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Coluna

08 de março é solidariedade, luta coletiva e internacional

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"Assim como segue sendo de extrema importância que os movimentos mistos incorporem as pautas feministas com todo o rigor necessário à construção de uma nova sociedade"
"Assim como segue sendo de extrema importância que os movimentos mistos incorporem as pautas feministas com todo o rigor necessário à construção de uma nova sociedade" - Comunicação MTD
Seguimos confiantes de que a ousadia dos ares de março despertará a urgência da organização popular.

O dia internacional de luta das mulheres carrega consigo a memória de mulheres revolucionárias que se organizaram coletivamente com o objetivo de libertação de seu povo e nação. O caráter insurrecional desta luta se deve a marcha que reuniu 200 mil mulheres no ano de 1917, sendo estopim do processo da Revolução Russa, em que foi a partir deste fato histórico que o movimento internacional de mulheres socialistas do final do século 19 e início do século 20 decidiu internacionalizar a data.  Assim, historicamente, o que motivou os movimentos de mulheres e feministas a saírem nas ruas nesse dia está permeado pelos significados da estratégia mais ampla de libertação da humanidade da exploração e opressão capitalistas.

A internacionalização da data indica também uma decisão de solidariedade entre as mulheres, em torno de reivindicações políticas, econômicas, direitos sociais compatíveis aos movimentos socialistas da época e críticos também a estes. Assim, ao longo dos anos costumamos dizer que é a primeira luta a abrir o calendário do ano e é onde conseguimos coesionar grande força social entre os diversos coletivos, articulações, movimentos, partidos de modo a levantarmos unitariamente as bandeiras mais urgentes do momento.

Nós, mulheres do movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) estaremos encampando esta luta a partir da nossa construção do feminismo popular como força organizada das mulheres trabalhadoras que têm como horizonte principal a conquista dos nossos direitos e o fim das desigualdades sociais. Consideramos um desafio candente que os movimentos de mulheres, sociais e feministas no Brasil, possam se inventar reaprendendo estratégias em que as mulheres populares se posicionem inaugurando os caminhos que poderão levar a um feminismo de conteúdo, base e direção populares. Segue sendo uma de nossas tarefas prioritárias a consolidação de um projeto político que tenha a emergência do feminismo antirracista, antilgbtfóbico e anticapitalista como sendo um movimento social de impacto, ao lado de outros movimentos sociais aglutinadores da classe popular. Assim como segue sendo de extrema importância que os movimentos mistos incorporem as pautas feministas com todo o rigor necessário à construção de uma nova sociedade sem desigualdades de raça, classe e gênero.

O aprofundamento da crise econômica no Brasil, somado à política da fome, do desemprego e da morte orquestrados pelo governo Bolsonaro tem dificultado enormemente a vida das mulheres das camadas populares. A taxa de desemprego chegou a 16,8%, enquanto, para as mulheres negras, essa taxa foi de 19,8%, de acordo com dados do Dieese. Assim, a quantidade de mulheres desempregadas em nosso país atinge 8,6 milhões. Além do que quase 51 milhões de pessoas estiveram abaixo da linha da pobreza nos últimos dois anos e mais de 19 milhões passam fome.

Alguns dados sistematizados na pesquisa “Sem Parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia” realizado pela Sempre Viva Organização Feminista indicam que 52% das mulheres negras e 46% das mulheres brancas passaram a se responsabilizar pelo cuidado de alguém durante a pandemia; 55% das mulheres negras afirmaram que as principais dificuldades do momento são o pagamento de contas básicas ou aluguel; 58% das mulheres desempregadas são negras e 39% brancas; 63% das entrevistadas responderam que a pandemia do coronavírus colocou a sustentação da sua casa em risco. A violência contra as mulheres aumentou, em que a cada duas horas uma mulher é assassinada no Brasil, sendo 66% destas mulheres negras.

A conjuntura brasileira de retirada dos direitos trabalhistas, a ausência de investimento em políticas de Estado que reduzissem o fenômeno da pobreza, a realidade de milhões de famílias em situação de fome, sem moradia garantida, a incerteza em sonhar futuros melhores deve nos impulsionar a construir atos em todos o país, defendendo a democracia, os direitos das mulheres à vida, trabalho e renda com dignidade. É fundamental que reverbere nas ruas o projeto feminista popular de sociedade, em que a vida está no centro e não o lucro de meia dúzia de empresas. Dessa forma, ecoaremos o lema nacional da construção unitária dos movimentos de mulheres, sociais e feministas “Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem Fome!” 

Assim, quando “todo dia algo tenta me matar e cai exausto agonizando de joelhos na minha frente”, nós seguimos resistindo, reinventando motivos pra sorrir e continuar lutando. Mesmo que “do abismo do nosso anonimato, temos dado provas de nossa sabedoria”.

A janela da história está aberta, ela está acontecendo neste exato momento. Seguimos confiantes de que a ousadia dos ares de março despertará a urgência da organização popular. Importante lembramos que nada é impossível de mudar. Como essa data é também dia de celebração e encontro, estaremos mais uma vez colorindo as ruas e encampando esta importante luta a partir da nossa construção do feminismo popular como força organizada das mulheres trabalhadoras que têm como horizonte principal a conquista dos nossos direitos, o fim das desigualdades sociais e a disputa pelo poder.

Que bloco é esse, eu quero saber? 

Esse é o nosso bloco, as mulheres do MTD

Estamos aqui na rua viemos lutar

Machismo e opressão vamos derrubar

Igualdade e liberdade vamos conquistar



Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga