Rio Grande do Sul

CENSURA

Equipe de TV é agredida em Porto Alegre por manifestantes bolsonaristas 

Episódio aconteceu nesta terça-feira, enquanto os profissionais acompanhavam a desobstrução das vias públicas do Centro

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Dois meses após a vitória de Lula, pequeno grupo de manifestantes ainda se encontra nas mediações do Comando Militar do Sul - Foto: Jorge Leão

O repórter cinematográfico Jocemar Silva, da RDC TV, foi agredido por manifestantes golpistas que ainda permanecem no entorno do Comando Militar do Sul, em Porto Alegre, nesta terça-feira (3). O profissional estava registrando o momento em que as vias ao lado do Comando Militar do Sul eram desobstruídas, quando um grupo de manifestantes, contrários ao resultado das eleições, se aproximou questionando se possuíam autorização para gravar imagens. Ele foi atingido por um tapa no rosto. O agressor foi identificado como sendo o vereador de Nova Santa Rita, na Região Metropolitana, Eliel Alves (PRTB). 

Desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, no fim da eleição presidencial no dia 30 de outubro, eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro que não aceitaram o resultado das eleições acamparam em torno de quartéis do Exército pedindo golpe e o impedimento da posse do candidato vitorioso em todo o país. Em Porto Alegre, o acampamento fica ao lado do Comando Militar do Sul, na Avenida Padre Tomé, Centro Histórico da capital gaúcha, causando transtorno aos moradores do entorno

Mesmo com a determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, no dia 11 de novembro, para que fosse feita a imediata desobstrução das vias públicas bloqueadas, um grupo considerável de pessoas se mantinha no lugar. No dia 1º de janeiro, com a posse oficial de Lula, o acampamento bolsonarista montado há quase dois meses na região foi desmontado, restando um pequeno contingente na região. 

Esse grupo interpelou a equipe da emissora, resultando na agressão do cinegrafista. Em nota, a RDC TV destaca que não é preciso de qualquer tipo de liberação para realizar o trabalho jornalístico em via pública. “Nossos repórteres ainda tentaram argumentar, mas um dos manifestantes não aceitou os argumentos e agrediu o repórter cinematográfico Jocemar Silva”, expôs a emissora, explicando que a equipe solicitou o apoio da Brigada Militar e foi atendida pelo 9º BPM, com a presença de seu comandante, Tenente-Coronel Schimdt. 


Os profissionais foram à 1ª Delegacia de Polícia onde apresentaram todas as imagens. O agressor foi identificado como sendo o vereador de Nova Santa Rita, na Região Metropolitana, Eliel Alves (PRTB). Para a imprensa, o parlamentar disse que se arrepende e pede desculpas à vítima. “Não tenho conduta violenta, apesar do acontecido. Não vou negar que fui eu, pois não sou esse tipo de pessoa. O que aconteceu ali foram os ânimos aflorados. Houve uma discussão antes, eu acabei perdendo a razão e acabei agredindo ele com um tapa, não foi um soco, mas não importa, foi uma agressão e me arrependo muito. (...) Como já aconteceu, o máximo que posso fazer é pedir desculpas para o rapaz. (...) Não justifica o que fiz, reconheço que errei e quero me retratar”, afirmou. 

Em nota divulgada nesta quarta (4), o presidente da Câmara Municipal de Nova Santa Rita, Rodrigo de Oliveira Aveiro, disse que a atitude do vereador é incompatível com os valores da Casa e que os procedimentos específicos em relação ao caso serão averiguados.


Presidente da Câmara Municipal de Nova Santa Rita lançou nota nesta quarta / Reprodução

Na nota emitida pela RDC TV, a empresa lamenta profundamente que ataques à imprensa sigam acontecendo. “A tentativa de cerceamento ao trabalho da imprensa é, em si, um atentado contra a democracia. Assim como já aconteceu há poucos meses, a emissora reafirma seu compromisso com o jornalismo e jamais cederá a qualquer tipo de coação”, destacou a empresa”.

Sindicatos e entidades destacam os ataques à imprensa 

Entidades das categorias de jornalistas e radialistas assinaram nota conjunta onde repudiam veementemente a agressão sofrida pelos profissionais da RDC TV.O texto destaca também as agressões sofridas por jornalistas nos últimos meses. “De acordo com o monitoramento feito pela Fenaj, em parceria com a Abraji, de 30/10/22 a 01/01/23 já foram registrados 70 casos de agressão física, ofensas, assédio digital, entre outras modalidades de ataques a jornalistas. A maioria deles partiu dos grupos antidemocráticos que, mesmo depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda não se retiraram do entorno de quartéis do Exército. Dos 70 ataques, 65 ocorreram na cobertura dos acampamentos e bloqueios de rodovias, que foram considerados ilegais e golpistas pelo Supremo Tribunal Federal (STF)”, expõe. 

Ainda de acordo com a nota, no caso do RS, no final de 2022 foram registradas denúncias de assédio moral contra colegas da Rádio Guaíba e violência nas coberturas jornalísticas das manifestações contrárias ao resultado eleitoral 

A nota é assinada pelo Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul – SindJoRS, Federação Nacional de Jornalistas – Fenaj, Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado – Arfoc/RS, Sindicato dos Radialistas do Rio Grande do Sul e Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Porto Alegre – STIGPOA. 

Abaixo a nota completa 

Há três dias do início do novo ano, já recebemos a informação de agressão à equipe da RDC TV em pleno exercício profissional, no centro de Porto Alegre, por manifestantes contrários ao resultado das eleições. A reportagem registrava o momento em que as vias ao lado do Comando Militar do Sul eram desobstruídas, quando uma pessoa se aproximou, questionando se a equipe tinha autorização para gravar imagens.
 
Sem precisar de qualquer tipo de liberação para realizar o trabalho jornalístico em via pública, os repórteres ainda tentaram argumentar, mas um dos manifestantes não aceitou os argumentos e agrediu o repórter cinematográfico Jocemar Silva. A equipe solicitou o apoio da Brigada Militar, e foi atendida pelo 9º BPM, inclusive com a presença de seu comandante, Tenente-Coronel Schimdt.
 
Acompanhados pelos policiais militares, os profissionais foram à 1ª Delegacia de Polícia onde apresentaram todas as imagens, inclusive do criminoso, que segundo informações, é vereador de Nova Santa Rita. De acordo com o monitoramento feito pela Fenaj, em parceria com a Abraji, de 30/10/22 a 01/01/23 já foram registrados 70 casos de agressão física, ofensas, assédio digital, entre outras modalidades de ataques a jornalistas. A maioria deles partiu dos grupos antidemocráticos que, mesmo depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda não se retiraram do entorno de quartéis do Exército. Dos 70 ataques, 65 ocorreram na cobertura dos acampamentos e bloqueios de rodovias, que foram considerados ilegais e golpistas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
 
Acabamos o ano de 2022 com denúncias de assédio moral contra colegas da Rádio Guaíba e violência nas coberturas jornalísticas das manifestações contrárias ao resultado eleitoral. As entidades sindicais, que já tinham solicitado maior segurança ao exercício do trabalho dos profissionais, receberam do gabinete do então governador do Estado, Ranolfo Vieira Junior, no dia 3 de novembro, a garantia de que policiais militares estariam acompanhando os trabalhos de cobertura jornalística nos atos antidemocráticos contra o resultado das eleições presidenciais.
 
O ex-governador disse, ainda, que, ao tomar conhecimento dos graves fatos dos quais foram vítimas equipes de veículos de comunicação, nos últimos dias, determinou “providências imediatas com a identificação das autorias e consequente responsabilização na forma legal”. Ele destacou, também, não admitir nenhum ato de violência ou quebra da ordem ou dos princípios democráticos.
 
Salientamos que é muito importante a comunicação deste tipo de violência para criarmos mecanismos legais de mapeamento destas ações para coibir definitivamente este tipo de prática. É inadmissível a tentativa de cercear o trabalho das e dos colegas da imprensa e muito menos a liberdade de expressão para noticiar a verdade em um claro atentado contra a democracia conquistada pelo voto nas urnas.
 
O Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul – SindJoRS, a Federação Nacional de Jornalistas – Fenaj, a Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado – Arfoc/RS, o Sindicato dos Radialistas do Rio Grande do Sul e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Porto Alegre – STIGPOA repudiam veementemente o fato de que profissionais da comunicação, da RDC TV, foram agredidos e que tiveram o seu equipamento danificado no terceiro dia do ano de 2023 e, também, prestam sua solidariedade a estes colegas.

* Com informações do G1


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Edição: Katia Marko