É uma necessidade que tenhamos um parlamento negro
As mulheres negras representam apenas 2,36% do parlamento brasileiro, é o que nos mostram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pensando em mudar essa realidade, diversas organizações sociais se juntaram e pensaram a campanha "Eu Voto Em Negra". O objetivo é enegrecer o parlamento, dando vez e voz às mulheres negras nos espaços de poder e decisão.
Criada em 2018, a campanha faz parte do projeto Mulheres Negras e Democracia, que atua em toda a região Nordeste do Brasil, e já teve atuação nas eleições de 2020. É uma iniciativa da Rede Mulheres e Democracia, articulada pelas organizações Casa da Mulher do Nordeste (CMN); Centro das Mulheres do Cabo (CMC) e Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR/NE), em parceria com a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e a Rede de Mulheres Negras do Nordeste.
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Piedade Marques, Mestra em Estudos Africanos e Coordenadora de Relações Institucionais da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, pontua os dois grandes eixos da campanha. "A campanha vai, de um lado, para as candidatas, para colaborar no seu processo de formação, e de um outro lado, na perspectiva de ampliar as vozes dessas mulheres".
Além disso, ela enfatiza que várias discussões vem de pano de fundo para a ausência de mulheres negras na política, como o racismo, o machismo e a lesbotransfobia. Tratar sobre essas questões com a população também é tarefa da campanha. "A disputa de narrativa é o outro grande cenário para o processo de eleição. Levar a população a pensar sobre porque não está [mulheres negras na política], porque tem pouco, mostrar as violências sofrida pelas mulheres, convocar a população a pensar sobre isso", explica.
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Pra fazer tudo isso, a campanha tem sido dividida em diversas fases, como explica Piedade. Na fase de formação das candidatas, houveram momentos chamados de advocacy e media advocacy. No primeiro, a ideia era colaborar no processo formativo sobre o sistema eleitoral e sobre a perspectiva racial. Já no segundo, a ideia era preparar as candidatas para a fala pública.
Agora, a poucos dias do primeiro turno das eleições, o foco tem sido o de apresentar as candidatas e conseguir visibilidade para elas. Segundo Piedade, a campanha conta com um total de 47 candidatas, nos nove estados do Nordeste. Bahia e Pernambuco concentram a maior quantidade destas.
Estão presentes, majoritariamente, candidaturas do Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e do Partido Socialista Brasileiro (PSB). "É uma iniciativa de esquerda, uma iniciativa para mulheres negras e ela tenta se consolidar enquanto iniciativa, inclusive, de movimento. Assim como lá tem no Congresso a bancada da bala, da Bíblia, da terra, a gente pensa que é uma necessidade que tenhamos um parlamento negro", defende.
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As candidatas também assinaram uma carta-compromisso, que sinaliza para elas e para a sociedade as várias responsabilidades que possuem ao assumir um cargo no parlamento. É ainda, um compromisso que olha lá na frente e pensa em formas para mais mulheres negras participarem da política.
A campanha também tem tido forte presença digital, através do compartilhamento de materiais e do envolvimento de várias pessoas que se tornam articuladoras da iniciativa. Nas redes sociais, a hashtag #EuVotoEmNegra tem sido uma forma importante para a campanha ganhar relevância. Foi pensado em identidade visual, em posts de lançamentos e materiais físicos como bolsas, camisas e outras peças para apoiadores reproduzirem a campanha fisicamente.
Quer saber mais sobre a campanha? Acesse o site clicando aqui.
Edição: Vanessa Gonzaga