Pernambuco

ELEIÇÕES 2022

Segundo turno: início da disputa em Pernambuco é marcado por apoios e farpas no guia eleitoral

Ao passo em que Marília ganha apoio de movimentos e da esquerda; Raquel atrai conservadores derrotados e eleitos

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Marília Arraes (SD) e Raquel Lyra (PSDB) disputam o Governo de Pernambuco, que pela primeira vez será comandado por uma mulher; - Montagem: Brasil de Fato/ Fotos: divulgação

O resultado do 1º turno da disputa pelo Governo de Pernambuco surpreendeu. As últimas pesquisas indicavam Marília Arraes (Solidariedade) com mais de 30% das intenções de voto, com outros quatro disputando o segundo lugar, todos com cerca de 15%. Mas as urnas deram 24% para Marília, três candidatos com 18% cada, mas Raquel Lyra (PSDB) chegou a 20,6% e garantiu vaga no 2º turno, apenas 76 mil votos atrás de Arraes. 

Na capital pernambucana Raquel (PSDB) foi a mais votada, com 24,3% dos votos. Marília (Solidariedade) ficou em 3º, com 18%, atrás do bolsonarista Anderson Ferreira (24%).

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Adesões e novas configurações das candidaturas


Raquel ainda não retomou a campanha, mas ações seguem encabeçada pela vice Priscila Krause / Reprodução

Ainda na noite do domingo o candidato derrotado Miguel Coelho (União Brasil) declarou seu apoio à candidatura de Raquel Lyra (PSDB), gesto que foi acompanhado pela declaração de apoio dos Coelho à reeleição de Bolsonaro para a Presidência. Muitos prefeitos e vereadores ligados ao grupo dos Coelho seguiram Miguel no apoio a Raquel Lyra.

A tucana também recebeu apoio da deputada federal eleita Iza Arruda (MDB) e seu pai, Paulo Roberto, prefeito de Vitória de Santo Antão (foto acima). O senador Jarbas Vasconcelos (MDB) e o deputado estadual eleito Jarbas Filho (PSB) também definiram pelo apoio a Lyra. Outro a firmar apoio foi o deputado estadual eleito Joãozinho Tenório (Patriota) e seu aliado Eduardo “Duguinha” Lins, prefeito de São Joaquim do Monte. O prefeito de Carpina, Manuel Botafogo (PDT), também firmou apoio a Raquel.

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O outro candidato bolsonarista derrotado para o governo, Anderson Ferreira, assim como os parlamentares de extrema-direita eleitos associados à imagem de Bolsonaro, aguardam posição oficial do presidente para definir se declaram publicamente apoio a Raquel Lyra ou se, ao menos em público, permanecem neutros. 


Antes com Danilo (PSB), o PDT, PCdoB e Republicanos não tardaram em declarar apoio a Marília / Tiago Calazans/divulgação

Do lado de Marília Arraes (Solidariedade) chegaram de imediato os apoios do PCdoB da vice-governadora Luciana Santos, do PDT de Wolney Queiroz e do Republicanos de Silvio Costa Filho. O PSOL de Dani Portela e do candidato derrotado ao governo João Arnaldo também fecharam com Marília. Posteriormente o PV do deputado federal eleito Clodoaldo Magalhães também se somou.

Houve grande expectativa sobre o posicionamento do PT, já que Marília deixou o partido em março para se viabilizar candidata e por isso foi duramente criticada pelos petistas. Na manhã seguinte ao pleito, Arraes fez um gesto à senadora eleita Teresa Leitão (PT), parabenizando a conquista e afirmando ter “certeza que as mulheres de Pernambuco estão bem representadas”. Leitão deu declaração pública se dizendo contrária à neutralidade do PT, sinalizando por um apoio à ex-correligionária.

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Em busca da vitória no segundo turno, Marília Arraes fala em diálogo com forças progressistas

Na noite da quinta (6) já circulava a informação de que Lula havia decidido pelo apoio a Marília. E na manhã da sexta-feira (7) o PT estadual se reuniu para bater o martelo, com direito a coletiva de imprensa com Marília Arraes ao lado do senador Humberto Costa, que criticou Marília quando esta deixou o partido, mas lhe deu caloroso abraço nesta sexta. No mesmo dia o deputado federal Carlos Veras (PT) promoveu um ato político reunindo petistas e motivando o engajamento na campanha de Arraes.


Seis meses após desavenças, petistas e Marília retomaram relação / Tiago Calazans/divulgação

Na esteira, a ex-petista recebeu os apoios da Rede de Mulheres Negras, da Federação dos Agricultores de Pernambuco (Fetape) e do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST). Este último, em nota, afirma que Marília “sempre esteve mais próxima do projeto político que defendemos”, além da posição clara na defesa da eleição de Lula. Mas o MST pondera que Raquel não é inimiga. “Reconhecemos também a importância e postura de Raquel Lyra, uma mulher guerreira e democrática. (...) Mas os aliados que cercam Raquel neste 2º turno não merecem nossa confiança”, diz o MST, prestando ainda condolências à tucana pela perda do marido.

Um capítulo à parte é a posição do Partido Socialista Brasileiro (PSB), hegemônico no estado pelos últimos 16 anos, até o último dia 2. Marília é formada no partido, mas viveu dois anos de brigas internas entre 2014 e 2016, quando deixou a sigla para se filiar ao PT (onde ficaria até o início de 2022). Há pelo menos 8 anos Marília se constrói como mais dura crítica das gestões do PSB no Recife e no estado, tendo se destacado principalmente por esta postura. Havia uma expectativa de que o PSB declarasse apoio a Raquel, mas ocorreu o contrário.

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Com derrota no estado mais importante para a sigla e, pior, a redução de sua bancada de deputados federais dos atuais 32 para apenas 14 a partir de janeiro, o partido tornou-se dependente da eleição de Lula para conquistar espaços. Por isso terceirizou sua posição ao líder petista. “Em Pernambuco defendemos e indicamos, no 2º turno, a candidatura que for apoiada pelo presidente Lula”, se limita a nota oficial divulgada na sexta (7). As únicas figuras destacadas do partido que se posicionaram publicamente foram os deputado estaduais Isaltino Nascimento e Francismar Pontes. Os prefeitos de São Lourenço da Mata, Salgueiro e Tabira, todos do PSB, também firmaram apoio à ex-petista.


Priscila Krause e Daniel Coelho não pararam a campanha e seguem com articulações e apoios / Reprodução

Nesta primeira semana de campanha do 2º turno o luto pela morte do empresário Fernando Lucena, marido de Raquel Lyra (PSDB), virou pauta da campanha. A equipe da tucana solicitou a Marília Arraes (Solidariedade) que não desse início aos guias de TV, em respeito ao luto de Raquel, mas Arraes não aceitou o pedido.

Ao longo da semana, Daniel Coelho (CD) e Priscila Krause (CD), vice na chapa de Raquel, seguiram à frente da campanha publicando vídeos comemorando os apoios à candidatura de Raquel nesta nova etapa do pleito.

As propagandas de rádio e TV tiveram início nesta sexta-feira (7) para as candidatas ao Governo do Estado. A campanha de Raquel colocou no guia fotos da candidata com o marido e filhos e uma apresentadora que acusa a adversária Marília de se aproveitar do luto para desferir ataques à tucana.

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“Raquel se recolheu para cuidar dos filhos, ficar em família e se fortalecer. (...) “Milhares de pessoas se sensibilizaram e mandaram mensagens de conforto e carinho. Mas os adversários agiram de forma covarde: aproveitando-se do recolhimento de Raquel, começaram a disseminar mentiras”, diz o guia de TV.

A adversária, Marília Arraes (Solidariedade), também tocou no tema no trecho final de seu guia. A candidata aparece prestando condolências à tucana. “Infelizmente o domingo que deveria ser de festa pela democracia, também nos trouxe a triste notícia da morte de Fernando Lucena, marido da candidata Raquel Lyra e pai de seus dois filhos. Quero externar meus sentimentos e peço a Deus que conforte seu coração neste momento tão difícil”, diz Arraes.

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Apesar de obter uma votação abaixo da expectativa, Marília abre o guia agradecendo à “vitória no 1º turno” e destacando o feito histórico de Pernambuco, ao eleger a primeira senadora e garantir que terá pela primeira vez uma governadora eleita, já que duas mulheres passaram ao 2º turno.

A ex-petista também reforçou sua relação com Lula (PT), candidato à Presidência que obteve 65% dos votos no estado. “A mesma vontade com que vou trabalhar para ser governadora de Pernambuco, vou me dedicar à campanha de Lula (...) sem agressão e mentiras”, diz ela, mencionando ainda que busca garantir à população o direito de comer três vezes ao dia, a um salário digno, uma casa segura e água na torneira.

Os guias das candidatas ao Governo de Pernambuco têm duração de 6 minutos e serão exibidos na TV às segundas, quartas e sextas-feiras de outubro, das 13h às 13h12 e depois das 20h30 às 20h42.

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Edição: Vanessa Gonzaga