Distrito Federal

Desigualdade

Pesquisa inédita mostra perfil de população rural no Distrito Federal

Representantes de movimentos sociais do campo comentam sobre ausências de políticas públicas para quem produz alimentos

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Pesquisa inédita deve servir para auxiliar o planejamento de políticas públicas e subsídios relacionados à população do campo no DF.  - Foto: Andre Borges/Agência Brasília

O resultado preliminar da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) Rural 2022 constatou que 58,66% dos moradores de áreas rurais do DF possuem até 39 anos e a maioria é negra. 

De acordo com Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF), responsável pelo levantamento, foram visitados 4.716 domicílios em 208 comunidades rurais, localizadas em 24 Regiões Administrativas do DF. Nos grupos de localidades caracterizados por uso do solo estão:  Agricultura Empresarial, Agricultura Familiar, Assentamentos e área rural com características urbanas. Os resultados foram apresentados no dia 20 de dezembro.

O objetivo, segundo o IPEDF, é conhecer o estrato social, ou seja, as condições socioeconômicas e demográficas das pessoas que vivem e trabalham no campo em Brasília.

Ainda de acordo com o IPEDF, as informações contidas nos resultados preliminares, vão servir para auxiliar o planejamento e tomada de decisões vindas do governo, como formular políticas públicas e subsídios relacionados à população do campo no DF. 

Com análise no perfil sociodemográfico, a população rural do DF é composta por 48,71% feminina e 51,29% masculina. Em relação à raça/cor 54,57% declaram-se pardos, 30,08% brancos, 12,19% pretos, 2,67% amarelos e 0,49% indígenas. No que diz respeito à faixa etária, 21,33% deles têm entre zero e 14 anos; 15,67% de 15 a 24 anos; 21,65% na faixa dos 25 a 39 anos; 29% entre 40 e 59 anos; 10,96% de 60 a 79 anos; e 1,38% com 80 anos ou mais.  

A diretoria da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), por meio da assessoria de comunicação, comentou sobre a importância da pesquisa. “A Contag entende que, mesmo sem participação popular na construção dos dados e da metodologia, a pesquisa é importante e ajudará na formulação e implementação de políticas públicas mais eficientes”.

De acordo com os resultados da PDAD Rural, 79,12% dos domicílios têm acesso a energia elétrica, mas a iluminação pública, só atende 44,54%. Os moradores que têm as ruas asfaltadas representam 21,56% e apenas 32,20% das casas nas áreas rurais são atendidos pela Caesb. Os usuários de poços artesianos ficam entre os 46,66%.

A presidente da Emater-DF, Denise Fonseca, destacou que, por meio do levantamento das famílias rurais e, em parceria com o GDF, a gestão terá maior clareza. “Esse resultado vai balizar o Governo do Distrito Federal na tomada de decisões e criação de políticas públicas voltadas para o povo que vive na área rural".

Invisibilidade

Para o diretor-presidente do IPEDF, Jean Lima, a pesquisa traz luz aos habitantes rurais que estavam na invisibilidade. “Muitos movimentos sociais, assentamentos e produtores não eram contabilizados pela tradicional PDAD e, agora, esses dados podem ajudar a implementar políticas públicas eficazes que cheguem aos que mais precisam”, ressaltou.

Morador do acampamento 8 de Março, localizado na área rural de Planaltina, Adonilton Rodrigues, que integra a coordenação nacional do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), comenta que ainda há muito o que ser feito. "A pesquisa traz os invisíveis para o centro do debate. A gente luta por vários direitos sociais e produz comida para o povo do campo e da cidade mesmo com tantas dificuldades, mas nossos assentamentos e acampamentos não têm internet, energia de qualidade e quase nada de estrutura", desabafa.

Agricultora agroecológica em Samambaia Norte e membro do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Rosângela Piovizani, ressalta que o DF tem um papel muito importante na agricultura, não só por ser o centro administrativo do país, mas  porque existe povo, existe gente que luta nesse território e que têm muitos desafios.

Rosângela cita, como exemplo, a região onde mora, onde foi criado um parque sem consulta à população local e que não é cuidado devidamente e nem protegido. “Criaram o parque em cima da gente, sem consulta, sem audiência pública, esse parque não é cuidado, tem fontes de água importantíssima para as regiões de Samambaia e Ceilândia, mas todo ano sofre depredação, queimadas, é lugar de desmanche de carros, violências contra mulheres e meninas, vários casos ali. Essa questão fundiária e ambiental não estão bem resolvidas para os pequenos agricultores, vivemos uma insegurança jurídica muito grande porque não se tem respeito a quem vive, quem produz alimentos e protege o meio ambiente”, destacou.

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Edição: Flávia Quirino