ARRAIÁ POPULAR

Vozes Populares | Quadrilha junina do MST no Ceará une tradição, política e cultura em arraiá

Instituto Pula Fogueira é o primeiro grupo de assentamento da reforma agrária a estrear no maior São João do Ceará

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No dia 11 de junho, a Pula Fogueira estreou no São João de Maracanaú (CE), sendo a primeira participação de uma quadrilha de assentamento de reforma agrária - Foto: Divulgação/Instituto Pula Fogueira
Mostramos que os assentamentos produzem não só alimentos, mas também muita cultura

Todo mundo estava ansioso para o São João deste ano. Mas a ansiedade estava ainda maior para quem faz parte das quadrilhas juninas. Após dois anos afastadas das quadras, agora elas retornam com todo o entusiasmo e prontas para colocar todo mundo para dançar. 

No Ceará, se destacam as quadrilhas de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para eles, é possível juntar tudo: tradição, cultura e também política. Por isso, falar do que está acontecendo no mundo através das apresentações é essencial.

Segundo o Setor de Cultura do MST, existem mais de 170 grupos diversos e culturais nos assentamentos do Ceará. Um deles é o Instituto Pula Fogueira, uma das quadrilhas do Assentamento 25 de Maio, no município de Madalena. Este ano, a Pula Fogueira conta com 16 pares na apresentação, a produção e a banda. Entre os componentes, estão pessoas LGBTQIA+, jovens negros, do campo e da cidade. 

Marcello Matos, da coordenação do Instituto, explica que a princípio o grupo não era um Instituto. "A quadrilha Pula Fogueira surge em meados de 2016, no assentamento Tigre dos Carneiros e no assentamento Paus Brancos. Só a partir de 2019 ela toma outras proporções, a partir de quando a gente discute que é preciso sair para fora das áreas de assentamentos", relembra. Para o grupo, era necessário mostrar o trabalho para outros públicos também.  

Em 2019, a Pula Fogueira começa a ganhar ainda mais notoriedade. É quando ela se apresenta nos 30 anos do MST no Ceará, que tinha como tema “30 anos de luta e resistência popular”. Se antes o arraiá só acontecia em comunidades locais, agora passa a ficar ainda mais conhecido. 

Foi em 2020 que o grupo viu a necessidade de se transformarem em uma associação comunitária, tanto para conseguirem captar recursos, quanto para poderem realizar formações e capacitações para os integrantes. Afinal, Marcello ressalta que a quadrilha em nenhum momento perde a organicidade do MST enquanto movimento político. 

Ainda em 2020, a quadrilha dançaria com o tema “Vidas Negras Importam”. Por conta da pandemia, as festividades aconteceram através da internet. Por isso, em 2022, a Pula Fogueira decidiu retomar o tema. Com a ajuda de pesquisadores e de movimentos importantes como o Movimento Negro Unificado, foram trazidas referências para a coreografia, figurino e tudo que compõe o arraiá. 

Tudo está sendo pensado: desde o cabelo à maquiagem. E em cada detalhe o que é ressaltado é a estética do povo preto, a sua história de resistência e lideranças e lutadores negros e negras que foram fundamentais ao longo da história. Marcello cita, por exemplo, a homenagem a grandes nomes como: Elza Soares, Zumbi dos Palmares, Dandara, Marielle Franco, Carolina Maria de Jesus, Milton Santos, Teresa de Benguela.

No dia 11 de junho, a Pula Fogueira fez a estreia no maior São João do Ceará, o do município de Maracanaú. Foi a primeira vez que uma quadrilha de assentamento de reforma agrária participou de uma festividade junina dessa magnitude no estado, é o que conta Marcelo. "E a primeira vez que entramos em disputa, mostrando que produzimos não só alimentos, mas também muita cultura", afirma. 

Até setembro, a agenda está cheia. Neste sábado (25), o grupo se apresenta no Centro de Formação Capacitação e Pesquisa Frei Humberto, no Festival de Quadrilhas Juninas da Reforma Agrária, na capital cearense. Na ocasião, diversas quadrilhas de assentamento irão se apresentar. "Estou muito animado. Eu amo São João e desde criança que eu danço quadrilha. Ver as quadrilhas entrar em quadra é uma emoção que não dá pra medir. Depois de dois anos de pandemia, de perda de vários entes queridos, voltar o São João agora pra nós da região Nordeste é um fator muito importante e voltar aos palcos com temas relevantes pra sociedade brasileira é mais importante ainda", finaliza.

Para acompanhar mais sobre tudo isso e conferir onde os brincantes vão se apresentar, segue o Instagram @institutopulafogueira.

Edição: Elen Carvalho