Pernambuco

SOLIDARIEDADE

Após dez meses, terreiro incendiado em São José da Coroa Grande (PE) pede ajuda

Para voltar às atividades e a desenvolver ações solidárias, o Terreiro das Salinas está realizando uma campanha

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Vizinhos acordaram com o cheiro da fumaça poucas horas após o local encerrar as festividades de Ano Novo - Divulgação

No litoral sul de Pernambuco, em São José da Coroa Grande, a Casa de Axé de tradição Jeje-Nagô Ilê Axé Ayabá Omi, também conhecido como Terreiro das Salinas, teve seu espaço sagrado incendiado no início do ano, no dia 1° de janeiro, o Dia Mundial da Paz. O templo, que desenvolvia ações solidárias para a comunidade de Abreu do Una e oferecia auxílio espiritual aos filhos da casa e visitantes, é quem precisa de ajuda agora.

O Projeto Oxé, que atua com assessoria jurídica e psicossocial para casos de racismo em Pernambuco, junto à Rede de Mulheres Negras, ao Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (GAJOP) e à Articulação Negra de Pernambuco (ANEPE)  assistiram o Terreiro das Salinas nas questões judiciais do caso.  

Racismo Religioso

Instalado em Abreu do Una há 4 anos e liderado pelo babalorixá Lívio Martins, o terreiro perdeu tudo no ataque motivado pelo racismo religioso. “Foi muito agressivo o ataque não só pela destruição física do que era o nosso terreiro, mas pela violência psicológica, violência emocional em que todos nós, enquanto povos tradicionais, enquanto povos negros, sofremos. O corpo negro ele é visto como passivo a violação o tempo todo, então a nossa fé é atacada o tempo todo, os nossos corpos são atacados o tempo todo, a nossa mente, o nosso psicológico é atacado o tempo todo. E o sentimento é de impunidade. Houve a denúncia e o inquérito ainda não foi concluído”, destaca.

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Ao longo desses três anos em funcionamento, a Casa de Axé teve suas atividades interrompidas pela polícia três vezes. Em todas elas, as autoridades alegavam que o terreiro havia sido denunciado pela Lei do Silêncio – que estabelece limites e horários para eventos com som alto. Além disso, membros da casa também eram alvos de ofensas e de provocações de alguns vizinhos.

Reconstruindo Salinas

Antes do incêndio, cerca de 40 crianças eram atendidas pelo Projeto Lerê, um projeto desenvolvido pelo terreiro que oferece aulas de reforço e alfabetização para as crianças da comunidade no local. Contudo, como nenhuma providência foi tomada nesses 10 meses desde o ataque, as crianças estão sem aulas. Para voltar às atividades e a desenvolver ações solidárias, o Terreiro das Salinas está realizando a campanha “Reconstruindo Salinas” com caráter educativo e comunicacional sobre a intolerância religiosa e o racismo religioso.

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“É muito importante salientar que os povos de terreiro, nós enquanto povos de comunidades tradicionais, perpetuamos a nossa ancestralidade na própria comunidade. Então, ter projetos sociais dentro de uma comunidade como a nossa é fazer com que esses jovens, adultos e crianças entendam a diversidade religiosa do nosso Brasil. Ela entenda a diversidade étnica; ela entende a diversidade sexual de todas as pessoas. Então, é abrir portas, derrubar muros construídos pelo preconceito, pelo racismo estrutural”, aponta Lívio

Denuncie o Racismo Religioso

O racismo religioso destinado às religiões de matriz africana e indígena perdura impedindo que as pessoas exerçam sua fé. Caso você passe por alguma situação de racismo religioso ou testemunhe alguma situação, é possível denunciar pelo disque 100.

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Segundo o Projeto Oxé, que presta assessoria jurídica a esse caso, o processo continua em tramitação. Para conhecer o Terreiro das Salinas, se tornar um voluntário da reconstrução da casa e fazer uma doação, acesse as redes sociais @terreirodassalinas.
 

Edição: Vanessa Gonzaga