Pernambuco

ciclo junino

Artistas e políticos reagem à suspensão do São João e Prefeitura do Recife pode voltar atrás

Medida vem sendo criticada; sugestão é cortar de áreas como publicidade, que tem R$ 52,5 milhões no orçamento municipal

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Festa popular, o São João tem tradição na cidade
Festa popular, o São João tem tradição na cidade - Andréa Rêgo Barros/PCR

Na manhã desta segunda-feira (30) o prefeito do Recife, João Campos (PSB), anunciou a suspensão dos festejos de São João na capital pernambucana, direcionando os R$15 milhões da festa para as medidas de atendimento às famílias atingidas pelas chuvas que iniciaram na última sexta (27). A decisão do Executivo municipal foi rebatido de pronto por artistas e fazedores da cultura.

O rabequeiro Maciel Salú divulgou uma nota afirmando que “mais uma vez a cultura paga a conta”. “Suspender o São João é desesperançar. É tirar a perspectiva das trabalhadoras e trabalhadores da cultura que precisam desse recurso para continuar resistindo e existindo”, lembrou.

O cantor Siba Veloso também criticou. “Até parece que é só daí que pode sair verba. Até parece que não tem recurso. Será que tem que ser desse jeito, colocando carga nas costas de artistas, técnicos e até em Dona Maria, que queria vender milho no São João?”, disparou, sugerindo cortar apenas os cachês dos artistas que recebem três dígitos e fazer uma festa mais popular, “com forró, coco e quadrilha, seria bom demais”.

Na Câmara de Vereadores do Recife a medida foi apoiada por Alcides Cardoso e Luiz Eustáquio, ambos do PSB, partido do prefeito João Campos. Por outro lado, Ivan Moraes (PSOL) foi um dos primeiros a se posicionar contra o cancelamento dos festejos juninos, medida que ele classificou como “precipitada”.

Ele lembrou dos artistas populares e quadrilhas juninas que dependem do São João e estão sem poder realizar suas atividades há dois anos. “No orçamento municipal há R$ 52,5 milhões para a propaganda”, destacou, sugerindo que o gasto se limitasse aos mesmos R$40 milhões de 2021. “Ainda teríamos em caixa pelo menos R$ 12,5 milhões”, aponta ele, sugerindo que tal valor fosse destinado às ações emergenciais.


Prefeitura também liberaria recurso para arraiais populares organizadas pelas comunidades, nos bairros. / Reprodução

A vereadora governista Cida Pedrosa (PCdoB) também classificou como “precipitada” a decisão de cancelar os festejos. “As pessoas que fazem a Cultura já vinham sofrendo com a pandemia do coronavírus. (...) Tenho a certeza de que depois da tristeza virá a alegria - e nada melhor do que o alento da cultura para depois da dor a gente se reerguer”, avaliou a comunista.

Outro governista, Marco Aurélio Filho (PRTB), se mostrou desejoso por uma mudança da decisão. “O prefeito falou na suspensão e não no cancelamento”, defendeu, para em seguida pedir a realização dos festejos. “São famílias que sobrevivem deste setor e que estavam esperando há três anos por esse momento”, pontuou.

Leia: Saiba como ajudar as famílias desabrigadas após chuvas no Recife e Região Metropolitana

Sobe o número de mortos pelos temporais em Pernambuco; chuvas devem continuar

Diante da repercussão negativa junto à classe artística, fala-se que a Prefeitura do Recife pode recuar da decisão. O Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria de Cultura em busca de uma posição definitiva, mas até o momento a gestão municipal ainda não respondeu. Os vereadores devem se reunir com a Prefeitura e pedir a realização do São João, mas com festejos a partir do dia 29 de junho.

Outras prefeituras de municípios atingidos pelas chuvas também cancelaram o São João, a exemplo de Paudalho e Paulista, na região metropolitana, medida que foi criticada pela vereadora Flávia Hellen (PT).

Deputado propõe socorro financeiro às vítimas

O deputado federal Carlos Veras (PT), em Brasília, propôs ao Ministério da Economia a criação de uma espécie de auxílio emergencial para famílias, comerciantes e trabalhadores autônomos atingidos pelas chuvas em Pernambuco. “Famílias perderam seus bens e casas, comerciantes e trabalhadores perderam suas fontes de renda. A concessão desse auxílio é extremamente necessária para diminuir os impactos dessa tragédia”, afirmou.

O petista também de solicitou a criação de uma comissão de deputados para visitar os locais afetados e avaliar como a Câmara Federal pode contribuir com o estado. Marília Arraes (SD) também assinou um pedido de criação de uma comissão do tipo.

Leia também: Chuvas deixam 14 municípios pernambucanos em estado de emergência

Centenas de desabrigados e dezenas de mortos após temporal em Pernambuco

A vereadora do Recife, Dani Portela (PSOL) reforçou a necessidade de um programa de transferência de renda, a “Renda Básica Permanente”, para que as famílias mais pobres tenham recurso para viver em moradias mais dignas.

As codeputadas estaduais do mandato das Juntas (PSOL) acionaram o Ministério Público Federal (MPF) pedindo que o órgão investigue se houve omissão de gestores públicos e ausência de políticas públicas de prevenção e enfrentamento às chuvas.

As Juntas denunciam o governador Paulo Câmara (PSB), os prefeitos do Recife (João Campos, PSB), Jaboatão (Anderson Ferreira, PL) e Camaragibe (Nadegi Queiroz, REP), além de gestores da esfera federal (Jair Bolsonaro, PL; e o ministro do Desenvolvimento Regional, Daniel Duarte Ferreira).

Saldo de mortes e desabrigados após temporal

Os eventos climáticos provocaram cheias e deslizamento de barreiras que resultaram, até o momento, em 100 mortes contabilizadas e mais de 4 mil pessoas desabrigadas. As forças de resgate estão concentrando suas buscas ainda na região de Monte Verde, na fronteira entre Recife e Jaboatão dos Guararapes, onde a população afirma haver pelo menos mais 16 pessoas desaparecidas, das quais 14 estão soterradas.

Leia: Grande Recife tem mortos, desaparecidos e mais de 80 quedas de barreira após 3º dia de chuvas

As fortes chuvas na Região Metropolitana tiveram início na últimas segunda-feira (23) e, segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) devem seguir, mas em menor intensidade, até a sexta-feira (3), completando 12 dias consecutivos de chuvas no litoral do estado.

Edição: Vanessa Gonzaga