Pernambuco

Coluna

Carnaval da saudade

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Apresentação do Bloco da Saudade no carnaval pernambucano - Passarinho/Prefeitura de Olinda
Porque o Carnaval vem de dentro e corre no sangue

Eita carnaval da saudade... Carnaval doido danado! Sem prévia de rua, sem ruge ruge, sem sol e chuva batendo na cara. Sem Urso Traíra, sem Barbas, sem Tá Maluco, sem Lili, sem Levino, sem Banho de Cuia na noite da sexta. Sem a resenha do galo, sem o povo discutindo se é feio, se é horrível ou se somente irreverente. Sem o repórter repetindo coisa na rua e o povo respondendo a pergunta que não ouviu direito. “O que tá achando do carnaval, minha filha?” “Minas geraisssss!!”.

Carnaval sem a gente se perdendo por dentro do dragão do Eu Acho é Pouco, sem o calor do Sobrecu nas Olindas, sem ir direto do menino pro Travolta, pro Homem, pra tentar ficar acordado até o Cariri ver a barra do sol nascendo no Varadouro. Carnaval sem os Noiados da Encruzilhada que nunca teve nem nunca terá. Sem super herói subindo em prédio, sem boneco gigante na rua, sem acordar com barulho de latinha se abrindo e sem procurar onde tá o estandarte dos Amantes de Glória no meio do frevo. Carnaval coisado demais esse do coronga, da crise, do verme e do vírus. Sem andar meia hora de sapato encharcado pra pegar taxi e sem reclamar de gringo que passa no meio do bloco sem saber o que tá fazendo. 

Mas não é porque não tem Carnaval que não pode ter Carnaval. Porque o Carnaval vem de dentro e corre no sangue. É sobre alegria-felicidade-amor-entrega. É sobre ser gente e festejar sem limite. Se de máscara a gente já passa o tempo todo, no Carnaval adereço é mistério e fantasia. Vale roupa colorida, vale brinde, vale frevo no talo acordando a casa inteira. Vale glitter jogado na cara e encontrado no umbigo muitos dias depois. 

Vale ser pirata, melindrosa, bailarina, personagem de desenho animado. Vale acionar o contatinho com a terceira dose no braço e suar bem muito fazendo de conta que voltou da ladeira. Vale fazer comida gostosa e encher a mesa pra agradar a família. Vale cantarolar escovando os dentes. Abrir a janela e esculhambar o presidente. Chamar as amizades vacinadas pra brindar, gritar e cantar a plenos pulmões que pode acabar o petróleo e a vergonha. Mas que o frevo já vem vacinado de fábrica e vai viver pra sempre. Evoé!!

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga