Rio Grande do Sul

ENERGIA

Pacote de demissões é a causa do “desastre” no atendimento da Equatorial, diz sindicato

Saída de mais de mil servidores da antiga CEEE e aposta na terceirização provoca queda na qualidade do atendimento

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A Equatorial Energia fez um Plano de Demissão Voluntária no final de 2021, ao qual aderiram 998 funcionários ou 50% do efetivo da empresa - Foto: Claudio Fachel/Palácio Piratini

Um Plano de Demissão Voluntária (PDV) promovido pela Equatorial Energia no final de 2021, ao qual aderiram 998 funcionários – ou 50% do efetivo da empresa, entre os quais centenas de técnicos com muitos anos de experiência em manutenção de redes de distribuição, subtransmissão, redes subterrâneas e de subestações – é um dos eventos responsáveis pela deficiência no atendimento a milhares de consumidores de energia elétrica no Rio Grande do Sul. 

Esta é a avaliação do Sindicato dos Eletricitários/RS (Senergisul) sobre a situação atual da empresa privada que comprou e substituiu a antiga CEEE. É o que diz em nota distribuída à imprensa após vários dias com falta de luz no estado, onde classifica como “desastre” o modelo de gestão da compradora da ex-CEEE.

“A mão de obra especializada não existe mais”

No relato do Senergisul, a alta adesão ao PDV se deu pelo fato da Equatorial cortar benefícios dos empregados, como bônus-alimentação, auxílio ao plano de saúde, entre outros benefícios, desde março de 2021. “O sindicato e a categoria unida dos eletricitários adquiriram, durante meses, centenas de cestas básicas para ajudar os trabalhadores que passaram dificuldades para alimentar suas famílias”, diz o texto.

“Embora com determinação judicial para o restabelecimento desses benefícios, a Equatorial descumpriu a decisão judicial por muitos meses, forçando os empregados da antiga CEEE-D a se desligarem da empresa por total falta de condições de manter o sustento familiar com dignidade”, prossegue o documento.

Na argumentação do Senergisul, aqueles que aderiram ao PDV compunham uma parcela majoritária dos executores dos serviços essenciais operacionais da empresa. Afirma que “para se ter uma ideia do caos”, o atendimento para manutenção de subestações “está praticamente sem profissionais qualificados e com expertise na empresa para atender quaisquer tipos de ocorrência”.

Como consequência disso, cita “o grande incêndio” ocorrido na subestação de Viamão no dia 27 do mês passado. Avisa que, no atendimento à manutenção das redes subterrâneas no centro de Porto Alegre, o cenário é igual. “A mão de obra especializada não existe mais”, acentua, notando que, para um atendimento de qualidade, são necessários muitos anos para adquirir o conhecimento capaz de habilitar o profissional para atuar neste tipo de serviço especializado. 

Demissão também de quem não aderiu ao PDV

Para os eletricitários, a direção da Equatorial, além da adoção do PDV, “tão logo que findou a estabilidade de emprego de seis meses, imposta no edital de venda da CEEE-D, vem promovendo sistematicamente demissões em massa dos profissionais que não aderiram ao plano”.

A análise lista mais problemas. Para preencher as vagas abertas pelo PDV, a Equatorial – uma das tantas companhias do bilionário Jorge Paulo Lehmann, dono da AmBev – estaria contratando firmas terceirizadas, novatas no ramo e despreparadas para enfrentar a empreitada.

“No estado existem muitas cidades (entre as quais Bagé) que estão completamente desassistidas de eletricistas qualificados para o atendimento aos clientes”, assinala. Os contratados passariam por “curso relâmpago” e mandados para as ruas para atender emergências, “sem o acompanhamento e supervisão de profissionais mais antigos”. Na visão do sindicato, “não se forma um profissional do setor elétrico da noite para o dia, levando-se, no mínimo, cinco anos para que possa desenvolver suas atividades com segurança”.

De volta ao passado

Relaciona ainda o “desmonte promovido pela empresa no que tange aos veículos de cestos aéreos”. Teriam sido deixados de lado. “Regrediram a procedimentos antigos com o uso de escadas, com o intuito de redução de custos operacionais”, aponta.

A empresa extinguiu as equipes de podas de vegetais. Porém, boa parte dos cortes de luz se deve à interferência dos galhos de árvores nos alimentadores de média tensão e nas redes de baixa tensão. É uma tarefa que a Prefeitura de Porto Alegre deixou de fazer, cabendo as podas à distribuidora de energia elétrica.

Além da Equatorial, o Senergisul responsabiliza “a ação nefasta da política de privatização” seguida pelo governador Eduardo Leite – hoje no PSDB, mas de malas prontas para o PSD, do deputado federal Gilberto Kassab – e apoiada “pela ampla maioria dos deputados da Assembleia Legislativa”. Conforme o sindicato, a conta “já está sendo paga pela população”.

Resposta da Equatorial Energia

Na noite desta terça (15), a Equatorial enviou ao Brasil de Fato a seguinte nota sobre os problemas citados no texto:

“Nos últimos dias, a CEEE Grupo Equatorial informa que as interrupções de energia foram ocasionadas por três temporais seguidos, sendo um no domingo (6/3), de grandes proporções, além de dois na segunda-feira (7/3) nas regiões sul e metropolitana. 

Para o restabelecimento da energia aos 190 mil clientes impactados nessas intempéries, os prazos foram distintos, dependendo da complexidade de cada caso. Uma situação simples de falta de energia ocasionada por vento é diferente de outra, que envolve, por exemplo, queda de árvores de grande porte ou objetos sobre a rede elétrica

Em ocorrências mais complexas, são necessários os seguintes serviços:
- deslocamento e acesso de equipes às localidades com fornecimento interrompido, em alguns casos, dificultados pelas próprias ocorrências, alagamentos e dificuldade de trânsito;
- ações em parceria com outros órgãos públicos (Defesa Civil, SMAM, Corpo de Bombeiros, EPTC, etc.), já que alguns serviços prestados são interligados e envolvem várias atividades;
- isolamento da área afetada, retirada de objetos e reconstituição de postes quebrados e de toda a rede elétrica.

A CEEE Grupo Equatorial, conforme citado acima, nega que a demora no restabelecimento seja ocasionado pelo Programa de Demissão Voluntária (PDV) e afirma que o programa foi optativo, havendo a escolha, por parte dos funcionários, em aderir à proposta. Vale ressaltar que solicitaram saída da CEEE Grupo Equatorial 998 pessoas.

Até outubro de 2022, empresas terceirizadas contratarão 1,6 mil funcionários que prestarão serviços à companhia de energia em obras, serviços de campo e comerciais, fiscalizações e plantões de atendimento, sendo que 70% deste contingente já será efetivado no primeiro semestre deste ano”.


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Edição: Ayrton Centeno