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eleições 2022

Em Pernambuco, Frente Popular fecha a chapa com Luciana Santos na vice

Presidenta nacional do PCdoB é atual vice-governadora e tenta mais 4 anos no cargo; evento está sendo preparado

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Luciana Santos, vice-governadora de Pernambuco, é uma das únicas três mulheres presidentas de partidos políticos no Brasil - Richard Silva/PCdoB na Câmara

Restando três semanas até o início do período de convenções partidárias, a chapa da Frente Popular de Pernambuco está próxima de ser fechada com o nome de Luciana Santos (PCdoB) para a vice de Danilo Cabral (PSB). Após meses de um dilema que desgastou as relações dentro da aliança de 13 partidos, venceu a tese de que seria mais competitiva uma chapa com “cara de esquerda”, sendo mais fácil se associar à imagem do ex-presidente Lula (PT), pegando embalo na elevada popularidade do petista no estado.

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Em entrevista ao Brasil de Fato, o presidente estadual do PCdoB, Marcelino Granja, comemorou o encaminhamento. “Dá um claro sinal de que esta é a chapa alinhada com presidente Lula. É um reconhecimento ao trabalho de Luciana como prefeita, deputada federal e uma pessoa que cultivou o carinho por parte de Lula. E é também um reconhecimento ao PCdoB como construtor dessa unidade”, disse o dirigente.

Os comunistas têm sido os principais mediadores das conflituosas relações entre PT e PSB nos últimos anos. E como os acordos com o PSB passam sempre por Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB) foi figura constante na construção da reaproximação entre seus dois aliados.

Questionado se uma chapa PSB-PCdoB-PT gerou queixas dos partidos de direita dentro da Frente Popular, Granja disse que no caso da vice-governadoria o processo foi pacífico. “Formação de chapa majoritária é muito complexa e melindrosa. Mas a postura dos diversos partidos, além da própria trajetória de Luciana, foi de que que ela ajudaria muito. Claro que há delicadezas, mas não há resistência. Tem sido um processo tranquilo”, diz o comunista. Ele considera que as saídas do PSD e Avante foram “movimento natural” dentro de uma aliança ampla e que já dura muitos anos.


Marcelino Granja é engenheiro civil e analista da Receita Federal concursado; foi secretário da Fazenda e de Governo em Olinda e secretário estadual de Ciência e Tecnologia e de Cultura; / Divulgação PCdoB

O dirigente do PCdoB opina que a chapa precisa aliar duas características: representar a diversidade da Frente Popular, mas também ter nitidez ideológica com a agenda política que o país precisa no momento. “A Frente é de centro-esquerda, com setores de centro e de esquerda. Mas os governos da Frente sempre foram liderados pela esquerda, seja no Governo do Estado [PSB desde 2007], seja na Prefeitura do Recife [PT de 2000 a 2012, PSB de 2013 a 2024] e também em Olinda [PCdoB de 2000 a 2016]”, opinou.

Em conversa com o BdF, o presidente estadual do PT também elogiou Luciana. “É um nome importante, um grande quadro, presidenta nacional do PCdoB e uma companheira que sempre apoiou o PT”, diz o deputado Doriel Barros. Ele também comemora a “cara” da chapa da Frente Popular. “Consolida uma chapa de esquerda, alinhada com o pensamento do PT. Os eleitores vão começar a fazer essa identificação. É uma chapa para construção de um projeto, não apenas de uma candidatura”, concluiu o petista.

A “cara” da chapa

Ao longo dos meses de março e abril, houve grande pressão dos partidos de centro e direita que compõem a Frente Popular no sentido de que a coalizão tivesse uma “cara” mais de centro. Os partidos pressionavam principalmente pela vaga no Senado. Mas a aliança nacional e local entre PT e PSB, somado aos baixos números de Danilo Cabral (PSB) nas pesquisas, tornando-o “dependente” da associação a Lula, levaram o PSB a escolher Teresa Leitão (PT) para a candidatura ao Senado pela Frente Popular. O processo foi desgastante dentro da coalizão e levou a rupturas, como do PSD de André de Paula e o Avante de Sebastião Oliveira – ambos agora com Marília Arraes (Solidariedade).

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O PSB levou em consideração que esta eleição tem Lula (PT) no páreo, com mais de 60% de preferência do eleitorado pernambucano; além de que a principal candidatura ao Governo do Estado, segundo as pesquisas, é a da ex-petista Marília Arraes (SD), impulsionada por um eleitorado progressista e, em parte, pela associação de sua imagem à de Lula. Os socialistas avaliam que essa fatia do eleitorado “progressista” e a vinculação à imagem do líder do PT serão fator decisivo na eleição pernambucana.

Nesse sentido, por mais que a escolha por duas mulheres de esquerda – Teresa e Luciana – possa não agradar uma parte dos partidos de direita que formam a Frente Popular, o PSB considera que é uma formação que permite fácil associação a Lula e dá competitividade a toda a chapa. A composição também ajudaria, avaliam, na competição com Marília Arraes pelo voto feminino, que tende a ser majoritariamente em Lula.

Perfil

Luciana Santos tem 56 anos e filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) desde os 22. É formada em engenharia elétrica pela UFPE, onde presidiu o diretório acadêmico do seu curso e foi vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE). Aos 29 anos foi candidata a deputada estadual ficando na suplência. Em 1996 assumiu o cargo e em 1998 conseguiu reeleição. Já em 2000, aos 35, foi eleita prefeita de Olinda, sendo a primeira prefeita do PCdoB no país. Foi reeleita, ficando no cargo até 2008.

Foi secretária de Ciência e Tecnologia no governo Eduardo Campos, em seguida eleita e reeleita deputada federal, ficando em Brasília de 2011 a 2018, quando foi eleita vice-governadora de Pernambuco na chapa com Paulo Câmara (PSB). Também ocupa, desde 2015, a presidência nacional do seu partido.

A meta é Renildo + 2

O PCdoB está compondo a Federação Brasil da Esperança, agrupamento que envolve PT e PV, além do PCdoB. Unidos num novo CNPJ, o grupo funcionará como um único partido até abril de 2026. Deste modo, em vez de cada partido ter direito a lançar até 50 candidaturas a deputado estadual e 25 para federal, agora toda a federação é que pode lançar esta quantidade. Os partidos que compõem a federação devem dividir essas vagas entre si, de acordo com as regras estabelecidas por eles próprios dentro da federação.

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Pelo estatuto, o PV em Pernambuco teria pouquíssimas candidaturas, mas o PCdoB e o PT estão cedendo vagas para o novo aliado, para que o PV coloque candidaturas competitivas que possam gerar mais votos para a federação.

Entre as 75 candidaturas da Federação Brasil da Esperança em Pernambuco, o PCdoB deve lançar 16 nomes, sendo 3 para federal e 13 para estadual. Os comunistas têm, em Pernambuco, um deputado federal (Renildo Calheiros) e um estadual (João Paulo Costa). “O nosso objetivo é eleger, além de João Paulo, pelo menos mais um estadual, talvez até dois. E garantir a reeleição de Renildo, que é uma figura imprescindível para a luta democrática no Brasil. Ele representa o espírito da política, da busca por entendimento e unidade”, defendeu Marcelino.

Edição: Elen Carvalho