Ceará

COMITÊS POPULARES

Entrevista | "Os Comitês Populares são imprescindíveis na atual conjuntura brasileira"

Joana Borges falou sobre a importância da organização e da construção de comitês populares de luta pela democracia

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte CE |

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Lançamento do Comitê Popular do Assentamento 10 de Abril, Crato - CE - Comitês Populares Ceará

Os Comitês Populares são espaços que reúnem e acolhem todas as pessoas que querem contribuir para melhorar a vida do povo brasileiro. O principal objetivo da sua criação é construir uma estrutura organizativa popular, em todo o país, que estimule uma campanha ampla, plural e organizada em defesa de um projeto popular para o Brasil e de contribuir na elevação do nível de consciência política do povo brasileiro.

Os comitês podem ser organizados por rua, comunidade, bairro, cidade, por local de estudo, de trabalho, por luta setorial, comitê digital e em torno de pré-candidaturas, mandatos parlamentares e de todas as formas possíveis de organização que facilitem a reunião de pessoas.

Para falar sobre a importância da construção desses comitês populares de luta, o Brasil de Fato conversou com Joana Borges, historiadora, psicanalista e da coordenação nacional do Movimento Brasil Popular. Confira.

Brasil de Fato – Então Joana, gostaria que você começasse falando um pouco sobre o que são os Comitês Populares e a importância em construir esses comitês ao longo desse ano?

Os Comitês Populares de Luta têm o objetivo de serem desenvolvidos e construídos cotidianamente, de maneira orgânica nos territórios, para que a gente reviva e reative algum vínculo mais real de construção com as pessoas em cada território em que elas estão inseridas. E para que a gente consiga construir novas visões e novas versões sobre que país queremos é necessário que estejamos no local com essas pessoas. É nesse sentido que nós buscamos construir os comitês, visando organizar um pouco dessas pessoas para fazer frente a esse governo atual que tanto desgasta e deixa vulnerabilidade no meio da população.

Brasil de Fato – E quais são os tipos de ações que são feitas ou que se propõem fazer nesses comitês? Muitas vezes associamos os comitês somente a eleições, mas qual é a diferença desses comitês populares para os comitês eleitorais e quais as ações práticas cotidianas desses comitês?

Isso é muito legal porque uma das coisas mais interessantes desses comitês é que não há uma programação fixa, a ideia é que possam ser desenvolvidas em vários tipos de atividades, de acordo com as necessidades e como o caráter das pessoas também que estão envolvidas. É um tipo de comitê que pode ser construído por diversos vieses, se será mais voltado para cultura, ou que vai tratar e organizar as pessoas a partir de atividades esportivas, que vai propor discussões a partir de filmes, a partir de formações políticas, ou somente a partir de problemas concretos dos bairros e das localidades dos territórios.

Então a ideia é que esses comitês possam ser um local de encontro, de fazer com que as pessoas voltem a se encontrar, voltem a falar sobre política, voltem a falar sobre o desejo de mudar o país e isso difere um pouco também de apenas comitês voltados para a eleição. Além disso, a ideia é que os comitês populares não sejam simplesmente pedir voto para aquele candidato, mas, seja um comitê que consiga organizar as demandas do povo. Por isso esses comitês são, de fato, espaços mais densos, que conseguem trazer mais elaborações e reflexões acerca das necessidades reais e não simplesmente um local de apelo de voto.

Brasil de Fato – Então pelo que você tem trazido, os Comitês Populares de Luta colaboram também para um processo de construção de um programa de país?

Sim, a ideia é que a gente possa estabelecer espaços físicos que não necessariamente sejam construídas apenas para o comitê, mas a casa de uma pessoa pode ser um comitê, uma cozinha popular pode ser um comitê, uma livraria pode ser um comitê. Na verdade, a ideia do comitê é que ele possa existir aonde tenha vontade, aonde tenha esse impulso de construir coletivamente a política para o nosso país. Mas é de fato um local de encontro, independentemente de onde esse local venha a ser o objetivo dele é proporcionar esse encontro para que as pessoas voltem a discutir que tipo de país a gente quer. É fazer com que a política volte para o cotidiano das pessoas de uma maneira positiva, que elas consigam se perceber como sujeitos da própria história nesse processo de construção do país.

Então é meio que retomar uma ideia que aqui no Brasil já existiu de diversas formas, seja por ações da igreja, seja por ações do nascimento de vários partidos ou centrais sindicais, movimentos populares, que em algum momento conseguiram pulverizar, fazer enraizamento de diversos locais, em diversas cidades, em diversos municípios e que isso se perdeu um pouco com o tempo. E nesse momento político atual brasileiro, nessa conjuntura tão difícil a gente percebe que é imprescindível fazer com que mais pessoas voltem, de fato, a pensar coletivamente.

Brasil de Fato – Além do Movimento Brasil Popular que tem desenvolvido já essa iniciativa em diversos territórios por todo o Brasil, quais os outros movimentos ou organizações que estão envolvidos nessa construção aqui no Ceará?

Muitas organizações de diversos caracteres e tipos estão envolvidos na construção dos comitês populares, de partidos como Partido dos Trabalhadores, a própria Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Levante Popular da Juventude, o Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), então é uma gama de movimentos populares organizados, sindicatos e partidos políticos que estão envolvidos em construir nos municípios possíveis comitês de luta para que a gente consiga avançar na organização popular.

Brasil de Fato – E para quem está nos ouvindo e tem interesse em construir comitês populares em seus territórios, quais os canais de comunicação dos comitês que já existem para acessar materiais e trocar informação?

Nacionalmente existe uma secretaria que coordena o trabalho dos comitês populares, assim como também existe um Site oficial e uma página do Instagram, que você encontra buscando por Comitês Populares de Luta. Além desses canais, você pode também encontrar através dessas organizações que já tem se mobilizado e se articulado para efetivar a construção desses comitês em seus territórios. Mas de cara é importante a busca direta na página oficial nacional que lá você encontra vários materiais já disponíveis, a Cartilha Comitê Popular que já está confeccionada para poder debater os comitês, cartazes, adesivos e uma gama de outros materiais.

Brasil de Fato – E sobre o formato atual desses Comitês Populares de Luta pela Democracia, a perspectiva é que mesmo passada as eleições eles continuem? E como os movimentos que já constroem essa iniciativa estão visualizando esse processo de continuidade? E quais os próximos passos desses comitês?

Existe um otimismo muito grande da parte de quem já está envolvido na construção dos comitês de que esses organismos possam permanecer ativos por muito tempo. A ideia é que em cada localidade, todo mundo que consiga se organizar e participar desses comitês criem um vínculo real e duradouro entre as pessoas que constroem, mas também com o objetivo de construir um organismo de base, no seu local de atuação, no seu local de moradia.

Brasil de Fato – E como que vocês têm orientado esses comitês em relação aos cuidados sanitários, que mesmo com a flexibilização que a gente tem vivido os órgãos sanitários nacionais e internacionais orientam ainda cautela e cuidado? Como é que vocês têm trabalhado isso nessas construções dos comitês?

A gente tem orientado de acordo com o que vem sido pautado pelos órgãos internacionais e pela ANVISA, que é permanecer o distanciamento social, manutenção do álcool em gel, e embora o uso de máscaras aqui no estado do Ceará já esteja liberado a gente ainda incentiva que quem possa estar utilizando a máscara continue usando de modo que a gente consiga preservar ainda mais a saúde de cada um e de cada uma. Mas no geral a gente está garantindo pelo menos a manutenção do álcool em gel, distanciamento e incentivando o uso de máscara.

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Edição: Francisco Barbosa