Pernambuco

METRÔ

Trabalhadores e usuários do sistema ferroviário em PE criticam concessão à iniciativa privada

Segundo o Sindmetro, era possível recuperar o metrô com metade do valor oferecido pelo governo federal para a concessão

Brasil de Fato | Recife, PE |
O metrô do Recife atende a cerca de 400 mil pessoas e tem uma das tarifas mais altas do Brasil - Reprodução

O metrô que circula na Região Metropolitana do Recife atende a cerca de 400 mil usuários a uma tarifa de R$4,25, a sexta mais alta do país. Ele é administrado pela CBTU- Companhia Brasileira de Trens Urbanos, que é vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, que também administra os transportes ferroviários em Natal, Maceió, João Pessoa e Belo Horizonte. Mas o transporte na capital pernambucana pode deixar de ser federal para abrir as portas para uma concessão privada no estado, como já aconteceu nos metrôs em Salvador, no Rio de Janeiro e está previsto para acontecer em Belo Horizonte.



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“O governo federal oferece para privatizar R$3 bilhões, a gente com R$1,5 bilhão e R$300 milhões de investimento em manutenção por ano consegue recuperar o metrô, não precisa dos R$ 3 bilhões”, analisa o metroviário e presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco, Luiz Soares de Oliveira, que acredita que a privatização será prejudicial tanto para os trabalhadores quanto para os usuários do transporte.  “O que falta mesmo é vontade política e inverter o que está aí, não é a privatização que vai resolver, porque nunca resolveu. Se tivesse resolvido, não estava aí a situação da supervia do Rio de Janeiro que está uma situação deprimente, está pior que a gente aqui”, aponta.

A professora e integrante da Frente de Luta pelo Transporte Público de Pernambuco, Raphaela Carvalho demora cinco horas por dia nos transportes públicos. Ela atravessa 4 municípios da região metropolitana diariamente só para chegar ao trabalho. “Eu trabalho em Jaboatão Velho e eu pego 4 conduções para chegar lá - são três ônibus e um metrô. Eu saio aqui de Paulista, desço na Estação Central do Recife, pego o metrô que hoje em dia está operando de forma muito mais lenta, como está sucateado não tem condições de operar como poderia. Então, uma viagem que poderia ser bem mais curta acaba demorando 40 minutos, 45 minutos”,  relata.

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Esta realidade não é incomum para a população pernambucana, que vem levando cada vez mais tempo com as longas esperas nas estações de trem e metrô, o que o Sindmetro-PE atribui aos problemas técnicos agravados sucessivos cortes de verbas para manutenção.  “A gente estava tendo um momento de muitas dificuldades, porque o metrô estava parando constante devido a falta de manutenção do sistema, porque desde 2013 não tem nenhum investimento e a verba de custeio que é para manutenção ela vem tendo cortes de gastos, né? que está levando o metrô a uma situação deprimente”, explica o sindicalista.

A Frente de Luta pelos Transportes Públicos se preocupa não só com a qualidade do transporte, mas também com a possibilidade de aumentos, caso os trens e metrôs da RMR passem a ser uma concessão privada. “Acontece que o metrô, o sistema ferroviário devolve aos cofres públicos R$22 bilhões por ano e economiza outros R$ 7 bilhões em retiradas de veículos das ruas. Então, é muito preocupante que agora, ao invés de fazer um movimento de ampliar essa malha ferroviária e assim melhorar a qualidade do transporte para a população, eles estejam fazendo um movimento contrário, que é de entregar para a iniciativa privada, o que vai gerar o alto custo das tarifas, porque a iniciativa privada está mais preocupada com os lucros que vai tirar disso aí”, destaca Raphaela.

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Segundo informações do Sindmetro-PE, está sendo agendada uma reunião da entidade com a CBTU e o Ministério do Desenvolvimento Regional sobre o tema para as próximas semanas. A reportagem entrou em contato com a CBTU, que não respondeu até o momento. Já o Ministério do Desenvolvimento Regional informou que esta seria uma questão para o Ministério da Economia, que confirmou o recebimento do e-mail, mas não enviou resposta.

Já o governo de Pernambuco respondeu ao nosso contato e se posicionou sobre a proposta do sistema ferroviário do Recife se tornar uma concessão estatal através da nota que segue na íntegra:

 “Diante da crise pela qual passa o Metrô do Recife, importante meio de transporte público para a população de grande parte da Região Metropolitana, o Governo de Pernambuco espera que o governo federal, controlador da CBTU e responsável pela operação e manutenção do Metrô, cumpra com sua obrigação de manter em pleno funcionamento as linhas de transporte do sistema.

O Governo de Pernambuco permanece aberto ao diálogo para colaborar com o funcionamento do modal metroviário e melhorar o serviço prestado aos usuários. Estando a seis meses de uma nova gestão, a prioridade deve ser uma ação imediata para a manutenção do transporte e segurança dos passageiros e servidores. Uma solução definitiva será construída com a nova administração federal, que enxergue a importância do Metrô do Recife e sua função social, tão negligenciada atualmente.”
 

Edição: Elen Carvalho