Cerca de cem pessoas protestaram, na manhã desta segunda (4), em frente ao Palácio do Campo das Princesas, onde trabalha o governador do estado, no centro do Recife. São familiares da menina Heloysa Gabrielle, de 6 anos, morta na última quarta-feira em Porto de Galinhas, atingida por um tiro durante ação policial. A família denuncia que está sofrendo ameaças, cobram o afastamento dos policiais envolvidos na operação, além de que o batalhão responsável deixe de atuar nos bairros de Salinas, Socó e Pantanal.
No protesto em frente ao Palácio também estão presentes movimentos e organizações civis que prestam solidariedade à família. Antes do ato houve uma reunião do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) com familiares de Heloysa, lideranças do distrito de Salinas e a equipe de juristas que acompanha o caso. No fim da manhã, a família foi recebida pelo Secretário da Casa Civil, José Francisco Cavalcanti Neto.
Os protestos têm sido diários desde a morte da criança, o que tem afetado o trade turístico de Porto de Galinhas. O Governo do Estado respondeu à situação enviando ainda mais polícia: foram 250 policiais (50 viaturas) mandados ao distrito na madrugada da última sexta (1º). No mesmo dia diversas entidades de defesa dos Direitos Humanos e de defesa do povo negro emitiram nota criticando a ação da PM e a postura do governo (leia ao fim da matéria).
A criança foi morta enquanto brincava no terraço de casa, na tarde da quarta-feira (30). O caso aconteceu na Salinas, bairro mais populoso de Porto de Galinhas, que é distrito da cidade de Ipojuca, na região metropolitana do Recife. Sobre o caso, na última semana o Brasil de Fato entrevistou a advogada Edna Jatobá, do Gabinete Jurídico de Apoio às Organizações da Sociedade (Gajop), entidade que atua na defesa dos Direitos Humanos.
Jatobá classificou a operação como “desastrosa” e criticou a forma que a Polícia Militar atua em bairros pobres. “Uma operação que ocorre com troca de tiros à esmo, numa comunidade populosa como Salinas, é de se esperar que algo desse tipo aconteça”, avalia a jurista. Ela aponta que o Governo do Estado autoriza esse tipo de ação e, por isso, também deve ser considerado responsável.
A Polícia Militar alega que houve uma troca de tiros com traficantes e ainda não era possível afirmar de quem partiu o tiro que matou a criança. Mas moradores afirmam que não houve troca de tiros, apenas disparos efetuados pela Polícia Militar, que perseguia um único suspeito, que fugia numa moto. A operação policial foi realizada pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope).
A RMR teve, de 2018 a 2022 (período total da pesquisa do instituto), 286 baleados durante operações policiais, dos quais 127 (44,4%) morreram. Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, no ano de 2021 a região metropolitana do Recife teve 1 criança e 70 adolescentes mortos por armas de fogo. Em 2022, só no período de janeiro ao fim de março, já temos 1 criança e 23 adolescentes mortos por arma de fogo.
Edição: Vanessa Gonzaga