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violência policial

Justiça decreta prisão preventiva de PMs por chacina na Chapada dos Veadeiros

Decisão atende pedido feito pelo Ministério Público de Goiás (MPGO), que denuncia ameaça de policiais a testemunhas

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Armas e plantas de maconha que teriam sido apreendidas pela Polícia Militar no local da chacina - Divulgação PMGO

A Vara Criminal da Comarca de Cavalcante, norte de Goiás, determinou a prisão preventiva (por prazo indeterminado) de sete policiais militares envolvidos na morte de quatro pessoas em uma zona rural do município, que fica na região da Chapada dos Veadeiros. O caso ocorreu no dia 20 de janeiro deste ano e chocou a comunidade local

O pedido de prisão foi formulado pelo Ministério Público de Goiás (MPGO), a partir de investigações conduzidas pelo Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial (NCAP) e pela Promotoria de Justiça de Cavalcante. 

Os policiais presos são: sargento Aguimar Prado de Morais, sargento Mivaldo José Toledo, cabo Jean Roberto Carneiro dos Santos, soldado Welborney Kristiano Lopes dos Santos, cabo Luís César Mascarenhas Rodrigues, soldado Eustáquio Henrique do Nascimento e soldado Ítallo Vinícius Rodrigues de Almeida.
 
Todos são lotados no 14º Batalhão da Polícia Militar do Estado de Goiás e são suspeitos das mortes de Alan Pereira Soares, Ozanir Batista da Silva, Antônio Fernandes da Cunha e Salviano Souza Conceição. Ao todo, os policiais efetuaram 58 disparos, sendo 40 de fuzil e 18 de pistola, segundo o boletim de ocorrência.

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No pedido de prisão preventiva dos PMs, os promotores afirmam "que as medidas cautelares diversas da prisão não são suficientes para resguardar a ordem pública nem garantir a normal instrução criminal no caso".

O requerimento afirmou também que a narrativa dos fatos, apresentada pelos policiais militares no registro de atendimento integrado, não encontra amparo nas provas documentais, periciais e testemunhais que estão no inquérito policial. 

O inquérito policial está em fase final de conclusão pela Delegacia de Investigação de Homicídios, em Goiânia. Segundo a investigação, a versão dos policiais militares é de que foram até o local do crime para apurar suposta denúncia de tráfico de drogas. Eles ainda informaram que encontraram, no local, grande quantidade de pés de maconha e que sete pessoas que lá estavam não obedeceram aos comandos de rendição e efetuaram disparos de arma de fogo. Os PMs teriam revidado, o que provocou a morte de quatro pessoas, enquanto outras três conseguiram fugir.

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O Brasil de Fato chegou a conversar com pessoas que estão acompanhando as investigações, que deram alguns detalhes sobre a dinâmica do caso. Pelos relatos, os policiais chegaram a pé na propriedade após estacionarem a viatura algumas centenas de metros antes. No local, que era propriedade de Salviano e onde estavam os pés de maconha, no entanto, ninguém foi encontrado. Eles então decidiram ir até a chácara vizinha, nas proximidades, esta de propriedade de Ozanir Batista, conhecido como Jacaré. Foi lá que eles encontraram as quatro vítimas. Elas teriam então sido rendidas e conduzidas de volta para a propriedade de Salviano, onde acabaram sendo mortas. 

O áudio de uma das testemunhas do caso viralizou na internet, no mês passado. Ele foi atribuído à esposa grávida de uma das vítimas, que estava no local, mas foi poupada. No relato, a mulher conta que não houve reação. 

“Falaram para os meninos deitar. Os meninos deitaram. Falaram que os meninos correram para o mato, mas os meninos não correram. Em momento algum os meninos reagiram. Até porque nem arma eles tinham. As armas todas, você sabe que foram plantadas. Já estavam com os meninos todos praticamente presos. Eles mataram porque quiseram, não porque os meninos reagiram. Em momento algum eles reagiram”. Além dela, outras duas pessoas escaparam com vida da cena do crime.

Ameaças

Apesar do boletim de ocorrência ter registrado 58 disparos, uma perícia realizada pela Superintendência de Polícia Técnico-Científica encontrou apenas 5 estojos de munição no local, o sugere uma possível alteração na cena do crime. Na área onde ocorreu a ação, de cerca de quatro metros quadrados, foram encontradas 11 espécies de plantas, das quais apenas 4 eram de maconha.

Investigação do Ministério Público aponta anda testemunhas foram procuradas por alguns dos militares envolvidos em nítida tentativa de intimidação e ameaça, o que caracterizaria a necessidade da prisão preventiva para garantir a normal instrução criminal, bem como para resguardar a integridade física e psicológica das testemunhas.

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Edição: Flávia Quirino