou o sagrado, consigo mesmo, com todas as mulheres e homens – especialmente os irmãos e irmãs que compartilham a mesma fé e vivência – e com o cosmos.

 Encontro este norteado pelos princípios místicos, éticos e morais; bem como para ser no mundo uma presença e instrumento de promoção da dignidade da pessoa humana, da justiça, o cuidado com a Casa Comum, da fraternidade e da paz. Abraço do bem com o belo, comunhão ética e estética.

As religiões são assim, lugares do encontro do homem com Deus, com os seus companheiros de humanidade e uma relação de alteridade com o meio ambiente. Individual e coletivamente os seus membros deverão viver e celebrar os seus mistérios e o que lhes foi revelado dentro de seus próprios espaços sagrados no santuário do coração e da consciência e naqueles construídos como o lugar do culto. 

Deste modo, respeitadas todas as especificidades litúrgicas, particularidades morais e singularidade doutrinal, sem perder e anular aquilo que lhe é próprio, em meio a poucas ou muitas divergências, cada religião tem o compromisso – para apresentar-se à sociedade como boa e verdadeira – do diálogo e de ações conjuntas com as demais, a partir do ponto de convergência e matriz de todas elas que são, sem sombra de dúvidas, Os valores éticos comuns de base, como a mística, o amor, a felicidade, a justiça ecosocial, a paz nos corações e no mundo.

Nesta crise mundial de valores as religiões desempenham um papel intrínseco e obrigatório de ser no mundo um lugar do encontro com uma orientação básica, quando as mais diversas expressões de fé se reúnem para apresentar a imagem de Deus ou do sagrado, e não sua perversa caricatura; apresentar aqueles princípios milenares acima mencionados - nem alienados nem alienantes -  ao mesmo tempo tão contemporâneo e ainda a partir de suas fontes, mostram-nos o verdadeiro rosto da pessoa humana, onde o homem torna-se mais homem e a mulher mais mulher, enfim, a pessoa humana mais pessoa e mais humana.

Repito, insisto e teimo: as religiões desempenham um papel, intrínseco e obrigatório - de não obstante todas as suas contradições e apesar de todas as grandes objeções postas legitimamente pelos crentes com autocrítica aguçada, os materialistas históricos, os ateus e agnósticos por razões ideológicas, científicas, filosóficas, psicológicas e outras -  de ser no mundo um lugar do encontro com uma orientação básica, como diria Hans Küng, para as grandes perguntas sobre o homem e a mulher: de onde, porquê e para quê – uma orientação básica para a vida individual e social. Sem negar a ciência, mas dialogando com ela, afirma ainda o teólogo suíço, as religiões podem apresentar sem equívocos, não um Deus contra a humanidade, mas sim como um Deus a favor da humanidade.

Podemos a partir dessas quatro premissas da religião como possibilidade do encontro da pessoa com Deus, consigo, com os outros e o cosmos, afirmar a exigência de todas elas reunidas, ser no mundo,  um importante instrumento, em permanente diálogo com outros protagonistas, através do que convencionamos chamar de Diálogo Inter-religioso, para movimentar as pessoas e o mundo na busca de uma ética mundial, respeitadas toda diversidade cultural e geográfica, e na práxis da fraternidade, da justiça, da paz e da ecologia integral com vem nos lembrando o papa Francisco, especialmente no capítulo oito da carta encíclica Fratelli Tutti.  

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga