Pernambuco

Coluna

A política de deixar morrer e a polícia de matar

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Entidades do movimento negro na sede nacional da PRF, em Brasília, em protesto para cobrar justiça por Genivaldo de Jesus - Bruno Zaidan
As vítimas principais? Corpos negros.

“Não pense que é favor compreender a dor da minha pele negra (...) Pois negra é a cor do amor, mas se preciso for, negra é a cor da luta” (Negra – Marina Iris).

No Brasil, necropolítica e racismo ambiental são políticas que andam de mãos dadas e de encontro ao mesmo fim: o controle, aprisionamento e morte de corpos negros. Enquanto o racismo ambiental pode ser definido como a implementação de políticas ambientais discriminatórias, voltadas ao interesse do capital e em desfavor dos territórios em que vivem as pessoas negras, os indígenas e os quilombolas, a necropolítica é conceituada como a promoção (ou omissão) de políticas públicas capazes de impedir a sobrevivência mínima de determinada população, definindo quem deve morrer e quem deve viver.

Na última semana, o Brasil assistiu de forma escancarada a atuação escandalosa de ambas as formas de política. Enquanto em Pernambuco, deslizamentos de barreiras mataram mais de noventa pessoas no Estado, em Sergipe, Genivaldo morria asfixiado em uma câmera de gás improvisada dentro de um camburão da Polícia Rodoviária Federal e vinte e cinco pessoas eram assassinadas pela Polícia do Rio de Janeiro no Complexo da Penha. As vítimas principais? Corpos negros.

Em maio de 2021, a Prefeitura do Recife anulou o orçamento de cinco milhões de reais do orçamento da Secretaria de Infraestrutura para requalificação do curso das águas e obras e instalações e realocou o valor para a execução de políticas de comunicação, ou seja, propaganda. Infelizmente, o silêncio da grande mídia a respeito disso demonstra que há mais interesse em propagar caridade, do que em apontar responsabilidade e cobrar soluções. Embora a solidariedade seja fundamental para o enfrentamento emergencial da situação, não são os itens doados que vão impedir novos deslizamentos de barreiras nos próximos anos, mas sim políticas públicas que garantam moradia digna e segurança para a população.

Ao longo da semana, assistimos diversos vídeos de cursos para concursos das polícias, ensinando os métodos de tortura empregados pela PRF em Sergipe. É evidente que o afastamento, demissão e responsabilização penal dos agentes assassinos são fundamentais, contudo enquanto a formação de novos agentes obedecerem aos critérios do racismo, da violência e da tortura, novas cenas iguais ou similares às que vitimaram Genivaldo vão continuar a acontecer, sendo elas filmadas ou não.

O Complexo da Penha foi o último palco de destaque da atuação homicida da Polícia, que todos os dias sobe morros, invade favelas e, sob o pretexto de guerra às drogas, matam filhas de Donas Ivones e filhos de Donas Marias. Se a operação policial não é interrompida pelo temor de se fazer vítimas inocentes, não se trata de operação, mas sim de massacre. Se a operação policial é realizada sob a perspectiva de se matar supostos bandidos, não existe justiça, mas sim execuções. 

A história não se repete como tragédia.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Elen Carvalho