Não basta só votar em mulher
As mulheres podem decidir as eleições de 2022. Isso porque 53% da população votante é de mulheres. Em um universo de 150 milhões de eleitores, as mulheres são 8,5 milhões de eleitoras a mais do que os homens. Assim sendo, escolher fazer parte dessa tomada de decisão pode ser um ponto fundamental para a garantia de direitos das mulheres.
Quem afirma isso são as mulheres engajadas na campanha “Meu Voto Vale Muito”, que o Vozes Populares apresenta nesta edição.
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Lançada em 9 de agosto, a campanha “Meu Voto Vale Muito” tem sido puxada pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) e pela Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH). Em articulação com outras 17 organizações feministas com atuação em diversas regiões do país, a iniciativa tem como ideia central somar esforços e estimular que mais mulheres votem.
Mas não basta apenas votar. É necessário que seja um voto consciente. Cristina Lima é uma mulher negra, feminista, jornalista e secretária executiva da Universidade Livre Feminista, uma das muitas articulações que apoia a campanha. Ela traz uma reflexão sobre como as mulheres devem escolher suas candidaturas.
"Não basta só votar em mulher. É preciso que o voto seja em mulheres e projetos que sejam comprometidos com a defesa dos direitos humanos, com a defesa do enfrentamento das desigualdades sociais, principalmente com grupos historicamente negligenciados, criminalizados, como a população negra, como os povos indígenas, a população LGBTQIA+ e tantos outros", defende. Segundo ela, o atual governo tem se especializado em violar os direitos desses grupos e isso precisa mudar.
Mulheres precisam se sentir representadas
Uma das estratégias da campanha foi a criação de uma persona que simboliza as mulheres brasileiras. É a Esperança Garra da Silva, uma mulher negra, com mais de 30 anos, gorda e trabalhadora doméstica. Esperança defende que todas as pessoas tenham acesso a um trabalho digno e seus direitos garantidos.
Essa persona representa milhares de mulheres, mas que pouco se veem representadas, por terem um perfil que foge da norma. O objetivo é conversar com as mulheres sobre o que afeta suas vidas e a vida da população em geral. Isso tem sido feito através das redes sociais e da presença na mídia.
Além disso, o CFEMEA realizou uma pesquisa com mulheres de 18 a 25 anos, liderada pelo Instituto Locomotiva, para entender os principais desafios das mulheres brasileiras hoje, como enxergam temas relacionados aos direitos das mulheres e feminismo, como se relacionam com a política institucional e eleições. Apesar da diversidade de mulheres envolvidas na pesquisa, todas apresentaram uma preocupação em comum: as dificuldades financeiras e a queda da qualidade de vida. Outras necessidades ficaram evidentes na pesquisa.
Cristina Lima aponta a luta por uma saúde integral para meninas e mulheres como prioritária no atual contexto. "O governo Bolsonaro mudou a forma do atendimento às vítimas de violência sexual e abuso sexual e isso tem dificultado muito o acesso dessas meninas e mulheres à serviços de acolhimento e de aborto legal".
Ela relembra casos divulgados pela mídia em que meninas tiveram o direito ao aborto cerceado. "Essas interdições têm crescido cada vez mais e nós mulheres precisamos ter isso como pauta prioritária pensando em projetos e candidaturas", afirma.
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Fome: um problema que atinge ainda mais mulheres negras
Há, ainda, outro problema para o qual não é possível fechar os olhos. As mulheres no Brasil, principalmente as nordestinas e pretas, são as mais atingidas pela insegurança alimentar. Na maioria dos casos, estas são mulheres chefes de família e responsáveis por trazer a renda da casa.
Por isso, Cristina Lima aponta que o combate à fome é imprescindível para a escolha de candidatos e candidatas. "É urgente pensar em candidaturas que se propõem a enfrentar esse problema", sinaliza.
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Para evidenciar as principais necessidades das mulheres brasileiras, baseadas na pesquisa feita pelo CFMEA, a campanha tem produzido um material educativo, que tem sido publicado nas redes das articulações feministas envolvidas nela. Acompanhe mais aqui.
Edição: Vanessa Gonzaga