Paraíba

MEIO AMBIENTE

“Menos de 8% da Caatinga é protegida legalmente”, afirma pesquisador

Caatinga ocupa 90% do território paraibano e é responsável por importantes processos ecossistêmicos

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |

Ouça o áudio:

Professor Bartolomeu de Souza, do Departamento de Geociências da UFPB. - Arquivo Pessoal


O Dia Nacional da Caatinga é celebrado em 28 de Abril, data do nascimento do professor João Vasconcelos Sobrinho, pernambucano pioneiro em diversos estudos ambientais no Brasil e um dos responsáveis pela criação da Universidade Rural de Pernambuco. O nome Caatinga na língua indígena significa Mata Branca: 'Caa' - mata e 'tinga' – branca, por conta de uma das características mais comuns em boa parte da flora desse bioma, que é a perda das folhas na longa estação seca e também o “embranquecimento” nos troncos das árvores, que na realidade são formas dela se defender contra a falta d'água nos períodos de longa estiagem. A Caatinga na Paraíba atinge mais de 90% do Estado, excluindo as áreas da mata atlântica, do cerrado e dos brejos de altitude, todo o restante da Paraíba é originalmente Caatinga.   


Prof. Bartolomeu (de camisa vermelho) e alunos, no Cariri Paraibano. / Arquivo Pessoal

O professor Bartolomeu de Souza, do Departamento de Geociências da UFPB, desenvolve trabalhos sobre a biogeografia da Caatinga e estudos sobre processos de desertificação. Os trabalhados do pesquisador acontece desde a década de 90, com estudos e pesquisas voltadas principalmente ao Cariri Paraibano onde a desertificação chega a atingir cerca de 70% da região, entre processos mais e menos intensos, “A Caatinga tem uma vegetação predominantemente caducifólia, ou seja, onde você tem a perda de folhas na estação seca, que é um recurso usado para reservar água, e outra característica que acentua é a falta de chuva, devido a pouca profundidade do solo que faz com que ele tenha baixa capacidade de armazenar água, que no caso, acentua a seca meteorológica. E assim, os processos de desertificação acabam atingindo não só fauna e flora, como também os solos, os recursos hídricos e, consequentemente, toda a sociedade”, explica o pesquisador.


Preservação da Caatinga


O Brasil é signatário de diversos acordos internacionais em que se compromete a conservar muitos biomas, dentre eles a caatinga, mas na prática o país acaba não realizando e cumprindo tais acordos. Os dados ainda são alarmantes quando falamos em desmatamento e atualmente, como apresenta o professor Bartolomeu, menos de 8% da Caatinga é protegida legalmente, e desse percentual, apenas 1.3% é de proteção integral. “Ainda existe um fator importante, que é dar condições a população local para que elas não necessitem do recurso madeireiro para sobreviver, pois atrelado à questão biológica, ecológica, tem toda uma questão social e econômica, porque boa parte das pessoas que desmatam não faz isso por querer, mas por necessidade de sobrevivência. Não adianta só preservar e manter algumas áreas protegidas tem que oferecer condições sociais e econômicas dignas para que a população possa ser um elemento que contribua para essa conservação”, afirma o professor.

 

PEC 504/2010


No mês de abril, durante audiência pública sobre meio ambiente, especialistas cobraram a aprovação de uma proposta de emenda à Constituição, a  PEC 504/2010, que reconhece o bioma caatinga como patrimônio nacional. Essa proposta já passou pelo Senado e está em análise na Câmara dos Deputados. Os debatedores mostraram, em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente, iniciativas de manejo e recuperação do semiárido brasileiro, pontuando a as riquezas em biodiversidade e potencial de energia solar. O professor Bartolomeu enfatiza que a Caatinga contribui de forma direta no equilíbrio ambiental da região Nordeste. “A vegetação cumpre uma série de serviços ecossistêmicos, em especial, com relação a evitar processos erosivos, auxiliar na recomposição hídrica dos rios e açudes, de que tanto a Região Nordeste depende. A partir do momento que não acontece um cuidado e preservação desse bioma, toda uma região, toda uma cobertura, fica comprometida. Isso acaba implicando em solos menos férteis e inviabilizando a prática, por exemplo, da agropecuária, o que afeta a economia e quem depende dela para viver, ou seja, para cuidar e preservar esse bioma deveria se cumprir minimamente o que tá previsto na lei: diminuir desmatamento e ter práticas agrícolas sustentáveis, como por exemplo, a agroecologia”, afirma Bartolomeu.

     

Edição: Heloisa de Sousa