eleições 2022

Em Pernambuco, disputa pelo lulismo vai definir a eleição, avalia cientista política

Danilo Cabral segue abaixo de 10% nas pesquisas, mas especialista o considera mais competitivo que candidatos da direita

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Marília tem quase 30% e Danilo tem menos de 10% nas pesquisas; lulismo terá força para levar ambos ao 2º turno? - Fotos: Ricardo Stuckert

Nos últimos anos o debate político no país foi hegemonizado pelos temas nacionais, com menos protagonismo das questões locais. Sendo assim, faz sentido que a disputa das eleições para governador acabe sendo influenciada fortemente pela corrida presidencial. A cientista política e professora universitária Priscila Lapa avalia que, neste cenário, em Pernambuco os candidatos alinhados ao lulismo tendem a levar vantagem sobre os demais. Em conversa com o Brasil de Fato Pernambuco, a especialista também analisa os perfis de Marília Arraes (SD), Danilo Cabral (PSB) e a corrida pelo Senado.

Lapa considera que, apesar dos esforços de alguns setores para evitar a “polarização”, a disputa pelo Palácio do Campo das Princesas será conduzida pelo embate entre Lula e Bolsonaro. “Eu não tenho a menor dúvida que o eleitor brasileiro, hoje, enxerga o mundo político a partir dessas duas lentes: bolsonarismo e lulismo. Isso vai guiar fortemente a eleição local”, garante.

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Mas isso não quer dizer que os dois grupos tenham força proporcional. “Em Pernambuco o lulismo é muito arraigado, somado ao sentimento de desesperança provocado pela crise econômica”, diz ela, que menciona ainda que as pesquisas sinalizam considerável vantagem de Lula no estado.  “A disputa por esse entusiasmo da candidatura de Lula certamente será fator decisivo na eleição local”, afirma a cientista política.

Na sua opinião, o lulismo no estado de nascimento de Lula pode ter força para levar duas candidaturas ao segundo turno. “Acho que podemos ter em 2022 a reprodução da disputa do Recife em 2020, com dois candidatos do mesmo espectro político disputando um 2º turno. É uma hipótese plausível”, avalia. Lapa pondera que o cenário ainda depende das narrativas a serem adotadas pelas campanhas de Marília Arraes (SD), Danilo Cabral (PSB) e, correndo por fora, João Arnaldo (PSOL). Quem conseguir se associar melhor a Lula, tende a levar vantagem nas urnas.

Marília colhe frutos de acertos dos últimos anos


Oficialmente o PT está apoiando Danilo Cabral (PSB); mas Marília tem acesso fácil a Lula, já que o Solidariedade está apoiando o petista no plano nacional / Ricardo Stuckert

A pré-candidata Marília Arraes (SD), que iniciou sua carreira política no PSB (2008 a 2016), migrou para o PT (2016 a 2022) e recentemente mudou para o Solidariedade, ela aparece liderando todas as pesquisas de intenção de voto para o Governo do Estado, tendo entre 25% e 30%, o dobro dos pontos da segunda colocada, Raquel Lyra (PSDB).

Priscila Lapa lembra que Marília conseguiu criar uma “expectativa” em torno do seu nome nos últimos anos, após tentar ser candidata ao Governo em 2018 e mesmo com a derrota na disputa pela Prefeitura do Recife em 2020. “Ela tem o ‘recall’ da última eleição. Há dois anos ela foi candidata na capital, numa disputa com grande visibilidade”, diz a professora, mencionando ainda que a candidata reúne qualidades valorizadas pelo eleitor, como a juventude, um histórico político e o fator de ser mulher – algo valorizado principalmente pelo eleitor “progressista”.

Segundo a análise de Lapa, Marília Arraes também acertou ao manter-se falando do ex-presidente Lula mesmo num momento (entre 2016 e 2020) em que a avaliação predominante era a de que o “antipetismo” era mais forte que o “petismo” – e de fato, em 2020, a campanha vitoriosa de João Campos (PSB) usou do antipetismo para atacar Marília. “[Manter-se com Lula] trouxe de volta um sentimento para o eleitorado de esquerda da capital. Apesar de ela não ter vencido as eleições, politicamente ela foi vitoriosa”, analisa Lapa.

Ela pondera que as pesquisas mostram que a maior parte do eleitorado ainda não sabe que Marília deixou o PT e se filiou ao Solidariedade. Durante a campanha isso deve ser utilizado pelo PSB na tentativa de causar feridas em Marília e atrair votos para Danilo. De todo modo, “o eleitor gosta de votar em pessoas, não em partidos”, diz a especialista.

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Para 2022 Marília também conseguiu atrair políticos que integravam a Frente Popular, mas estavam insatisfeitos com a aliança. “Ela conseguiu montar um palanque competitivo [com Sebastião Oliveira (Avante) na vice e André de Paula (PSD) para o Senado]. [São políticos que] não encontraram caminho para se firmar nas candidaturas de oposição à direita”, diz a cientista política.

Danilo carrega desgaste do PSB e não traz novidade

Sobre a candidatura da Frente Popular, que governa o estado há 16 anos, Priscila Lapa resume que o PSB vive um “cansaço de material político”. Ela explica que esse “cansaço” se dá tanto na relação com as demais forças políticas da Frente Popular, como se dá também na relação com o eleitor.


Lula e o PT oficialmente apoiam Danilo, mas população associa Lula mais a Marília / Ricardo Stuckert

Lapa analisa que, apesar de não ser algo contestado pelas forças da Frente (apenas o PT questiona), o fato de o PSB sempre querer manter a cabeça de chapa traz algum desgaste nas negociações. “Chega uma hora que esse protagonismo acaba tendo um custo político alto. Porque para manter o palanque unido, é preciso ofertar mais. E com o tempo os partidos já não veem essas benesses”, diz ela, mencionando aliados que saíram da aliança e outros que ficaram, mas que “dão sinais de que não devem vestir a camisa”.

Danilo Cabral aparece nas pesquisas com entre 5% e 10% das intenções de voto. “Independentemente de quem fosse o escolhido pelo PSB, o nome já seria menos competitivo que as últimas disputas, porque o palanque foi sendo esvaziado”, diz ela, lembrando as recentes dissidências da Frente Popular.

A campanha tem início oficialmente em agosto. Os últimos meses foram de pré-campanha, com construção de alianças e eventos políticos para tornar os candidatos conhecidos principalmente por lideranças políticas locais, que por sua vez deverão fazer a mediação entre o candidato e a população nos próximos meses. Ela considera que esse tipo de atividades não tem tido tanta força na chapa governista, supostamente por falta de engajamento dos aliados. “Como uma candidatura dessa vai emplacar?”, provoca a especialista.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Já sobre o “cansaço” na relação com o eleitor, Lapa destaca principalmente a dificuldade de apresentar uma “novidade” após 16 anos no Governo do Estado e 10 anos na Prefeitura do Recife. “O eleitor brasileiro está muito inquieto, insatisfeito”, avisa a pesquisadora.

Os atributos da experiência, que Danilo busca utilizar a seu favor na campanha, podem contar negativamente neste sentido. “É um candidato com mandatos de deputado federal e que transita nessa construção da Frente Popular há muitos anos. Isso faz com que ele não seja um candidato renovado”, diz ela. “A Frente precisa mostrar que ainda tem ideias novas para colocar, que ainda tem algo a mostrar. Ele não representa isso. E a eleição aqui em Pernambuco parece estar sendo embalada por esse contexto de renovação”, analisa.

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A cientista política lembra ainda a dificuldade para o PSB definir quem encabeçaria a candidatura. “Retardaram o máximo possível a escolha deste nome, num processo que ficou muito evidente a falta de opções. Não havia aquela candidatura natural. Não tinha muito o que fazer”, diz Lapa. Ela considera acertada a estratégia de buscar o vínculo com o lulismo para crescer, “mas até o momento não emplacou, provavelmente devido à candidatura de Marília”, pondera.

Para o Senado, bolsonarismo é competitivo

Perguntada sobre a disputa pelo Senado, se seguiria a tendência de ser um voto vinculado ao voto para governador ou se poderia ser também pautado pelo lulismo, a especialista disse não ter certeza. “Pelo destaque que ganhou o Senado a partir da CPI, talvez a eleição deste ano seja mais influenciada pela lógica nacional [presidente] do que pela lógica local [governador]”, disse ela, mencionando que é apenas uma possibilidade, já que as pesquisas mostram que o eleitor sequer sabe qual é o papel de um senador.

Priscila Lapa considera mais provável que se mantenha a tendência dos últimos pleitos, quando os senadores eleitos foram aqueles vinculados às candidaturas eleitas para o Governo do Estado. “Acho que vai acontecer tem muito a ver com esse ‘arranque’ que as candidaturas a governador podem vir a ter. O voto para senador vai a reboque da ‘colinha’ do candidato a governador”, resume Lapa.

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Sobre a disputa entre o candidato de Marília, André de Paula (PSD); e a candidata da Frente Popular, Teresa Leitão (PT); a cientista política considera que foram duas escolhas acertadas dentro de suas estratégias. “A Frente Popular fez uma escolha importante por ser uma mulher, uma petista histórica, contemplando um conjunto de fatores que é importante no momento”, diz ela, lembrando eu o objetivo da Frente Popular é deixar claro que essa é a “chapa de Lula”. Já pelo lado de Marília, “André de Paula é um dos políticos locais que tem as bases eleitorais mais consolidadas no estado”.

Diferente da disputa para governador, em que os dois mais votados disputam um segundo turno onde a rejeição acaba tendo grande peso, na disputa pelo Senado isso não ocorre. Um candidato pode ter rejeição elevada, mas basta ter mais votos que os concorrentes para ser eleito para a Casa Alta.

Deste modo, o candidato bolsonarista Gilson Machado Neto (PSC) talvez só precise reunir os bolsonaristas para ser eleito. “Ele é um candidato claramente bolsonarista, sem as implicações do que acontece na disputa para governador”, diz Lapa, que considera a missão de Gilson mais acessível que a do pré-candidato a governador Anderson Ferreira (PL).

Sobre as chapas de Miguel Coelho (UB) e Raquel Lyra (PSDB), que ainda não definiram seus candidatos ao Senado, Lapa destaca que “é difícil formar um palanque nesse cenário de uma oposição tão dividida”. Para essas chapas, foram cogitados, respectivamente, Mendonça Filho (UB) e Armando Monteiro Neto (PSDB), mas a tendência é que ambos, sem mandato há 4 anos, optem por uma disputa mais acessível para a Câmara Federal, garantindo seus retornos para Brasília.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga