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População de rua: faltam dados para guiar políticas no Recife

Apesar de ser visível o aumento de pessoas em situação de rua na pandemia, últimas pesquisas sobre o setor são de 2019

Brasil de Fato | Recife, PE |
Nas ruas dos Recife, cada um tem uma história diferente para estar em situação de rua - Lucila Bezerra/ Brasil de Fato PE

André Nascimento dos Santos, assim como muitas pessoas no Recife, vive em situação de rua. Ele foi forçado a sair de casa há 4 meses por causa da dependência química. “O que eu queria mesmo era sair da rua, queria muito que Deus me ajudasse para sair dessa situação, porque não é fácil não. Na realidade, na rua você não tem amigos, na rua o seu amigo é somente Deus e você mesmo, não tem ninguém em que você confiar”, se emociona André.

O centro do Recife é uma das regiões com maior circulação de pessoas na cidade, mas, com a pandemia, se tornou também uma região de permanência. Em cada esquina, é possível ver pessoas sentadas no papelão, com colchões ou nos bancos. 

“Eu não tenho outra opção, tô na rua, tô jogado, mas é isso.  A violência é grande, você tem que saber ter suas manobras, o centro do Recife é pequeno. É uma Veneza brasileira, essas pontes e tal, o morador de rua parece um caranguejo”, aponta Francisco Cássio, que mora nas ruas desde o início da pandemia, quando perdeu o emprego e, com isso, as condições para pagar o aluguel. “Eu notei que a população de rua aumentou, tá muito grande. Gente que era empregado e está desempregado, gente que era de outros estados do Nordeste e vem pra capital do Recife, pensando que ia ter carnaval e essas coisas, mas não vai ter nada”, conclui.

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Já Priscila Silva mora na rua há quase duas décadas, desde que tinha 11 anos e fugiu após sofrer abuso sexual dentro da própria casa. “Para muitos, a gente somos nada, pra essa gente nós somos objeto, lixo. Tem gente que a gente dá bom dia, não responde. Mas nós somos seres humano, a gente não escolheu viver nessa vida. Eu mesma não escolhi essa vida pra mim. Eu tenho um sonho de sair dessa vida e eu vou sair”, esperança a jovem.

Apesar dessa realidade poder ser vista a olho nu, o último dado é de 2019. Na época, havia 1.400 pessoas em situação de rua no Recife. A população total da cidade era de pouco mais de 1.645.000. O número de moradores na cidade já aumentou em quase 10 mil de 2019 para cá, mas não se sabe quantas pessoas estão nas ruas. 

Os movimentos e organizações que defendem esta população cobram um censo que possa nortear as políticas públicas, como os abrigos, os centros populares e outras iniciativas das redes de atenção psicossocial.

“Como a gente vai pensar a população em situação de rua é como a gente está construindo a sociedade em que a gente vive. Então, o aumento da população em situação de rua significa o aumento do descaso, da desigualdade, da falta de acesso, da política que está vigente”, explica Priscila Gadelha, que faz parte da coordenação da Escola Livre de Redução de Danos, uma iniciativa da sociedade civil que dá suporte psicoterápico e para necessidades básicas a pessoas em situação de rua com dependência química.

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A equipe do Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) sobre dados atualizados da população em situação de rua, mas eles confirmaram que esses dados atualizados não existem e não há nenhuma previsão para publicação.

Já a Prefeitura do Recife enviou a seguinte nota após o fechamento da reportagem em vídeo, onde explica quais as ações voltadas para o setor. De acordo com a nota, “A Prefeitura do Recife informa que, atualmente, conta com 15 unidades de acolhimento. A pessoa em situação de rua é encaminhada para uma unidade de acolhimento por meio da intervenção dos profissionais do Serviço Especializado de Abordagem Social (Seas)". Existe também o Programa Recife Acolhe, que abriu 200 vagas de hospedagem social para acolhimento de população em situação de rua e o o Aluguel Social, pago pela Prefeitura do Recife no valor de R$ 200. A Prefeitura até o momento também não possui dados atualizados sobre a população de rua que vive na capital.  

Edição: Vanessa Gonzaga