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SAMBA

"Em Pernambuco, o samba é gestado e parido por mulheres", destaca sambista

Cantoras como Karynna Spinelli e Maria Pagodinho garantem a continuidade da representação feminina no samba em Recife

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Em todo o País, as mulheres têm se mobilizado para garantir uma participação feminina cada vez maior no samba
Em todo o País, as mulheres têm se mobilizado para garantir uma participação feminina cada vez maior no samba - Franklin Levy

O samba toma conta das ruas da capital pernambucana, do centro às periferias com um protagonismo feminino, que não aceita ser só aquela sobre quem se canta, mas quer contar e cantar suas próprias histórias. No estado, cada vez mais mulheres tem ocupado este espaço de ancestralidade, política e cultura que é o samba.

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“Em Pernambuco, o samba é gestado e parido por mulheres. Demorou muito para chegar neste ponto, mas é isto, mesmo. Tem aí Dona Selma do Samba, Gerlane Gel, Maria Pagodinho, Gracinha do Samba, Gerlane Lopes, Leide do Banjo, Viviane Santos, Helena Cristina, Gabi do Carmo, Luisa Pérola, … Vê o quanto, e ainda tem muito mais aí". Quem fala é cantora e compositora Karynna Spinelli, puxadora da Escola de Samba Galeria do Ritmo e produtora do Clube do Samba do Recife, no Morro da Conceição, onde, além dela, muitas mulheres cantam e tocam samba.

Mas a participação das mulheres nas rodas de samba não é algo recente. A cantora Maria Pagodinho começou sua trajetória no samba há 35 anos no Pagode do Didi, no centro do Recife, onde canta até hoje como voz principal da roda de samba. 


Maria Pagodinho é quem puxa a roda de samba no Pagode do Didi, no Recife / Arquivo Pessoal

“No início, era pouca gente quando eu comecei. Eu fui a mulher que cantou em roda de samba, principalmente lá no Pagode do Didi, que cantava sem som e eu fazia a roda de samba de partido alto, eu fui a primeira mulher aqui”, destaca Maria que, além de cantar, também já produziu eventos de samba para garantir que seu protagonismo se estendesse para outras gerações.

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Protagonismo das mulheres negras

E, apesar de uma das principais figuras para o surgimento do samba ter sido uma mulher negra de terreiro, a ialorixá Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, também conhecida como a mãe do samba; as mulheres ainda enfrentam o machismo quando participam desses espaços. “Com toda a dificuldade, discriminação e críticas destrutivas com a parte das mulheres negras, que a gente ainda vê isso e a gente vai lutar e continuar lutando para que isso acabe”, destaca Maria.

E nas escolas de samba o debate está sendo construído. “As escolas de samba ainda guardam muito a questão da mulher ter um lugar de cuidar da comida de fulano que está trabalhando, de costurar isso ou aquilo, sair na ala das baianas. Eu acho que todos os espaços precisam ser ocupados por todas as pessoas, independente se é homem ou se é mulher, mas isso ainda não acontece”, aponta Karynna.

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Encontro Nacional de Mulheres nas Rodas de Samba

Em todo o País, as mulheres têm se mobilizado para garantir a participação feminina, uma delas é o Encontro Nacional de Mulheres nas Rodas de Samba, que começou no Rio de Janeiro e teve sua terceira edição no Recife, em 2020. O evento político e cultural acontece anualmente com o objetivo de reunir mulheres sambistas para reivindicar seu espaço.

Para Maria Pagodinho, é preciso garantir a união delas para que o amor ao samba seja maior que qualquer preconceito. “O samba é a união de todos! Quem gosta de samba, quem pratica o samba, quem curte samba, quem levanta a bandeira do samba. Ai, o samba para mim não tem lado. O samba é o maior!”, acredita a cantora.

Edição: Vanessa Gonzaga