Rio Grande do Sul

PERIFERIA

Como a memória e a militância ajudaram Lula a derrotar Bolsonaro

Para pesquisador, o trabalho político consistente nas vilas e bairros pobres foi fundamental para a vitória

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A mobilização dos comitês populares foram os pontos centrais para o resultado obtido em Porto Alegre - Foto: Carolina Lima

O voto das periferias das grandes cidades ajudou a definir a eleição de 2022. Em Porto Alegre, por exemplo, Lula venceu em sete das 10 zonas eleitorais no 2º turno. Teve 53,5% dos votos válidos, enquanto Bolsonaro alcançou 46,5%. Mas como foi construída essa vitória? A exemplo do que aconteceu em outras 10 capitais nas quais o candidato do PT triunfou – São Paulo, Belém, Salvador entre elas – vilas e bairros periféricos tiveram importância decisiva.

Até então, Lula e os demais candidatos presidenciais do PT não venciam em Porto Alegre havia 20 anos. A regra foi quebrada já no 1º turno de 2022, repetindo-se no 2º. Para o pesquisador Paulo Roberto Rodrigues Soares, do Observatório das Metrópoles, o destaque fica por conta da forte vantagem obtida em regiões mais populosas e mais pobres, tais como a vila Bom Jesus, mais os bairros Lomba do Pinheiro e Restinga. Enquanto isso, nas zonas que concentram mais áreas de alto poder aquisitivo – Moinhos de Vento, Bela Vista, Higienópolis, por exemplo – Bolsonaro levou a melhor.

Em movimento parecido, a Região Metropolitana deu vitória a Lula em alguns municípios, refletindo uma certa extensão da periferia da metrópole para estes territórios.
Soares entende que o fenômeno merece uma análise mais detalhada pelas forças e movimentos populares. Em certa medida, é possível afirmar que boa parte desse resultado eleitoral positivo decorre de um trabalho político militante consistente.

Mobilização na pandemia

Para Karla Renée, professora e coordenadora do coletivo Diálogo de Resistência, militantes que atuam ao longo do ano, encontram no período das eleições mais um desafio.

Moradora e atuante na cidade de Viamão (onde Lula também venceu nos dois turnos), ela observa que o período de isolamento social dos anos 2020/2021 já havia mobilizado muita gente.

“Na pandemia, veio a resposta de uma parte da população que estava lá militando nas periferias. Associações de moradores, movimento negro, cooperativas, povos de terreiro, as igrejas e outros movimentos garantiram o acesso das famílias à alimentação básica, produtos de higiene e saúde, políticas que eram ausentes no Estado”, relata.

Na sua avaliação, o momento de dificuldade mostrou a consciência política da população da periferia, canalizando sua energia para a disputa eleitoral.

“Com essa memória presente, o povo periférico disse não ao Bolsonaro e aos seus quatro anos de atraso, de ausência de política pública e de mortes.”  

Lucas Gertz, militante do Levante Popular da Juventude, tem avaliação semelhante. Morador da Capital, ele integrou a coordenação da campanha presidencial de Lula no Rio Grande do Sul.

Na sua visão, a juventude, juntamente com a mobilização dos sem-terra, as cozinhas comunitárias e os comitês populares foram os pontos centrais para o resultado obtido em Porto Alegre.

“Trabalho de formiguinha”


Solidariedade foi fundamental na pandemia / Foto: Divulgação

“O nosso desafio sempre foi fazer com que nossas ações não fossem apenas em período eleitoral e que contribuíssem na conscientização”, diz Lucas Gertz.

Além disso, durante as atividades de campanha, ficou claro para ele que o povo tem lembrança das experiências dos governos petistas e das ações de solidariedade.

“Não foi por sorte ou destino que Lula venceu nesses locais, mas por uma história de luta que ainda segue viva na memória das pessoas e por um trabalho de formiguinha que foi retomado ao longo desses últimos seis anos na cidade”, ressalta.

Por fim, ressalta a utilização das edições impressas do Brasil de Fato RS, como uma ferramenta para a disputa de ideias.

“Na eleição, o jornal era necessário porque seu conteúdo saía do convencional. Era um complemento qualificado para nossos mutirões de campanha e caminhadas. Em muitos momentos, quando nos víamos sem material de campanha, foram os jornais que garantiam o diálogo com a cidade. Nas atividades do Levante, ter o jornal era uma regra.”


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Edição: Ayrton Centeno