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Famílias se mobilizam pela criação da reserva extrativista estadual no litoral Sul de PE

Comunidades que praticam atividade pesqueira no complexo estuarino do Rio Formoso defendem uso sustentável dos recursos

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Pescadores saíram em barqueata no dia 26 de julho, Dia Internacional para a Conservação dos Manguezais - Comissão Pastoral da Terra

Com o objetivo de garantir a manutenção da atividade pesqueira no complexo estuarino do Rio Formoso, comunidades que vivem da pesca artesanal estão em mobilização pela criação da reserva extrativista estadual no litoral Sul de Pernambuco. A proposta, encaminhada ao governo de Pernambuco, prevê a proteção da área que inclui três municípios do estado: Rio Formoso, Tamandaré e Sirinhaém, abrangendo mais de dois mil e quinhentos hectares de manguezal.

O pedido de criação da Reserva extrativista foi formalizado junto à Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco em julho de 2021. Os pescadores juntaram ao pedido de criação todos os estudos técnicos e fundiários necessários.

A ideia surgiu a partir da preocupação de famílias com o futuro da atividade pesqueira na região, como explica Severino dos Santos, do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP): "Hoje, o complexo estuarino vive um processo de degradação muito intenso. Inicialmente, o complexo era rodeado por cana-de-açúcar. Depois da cana-de-açúcar, vieram alguns viveiros de criação de camarão de pequeno e médio porte. Hoje o boom é a questão do turismo de massa na região".

Uma reserva extrativista é uma unidade de conservação utilizada como meio de subsistência por populações tradicionais. Ao criar uma Reserva extrativista, o Estado protege os meios de vida e a cultura dessas pessoas, garantindo sua segurança alimentar. Numa Reserva extrativista, é praticado o uso sustentável dos recursos naturais.

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O complexo estuarino é formado pelos rios Formoso, Passos e Ariquindá. Pelo menos 2.492 famílias de pescadores e pescadoras artesanais atuam no local, coletando peixes como a tainha, ostras, caranguejos e mariscos.

"Se trouxer 2, 3 kg de peixe, é muito"

Vivem ainda da pesca artesanal no estuário 80 famílias do Quilombo Engenho Siqueira. Uma dessas famílias é a de Natanael Ferreira, que fala um pouco sobre as dificuldades que os pescadores vêm passando. "A gente pegava, 30, 40, 50 kg de peixe numa pescaria dentro de 3, 4 horas de relógio, perto de casa. Hoje, está difícil. Pouquíssimo peixe, mesmo. A gente sai para pescar e se trouxer 2, 3 kg de peixe, é muito", afirma Natanael.

A ação é uma iniciativa da Conselho Pastoral dos Pescadores, da Associação Mangue Verde, da Associação da Comunidade Quilombola do Engenho Siqueira, das Colônias de Pescadores de Tamandaré, Barra de Sirinhaém e Rio Formoso. E conta, também, com o apoio de diversas organizações.

Na manhã da última terça-feira (26), as comunidades realizaram uma barqueata percorrendo mais de 4km pelas águas do Rio Formoso em celebração ao Dia Internacional para a Conservação dos Manguezais, estabelecido pela Unesco. A ação teve como objetivo reforçar a luta pela criação da Reserva Extrativista do Rio Formoso.

Novas mobilizações estão previstas para acontecer ainda essa semana. Nesta quinta-feira, quatro de agosto, será feita uma marcha pela garantia dos direitos dos povos e comunidades tradicionais pesqueiros. A ação acontece no Recife, por terra e por via fluvial, com saída às 09h do Armazém do Campo do Recife. Além da reserva extrativista, os grupos protestam também contra a privatização dos rios, a especulação imobiliária, a preservação dos manguezais e outras políticas públicas que impactam as vidas das populações que vivem às margens dos rios.

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Edição: Raquel Setz