Pernambuco

BOLOS

Mulheres assentadas da reforma agrária produzem merenda para mais de 40 mil estudantes em PE

As boleiras do Assentamento Normandia se uniram em 2014 para melhorar a renda e hoje produzem 5 mil bolos por dia

Brasil de Fato | Recife (PE) |
A fábrica de bolos que conta com uma cozinha coletiva e utiliza alimentos produzidos pela agricultura familiar - Pedro Stropasolas

Em 2014, um grupo de mulheres do Assentamento Normandia, em Caruaru, no agreste pernambucano, criou uma rede de boleiras que hoje produz 5 mil bolos por dia. O que começou para melhorar a renda familiar, hoje se tornou uma fábrica de bolos que conta com uma cozinha coletiva e utiliza alimentos produzidos pela agricultura familiar.


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Antes de possuírem a estrutura de agroindústria, as boleiras levavam seus próprios utensílios de cozinha para garantir a produção, como relembra Valdenir Pinheiro. “Uma trazia uma batedeira, uma o liquidificador, uma trazia uma colher de pau, porque na época era uma bacia, e assim foi trazendo as coisas de casa, todo mundo trazia. Daqui a pouco a gente via a nossa casa dentro da cozinha das boleiras”, relembra a boleira.

Hoje, o grupo produz diversos tipos de bolos, como o "de saia", assado em embalagens de papel que se assemelham à peça de roupa nos sabores milho, macaxeira e banana, que vão para creches e escolas do agreste e da capital através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Os produtos feitos no assentamento já estão na merenda escolar de mais de 40 mil estudantes da Rede Estadual Ensino em Pernambuco. Só no Recife, são 56 escolas e no agreste mais 27 unidades escolares também recebem os bolos.

Renda para mulheres

O que parecia ser uma receita de bolo fermentada pela união das mulheres mudou não só a rotina das trabalhadoras, como também trouxe uma nova maneira de perceber os preconceitos dentro do mercado de trabalho.

“A gente sofreu muito preconceito no início, porque as pessoas falavam: ‘oxe, um grupo de mulheres? Por que não homem também?’, mas veio aí, a gente enfrenta até hoje esses preconceitos, mesmo do marido - ‘não, porque a mulher vai ter que trabalhar e passar o dia fora?’. A gente enfrentou mesmo e conseguimos nos organizar tudinho”, afirma Lucicleide Silva, assentada e boleira de Normandia.

Apesar dos entraves, o crescimento da iniciativa atesta sua importância “A gente produzia, a cada 30 minutos, 60 bolinhos de saia. Hoje, a cada 30 minutos a gente produz 420 bolos de saia. Então, a gente foi investindo também em equipamentos e eles foram dando qualidade e satisfação porque aí a gente se cansa menos”, destaca a boleira Mauricéia Matias, uma das fundadoras do grupo,

Ela completa, olhando para o avanço na produção “Quanto mais organização a gente foi tendo, foi melhorando esses tempos que estão tão difíceis”.

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Edição: Vanessa Gonzaga