Pernambuco

CONFLITO

Famílias da Etnia Pataxó denunciam o aumento da violência em territórios indígenas

No período de dez dias, seis pessoas foram assassinadas; Para os pataxó, o Estado é conivente com a situação

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Famílias da Etnia Pataxó vem denunciando uma nova onda de violência no Território Indígena (TI) Barra Velha - Povo Pataxó

As últimas semanas foram marcadas pelo aumento da violência contra os povos originários em seus territórios, em várias partes do Brasil. Famílias da Etnia Pataxó vem denunciando uma nova onda de violência no Território Indígena (TI) Barra Velha, região do município de Porto Seguro, no extremo Sul da Bahia.

A escalada da ofensiva promovida por ruralistas teve início após o dia 25 de junho, quando cerca de 180 indígenas Pataxós realizaram ação de retomada do local denominado de Fazenda Brasília, localizada dentro do Território Indígena de Barra Velha, que é uma área reconhecida oficialmente desde 2009.

Agnaldo Pataxó Hã Hã Hãe, coordenador do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba) conta que no dia 26 de agosto, organizações denunciaram as milícias atacando o Povo Pataxó. “Neste dia, 40 caminhonetes com muitos homens fortemente armados: pistoleiros, fazendeiros e milicianos, para expulsar os parentes da chamada Fazenda Brasília”, afirma Agnaldo.

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O Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia é uma entidade que reune as 143 comunidades indígenas de toda a Bahia que busca enfrentar e denunciar as violências contra os Povos Originários

A terra indígena Pataxó Barra Velha, localizada nos municípios de Porto Seguro, Itamaraju e Prado, extremos Sul da Bahia, possui uma área de 52.000 hectares e é identificada e delimitada, com relatório de identificação e delimitação territorial, aprovado pelo Governo Federal, Funai e publicado do diário oficial do estado e união em 2009.

A região, coberta pela Mata Atlântica, tem vivido um processo histórico de desmatamento e conflitos fundiários, levando a um incontável número de mortes dos povos nativos. Recentemente, num período de dez dias, seis pessoas foram assassinadas e uma tirou a própria vida em meio a contextos de violência e conflitos fundiários.


"Estamos cansados de sermos violentados há mais de 500 anos", diz Rutian Pataxó. / Fabiana Kiriri e Grazy Kaimbé

No Maranhão, Janildo Guajajara foi morto com um tiro pelas costas no dia 4 de setembro. Ele era morador da terra indígena Arariboia. Também no estado, Jael Carlos Miranda Guajajara foi atropelado neste mesmo dia, em um crime atribuído a disputas por território. No domingo seguinte, 11 de setembro, Antonio Cafeteiro Guajajara foi morto com seis tiros no município de Arame (MA). Ele morava na terra indígena Arariboia.

No Sul da Bahia, o pataxó Gustavo Silva da Conceição, de 14 anos, levou um tiro na nuca também no domingo, 4 de setembro. Ele foi morto após uma invasão de um grupo de pistoleiros na terra indígena Comexatibá.

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Segundo Erilsa Pataxó, coordenadora regional do Mupoiba, o Estado é conivente com a situação. “O governo federal é o principal incentivador do que vem acontecendo com os povos indígenas no Brasil, dizendo que nós somos supostamente invasores, mas nós não somos invasores. A própria história do Brasil fala que quando os portugueses chegaram aqui, encontraram nós indígenas que estávamos aqui, o povo originário que está aqui e somos nós os donos dessa terra chamada Brasil”, conclui Erilsa.

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Edição: Vanessa Gonzaga