Rio Grande do Sul

MARCHA

Servidores da Segurança Pública marcham ao Palácio Piratini para cobrar reposição salarial

Algumas categorias estão sem reajuste salarial há oito anos, desde que o governo Sartori iniciou o ajuste fiscal

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Marcha dos policiais civis percorreu trajeto até o Piratini - Foto: Luiza Castro/Sul21

"Uma marcha histórica." Foi assim que a Ugeirm Sindicato - que representa os agentes de polícia do Rio Grande do Sul – inspetores, escrivães e investigadores - caracterizou o movimento que reuniu mais de 5 mil policiais civis, policiais penais, servidores do IGP e do Detran-RS, nesta terça-feira (22), em Porto Alegre.

"Quem olhasse a multidão que ocupou as ruas de Porto Alegre na terça-feira, veria também o resultado de um árduo trabalho executado, desde o início de janeiro, pela base da categoria em cada canto do Rio Grande do Sul. Foram quase três meses em que a categoria atendeu o chamado da Ugeirm e se reuniu pelo Interior e em praticamente todos os departamentos da Polícia Civil na Capital", destacou o presidente do sindicato, Isaac Ortiz.

Segundo Ortiz, nessas reuniões, os ativos e inativos debatiam e se mobilizavam, conscientes que somente a mobilização seria capaz de fazer o governo sentar para negociar. Paralelo a isso, a Ugeirm se reunia com as outras entidades e fazia pressão sobre o governo do estado. "O resultado foi visto nas ruas, milhares de policiais marchando em defesa dos seus salários. Uma marcha para cobrar do governo do estado reajuste salarial após anos de vencimentos congelados." Grande parte das categorias do funcionalismo público está sem reajuste salarial há oito anos, desde que o governador José Ivo Sartori (MDB) iniciou uma política de ajuste fiscal.

No início da manhã, os (as) policiais civis começavam a chegar à Capital. Com a frente do Palácio da Polícia tomada pela multidão, a direção da Ugeirm começou a assembleia da categoria. O vice-presidente da entidade, Fabio Castro, apresentou as propostas para serem votadas. "A primeira proposta, foi a instalação de uma assembleia permanente da categoria, o que possibilita a tomada de decisões mais ágeis para a mobilização e negociação com o governo. A segunda proposta, foi a entrada em estado de greve pelos (as) policiais civis. Após a apresentação pela direção do sindicato, as duas propostas foram aprovadas por aclamação. O foco é a reposição salarial, pelo menos as perdas acumuladas desde o início do governo Eduardo Leite, que chegam a 23%”, disse Fábio Castro.


"A marcha desta terça-feira foi histórica, mas foi apenas o começo de uma grande jornada”, afirmou o presidente da Ugeirm, Isaac Ortiz / Foto: Luiza Castro

Após percorrer as principais ruas da cidade, os manifestantes chegaram à Praça da Matriz. Se concentrando em frente ao Palácio Piratini, os milhares de policiais civis exigiram ser recebidos por um representante do governo. O objetivo era apresentar o pedido das entidades, de abertura imediata de negociação. A informação que o sindicato havia recebido no dia anterior, era de que o governo não recebia nenhuma entidade que realizasse manifestação em frente ao Palácio Piratini. No entanto, a dimensão gigantesca da Marcha da Polícia Civil conseguiu fazer o governo recuar e receber um representante de cada entidade.

Outras categorias das forças de segurança, representados pela ACP-RS, Acrirgs, Amapergs, Asdep, Sindet-RS, Sindiperícias e Sinpol -RS), se somaram à manifestação dos policiais diante do Palácio Piratini. “Os servidores penitenciários nunca pararam e estiveram na linha de frente ao longo da pandemia de coronavírus. Nada mais justo que sejam ouvidos e valorizados”, disse Saulo Felipe Basso dos Santos, da Amapergs.


Os policiais penais, que estavam concentrados na Redenção, se juntaram à manifestação engrossando a multidão que se dirigia ao Palácio Piratini / Foto: Luiza Castro

Casa Civil recebe lideranças sindicais

Os Sindicatos foram recebidos pelo Secretário-Chefe Adjunto para Assuntos Político-Institucionais da Casa Civil, Bruno Pinto de Freitas, que fez questão de afirmar que, até o momento, o governo não definiu nenhum índice de reajuste para o funcionalismo, destacando que esse assunto ainda está em discussão pela área econômica do governo e os índices publicados na imprensa, não são do governo.

Os representantes das entidades comunicaram ao governo que o índice de 5%, que vem sendo ventilado pela imprensa, é inaceitável, pois não cobre nem mesmo a inflação do último ano. Caso essa proposta seja apresentada, não será aceita em hipótese nenhuma. Por isso a mobilização que ocupou a Praça da Matriz, exige a abertura imediata de negociação por parte do governo. O representante do governo se comprometeu a encaminhar a reivindicação ao governador.


Sindicatos foram recebidos pelo Secretário-Chefe Adjunto para Assuntos Político-Institucionais da Casa Civil, Bruno Pinto de Freitas / Foto: Luiz Castro

A Assessoria de Comunicação do governo do estado se pronunciou no fim do dia, afirmando que o governador Eduardo Leite estava em compromissos durante toda a tarde, o que o impossibilitou de receber os manifestantes. Em nota, o Executivo também informou que “o governo está empenhado em avaliar a viabilidade de um reajuste aos servidores dentro dos limites possíveis”.

Ao final da manifestação na Praça da Matriz, as entidades foram recebidas pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Valdeci Oliveira (PT). Na reunião, os representantes dos servidores da Segurança apresentaram a pauta de reivindicações das categorias, além de solicitar ao parlamentar, que a Casa intercedesse no sentido da abertura de negociação do governo com as entidades. O presidente da Assembleia Legislativa se colocou à disposição das entidades, reconhecendo a justiça das reivindicações e se comprometendo a interceder junto ao governo, para que se abra o diálogo com as entidades da Segurança Pública.

Entidades se reunirão para encaminhar os próximos passos da mobilização

Ao final da Marcha, ficou acertado que as entidades da Polícia Civil se reunirão para discutir os rumos da mobilização. "A manifestação vitoriosa dessa terça-feira, mostrou que a unidade entre todos os setores da Segurança Pública é o único instrumento capaz de fazer o governo abrir negociação. Na pauta de discussão, estarão novas manifestações e, até mesmo, a possibilidade de uma paralisação, caso o governo mantenha a sua postura de não negociação com as entidades", destacou Ortiz.

O presidente da Ugeirm salienta que a mobilização histórica deu um claro recado ao governo: "não vamos aceitar que nos tratem com o desrespeito que estamos sendo tratados atualmente. A Segurança Pública é a principal vitrine desse governo. Os resultados alcançados por esses (as) trabalhadores (as) têm que ser reconhecidos! Não é possível, que um governo que alardeia o maior superávit em décadas, não tenha dinheiro nem vontade política para conceder, ao menos, uma reposição salarial para quem permaneceu nas ruas durante um dos momentos mais difíceis da nossa história, que foi a pandemia do coronavírus. O recado está dado: vamos permanecer nas ruas, até o governo nos atender e todas as possibilidades estão colocadas na mesa.”


Servidores do Judiciário também se mobilizaram / Foto: Luiza Castro/Sul21

Mobilização dos servidores do Judiciário

Paralelamente ao ato promovido por servidores das forças de segurança, a União dos Trabalhadores do Sistema de Justiça do RS também promoveu uma assembleia geral e um ato unificado nesta terça para cobrar reposição salarial para as categorias, que estão sem reajuste há oito anos e calculam que as perdas ante a inflação já acumulam 53% no período. A União pede um reajuste mínimo de 10,06%, que é o equivalente à inflação acumulada apenas no último ano.

O Sindjus também protocolou um ofício no Tribunal de Justiça pedindo a revisão da matriz salarial e uma mesa de negociação permanente para poder debater como recuperar as perdas salariais desse período. O sindicato pretende ainda protocolar junto à Casa Civil um estudo feito pela assessoria econômica da entidade que aponta que há margem nas contas públicas para a concessão de um reajuste linear de 10,06% para todos os servidores estaduais.

“O Sindjus, há mais de um mês, vem tentando um diálogo com a Casa Civil. Não conseguimos obter esse diálogo, temos estudos indicando que é possível que o governador remeta um projeto de lei com um índice maior do que os 5,53% ofertados, que há margem fiscal e orçamentária para isso sem nenhum prejuízo às contas do Estado, mas o governador parece que está intransigente nesse aspecto, quer enviar esse índice sem ouvir as entidades”, explica Fabiano Zalazar, coordenador-geral do Sindjus.

* Com informações da Ugeirm Sindicato e Sul 21


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Edição: Katia Marko