Pernambuco

Coluna

Não serei interrompida

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"A onda anticomunista que vive o Brasil é uma grande cortina de fumaça para o preço da carne, do gás, da conta de luz" - Foto: Luiza Dorneles / Amigos da Terra Brasil
É nítida a tentativa da extrema direita de me desqualificar, através de fake news

Estamos no país que mais assassina militantes de direitos humanos nas Américas. Na nação fundada com o preço da colonização, do sangue indígena e da escravização do povo negro. Por aqui impera até hoje a violência contra o povo negro e indígena. Nós mulheres negras aprendemos a viver em cidades e espaços que não foram construídos para nós.

O povo negro é maioria em um país que tinha um plano governamental de eugenia, desde cedo aprendemos o que nossos ancestrais vão chamar de arte da sobrevivência, aprendemos a driblar a morte, o medo é como uma sombra que tenta nos perseguir, mas a negritude que construiu esse país é corajosa. 

Começo esse texto desse jeito para dizer que o racismo, ele tenta nos interditar, calar nossas vozes, parar a nossa luta, mas ser interrompida não é uma opção para mim. Não admitiremos mais mentiras sobre quem somos, sobre a nossa história e luta. Ataques, notícias falsas, xingamentos e toda tentativa de censura e desumanização da minha figura não serão maiores do que os sonhos coletivos que carrego comigo de uma sociedade mais justa e igualitária que não faça homenagem a escravagistas, ditadores e torturadores.

Chegar ao parlamento sendo uma mulher negra na 4ª Câmara mais branca das capitais do país, é coisa de quem não tem medo de enfrentar as injustiças do nosso tempo. Estar em um espaço de poder que não foi pensado para mim é um desafio diário, é um exercício de acreditar em uma democracia que de fato não represente a burguesia branca brasileira que tem sangue nas mãos, que historicamente faz política através das ameaças e da morte.

Nesse clima de violência e ataques políticos fui vítima de calúnia, difamação e ameaças após solicitar, através do requerimento 3582/2022, a retirada do busto de Humberto de Alencar Castello Branco, do canteiro central da ponte Castelo Branco, na Avenida Caxangá. O requerimento foi rejeitado, mas a partir disso começou a ser publicado em vários blogs, sites e perfis da extrema direita uma fake news informando que eu teria solicitado a troca do busto do ditador Castello Branco pelo busto do ex-presidente cubano Fidel Castro, depois da disseminação dessa mentira, recebi diversos e-mails com ameaças e intimidações. Vale salientar que em nenhum momento foi solicitado colocar busto de qualquer figura histórica.

A onda anticomunista que vive o Brasil é uma grande cortina de fumaça para o preço da carne, do gás, da conta de luz. Notícias como essa surgem para esconder da população o quanto é difícil viver nesse país. Estamos sendo ameaçadas por defender a democracia, a vida e a segurança alimentar. Invocam outros nomes, mentiras e fatos políticos para não dar solução para os problemas do povo. 

É nítida a tentativa da extrema direita de me desqualificar através de fake news e ameaças, partem da ideia que uma mulher negra é uma ameaça ao plano de poder e privilégios de uma parte minoritária da sociedade. Se acharam que iriam me calar, destruir ou interromper, quero que saibam que estou pronta para a chegada da primavera, que nós que acreditamos em uma democracia feita através das forças populares, antirracistas e feministas continuaremos a ocupar os espaços. Nós mulheres negras continuamos sonhando e lutando por dias melhores, por uma democracia plena comprometida com o fim do racismo, do patriarcado e do capitalismo. 

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga