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Bancários desmentem acusações e dizem que Fenaban tenta colocar a categoria contra sindicato

Fenaban declarou que atuação do sindicato coloca em risco postos de trabalho; Para os bancários, afirmação é uma ameaça

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Fabiano Moura defendeu liberdade e autonomia do movimento sindical
Presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Fabiano Moura defendeu liberdade e autonomia do movimento sindical - Fátima Pereira

O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Crédito no Estado de Pernambuco, conhecido como Sindicato dos Bancários de Pernambuco, respondeu às declarações da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) veiculadas na mídia de que sua atuação estaria colocando em risco o emprego dos trabalhadores.

Para os bancários, a afirmação é uma ameaça, feita em retaliação à campanha contra acumulação de lucro dos bancos. “É uma coisa absurda o que os banqueiros estão fazendo, querendo colocar sindicato contra a categoria e a sociedade”, afirmou ao Brasil de Fato Pernambuco o presidente do sindicato, Fabiano Moura.

Em reportagem publicada nessa quarta-feira (11), a Fenaban (que é o sindicato patronal dos bancos) falou ao Blog de Jamildo que os bancários estariam resistindo a negociações e teriam faltado a audiência de mediação que marcaram para o último dia 2, cuja pauta era uma campanha de comunicação que classificaram como agressiva. “Em vez de defender o emprego dos bancários, o sindicato oferece estímulos para que os postos de trabalho destes migrem para outras categorias que não os representa”, foi o que disse na entrevista José Otávio Carvalho, advogado da Fenaban.

Leia: Sem segurança, Unidades de Negócio colocam a vida de clientes e bancários em risco

No entanto, Fabiano Moura desmentiu a afirmação que os bancários teriam faltado uma audiência de mediação coletiva e se fechado para negociações, informando não terem sido notificados sobre a realização da reunião. A versão é amparada por uma certidão assinada por Maria Lucinete Antunes, chefe do Núcleo de Relações de Trabalho da Superintendência Regional do Trabalho em Pernambuco.

“Certifico, a pedido verbal da entidade sindical [dos bancários], que não houve confirmação de recebimento do convite por parte dessa entidade, por meio do endereço eletrônico fornecido pela Federação Nacional dos Bancos. O referido é verdade. Dou fé", diz o documento.


Fabiano Moura defendeu a autonomia e liberdade sindical em ato realizado na última sexta-feira (16) pelo sindicato em Carpina, na Mata Norte, / Divulgação

O presidente ainda ponderou que o sindicato está sempre aberto a negociações, uma vez que trata-se de "um princípio básico do movimento sindical".  Assim, ele declarou que os bancários não irão recuar nos seus posicionamentos. “Ameaçaram a mesa de negociação e os bancários, dizendo que o que a gente fazia provocaria demissão. Mas quem demite são eles, com a política gananciosa que os bancos têm”, colocou.

Denúncia de condições de trabalho

A campanha em questão levava o mote “Banqueiros inimigos nº 1 do Brasil - Santander, Bradesco e Itaú” e foi veiculada em outdoors e outbus por cerca de 15 dias no último mês de dezembro. Moura contextualizou que o objetivo era promover um diálogo com a sociedade sobre a situação dos trabalhadores dos bancos privados. “Na pandemia os bancos ficaram abertos, e nesse processo os trabalhadores se expuseram demais. Nós conversamos com a Fenaban para não demitirem durante a pandemia, eles se comprometeram com isso de forma informal, mas não cumpriram. Demitiram durante a pandemia, exigiram metas abusivas no auge do lockdown”, expôs.

Em meio a isso e a despeito dos impactos sentidos na economia, as instituições bancárias registraram um lucro recorde, lembrou o presidente. Só Bradesco, Itaú e Santander, os três maiores bancos privados, lucraram R$ 61,7 bilhões em 2021. “Nós fizemos uma campanha associando esse recurso do capital improdutivo que os bancos produzem à miséria, à fome e ao desemprego”, falou. “Nós não somos contra o lucro do banco, e sim do capital improdutivo”, acrescentou. 


Categoria denunciou mortes de bancários durante lockdown / Divulgação/Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Ainda segundo ele, os bancos teriam se incomodado com e sugeriram uma primeira audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho, que aconteceu no dia 9 de março. 

“Nós fomos para a audiência. A proposta do banco era que a gente retirasse a propaganda e se comprometesse a não colocar outras campanhas desse nível. A juíza que acompanhou essa audiência de conciliação indeferiu o pedido deles, dizendo que não cabia ao tribunal julgar essa questão, pois não tratava de dissídio coletivo, e sim de uma ação sindical que foi feita para provocar um debate entre os banqueiros, sociedade e trabalhadores”, relatou.

Independentemente da decisão da Justiça, Moura afirmou que os bancários não iriam acatar ao pedido. “Nós temos liberdade e autonomia sindical. Não vou fazer acordo com banqueiro para dizer que não vou fazer algum tipo de campanha”, reforçou.

A reportagem do Brasil de Fato Pernambuco procurou a Fenaban por um posicionamento, mas, até a publicação desta matéria, não houve retorno. O espaço está aberto.
 

Edição: Vanessa Gonzaga