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São João não se vende!

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"A cultura precisa ser bem cuidada. O São João é da cultura popular e não pode ser vendido para quem paga mais!" - Elvis Edson/Prefeitura de Caruaru
Caruaru, que carrega o título de maior São João, traz mais um desrespeito: A camarotização do espaço

O ciclo junino do nosso estado traz historicamente diversos desafios. É cachê em valor altíssimo para gêneros musicais que não são tradicionais das festas juninas, é pouca valorização para os artistas locais que construíram o São João ser o que é hoje, é atração que deveria tocar em palco principal e está na programação coadjuvante da festividade. Mas, uma coisa é certa: São João é festa do povo, da tradição e da colheita.  

Como boa filha de Caruaru, adoro as festas juninas e já fiz diversas visitas a artistas muito importantes para o nosso São João. Começando por Seu João do Pife, que completou 80 anos esta semana e que tem pouco - para não dizer nada - incentivo e também valorização não só de Seu João, mas, da geração de tocadores e tocadoras de pífano de Caruaru, na festa.

Na última semana, nosso mandato, juntamente com a Comissão de Educação e Cultura da ALEPE fizemos uma audiência pública para ouvirmos a classe artística das cidades de Caruaru, Gravatá e Arcoverde sobre os processos de construção das suas festas de São João. Os grupos que falaram, no Salão Nobre da Câmara de Vereadores de Caruaru, destacaram as dificuldades desde a estrutura para se apresentarem até o recebimento dos cachês. Muitos nos contaram que falta estrutura para receber as agremiações nos arraiais, às vezes não têm sequer cobertura nos espaços em plena temporada de chuva, e a qualidade do som para suas apresentações, deixa a desejar. 

E o que me deixou mais triste, é que agora Caruaru, que carrega o título de maior São João, traz mais um desrespeito: A camarotização do espaço público. 

Tem gente que viaja de todo canto do estado, gente que é daqui de Caruaru e não consegue aproveitar a festa, porque uma parte do espaço público está reservado para quem paga. Estamos falando de quase metade da frente do palco sendo destinada ao lucro de empresas privadas. Ao que nos consta, a prefeitura vendeu 25% do espaço público do Pátio de Eventos para a iniciativa privada fazer uma espécie de camarote. O que compromete cerca de metade da frente do palco destinado a quem pode pagar ingresso. Em uma festa que não só é do povo, mas construída pelo município com apoio do estado.

Segundo a denúncia que faz parte de um processo judicial na 2ª Vara de Caruaru, para termos uma ideia, essa parte do espaço público foi vendida por R$200.000,00, que virou um camarote com capacidade estimada de 10 mil pessoas. Cada ingresso foi vendido inicialmente por R$120,00. Multiplicando isso por 17 dias de evento, o lucro chega a um valor aproximado de 20 milhões de reais. Fora o faturamento de bebidas e alimentação dentro do camarote. Enquanto isso, mestres da cultura popular, grupos artísticos, músicos, bailarinos, roadies e produtores têm sofrido com o silêncio imposto pela prefeitura, falta de condições para suas apresentações e com um prazo para receber seus cachês até agosto.

Esse processo de camarotização é bem conhecido.Tem tomado conta das nossas festas, das nossas tradições e segregando o nosso povo. É só mais uma ferramenta da elitização do acesso à cultura, que não faz nenhum sentido dentro da explosão do que é festa do povo, com povo participando, artistas valorizados e gente feliz. A cultura precisa ser bem cuidada. O São João é da cultura popular e não pode ser vendido para quem paga mais!

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga