Pernambuco

Coluna

Chegou a hora de disputar nosso espaço também nas eleições

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O Movimento vem trabalhando numa perspectiva de projeto mais amplo para a sociedade brasileira, chamado de Projeto Popular para o Brasil - Luiz Fernando/MST
Temos que construir uma resistência que seja capaz de derrotar o bolsonarismo

Eu sou Rosa Amorim, sou militante do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), e na minha coluna de estreia aqui no Brasil de Fato Pernambuco vamos conversar sobre o porquê de ocuparmos a política. O objetivo não é entrar em detalhes sobre a história do MST. O que será pontuado aqui é que a luta do nosso movimento é muito antiga e se constrói junto à história do Brasil, uma nação que luta pela terra, ligada à resistência dos povos indígenas, à resistência do povo negro, à formação dos quilombos, todas as revoltas e rebeliões camponesas, como Canudos, Contestado, Caldeirão e, lógico, à própria luta das Ligas Camponesas, que sempre foi a nossa grande inspiração aqui em Pernambuco.

Hoje, o MST é o maior movimento de luta pela terra no Brasil. Nesses 38 anos de existência, construímos muita legitimidade na sociedade. Nossa luta se dá pela organização dos trabalhadores e trabalhadoras rurais pela reforma agrária, por meio do trabalho de base, da formação política e da disputa ideológica. Nossa luta nasce no campo, mas está interligada à cidade. É a luta pela alimentação saudável, pela Agroecologia, pela solidariedade, é a luta das mulheres, é a luta contra o racismo, é a luta contra a LGBTQIA+fobia. 

Uma das provas de que há, de fato, essa integração entre campo e cidade é a ascensão de símbolos do MST, como o nosso boné, que está espalhado pelos espaços. Nossa luta é pelo povo. As pessoas encontram no MST um espaço de acolhimento. E é dentro dessa pluralidade que nosso Movimento vem trabalhando numa perspectiva de projeto mais amplo para a sociedade brasileira, chamado de Projeto Popular para o Brasil, que é a luta que, além da terra, pauta o trabalho, a educação, a saúde, a moradia. 

Quando o presidente Lula veio fazer sua visita a Pernambuco recentemente, em agosto de 2021, sua principal agenda foi em um Assentamento. Isso é simbólico, representa nossa potência de aglutinar campo e cidade. E é entendendo essa força que, neste ano de 2022, o MST em todo o Brasil toma a decisão de ocupar as Assembleias Legislativas e a Câmara de Deputados. Vamos ocupar essas cadeiras na luta institucional para que consigamos avançar na reforma agrária e no Projeto Popular para o nosso país. 

Ao longo de nossa história, tivemos algumas candidaturas, fruto de alinhamentos municipais e estaduais. Hoje, diante de um cenário de ameaça do bolsonarismo, a direção do MST avalia e reafirma a necessidade de, em nível nacional, adentrarmos nas eleições. É preciso atacar o bolsonarismo e o fascismo com todas as nossas forças, nas ruas, nas redes e nas eleições. Precisamos enfrentar diretamente a bancada ruralista e os grupos extremistas religiosos que se apoderam do Congresso e das Câmaras estaduais e que hoje são a principal base de sustentação do bolsonarismo. 

Garantimos que Bolsonaro não passará, os ruralistas não passarão, a ditadura não passará. Para 2022, manteremos e retomaremos o que fazemos de melhor: as marchas, as ocupações, o trabalho de base e de formação política que já vem sendo feito mesmo diante da pandemia. Tudo isso aliado à ocupação do parlamento com o voto do povo para barrar todo o retrocesso que atinge o nosso legislativo

Chegou a hora de disputar nosso espaço também nas eleições. Temos como prioridade absoluta a eleição de Lula em 2022 e, em paralelo, vamos disputar as eleições legislativas. Em alguns estados, a disputa será para o Congresso Nacional. É necessário não repetir os erros que a esquerda cometeu no passado. É hora de se lançar na política e de renová-la. É o momento de candidaturas que representem nosso povo acampado e assentado, mas não só eles. O MST se propões a representar as mulheres, a luta contra o racismo, a luta contra a LGBTQIA+fobia, a luta dos indígenas e todas as minorias sociais que vêm sendo tão atacadas nos últimos anos. 

Temos que ocupar a política partidária, sim! Mas sabemos também que não adianta só ocupar. Como na Reforma Agrária, temos também que resistir e produzir. Ou seja, temos que construir uma resistência que seja capaz de derrotar o bolsonarismo e florescer, sendo capaz de transformar Pernambuco e o Brasil.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga